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Que é mais importante: ser culto ou ser rico?

Valquíria Aparecida Pontes
| Tempo de leitura: 2 min

A pessoa culta tem as suas próprias ideias ? ainda que baseadas nas ideias de outras pessoas. O erudito sabe defender seu conhecimento, sabe debatê-lo com a sociedade. Isto demonstra o saber que adquiriu vivenciando aquilo que acredita. Tal atitude torna essas pessoas mais preocupadas com o amanhã, com o futuro, não só dos seus, mas de todas as pessoas. Esta é a atitude da pessoa culta, por isso normalmente confundimos erudição com sabedoria. Quando deixamos de expor e debater o que pensamos, passamos a viver uma das características burguesas: conseguir as coisas de modo fácil. Até mesmo a felicidade, para os ricos (de berço), é coisa comprável. Por isso a discussão, o debate, a luta de ideias é coisa que, ao rico, parece tão inútil ? diferentemente do que parece à pessoa culta. Uma virtude básica, vivida pelo erudito e, habitualmente, pelo rico não, é a partilha. O conhecimento, tal como os bens materiais, também pode (e deve) ser bem dividido socialmente. A partilha não é só com a família, mas com a sociedade como um todo.

A pessoa rica, com suas preocupações com segurança para si e para sua casa, procura manter equilibrada a sua vida financeira ? o que sempre gera muito trabalho. Os ricos precisam dessa estabilidade, precisam lutar para que suas contas bancárias continuem sempre cheias, e isso leva-os, normalmente, a só procurarem atividades ?úteis?, que gere lucros, pois só assim é que poderão manter seu status de superioridade social. É uma luta vã.

O apreço pelo homem culto deve ser maior que a homenagem que a sociedade presta ao homem rico. Pois os ricos, habitualmente, só respeitam seus pares, só respeitam aqueles que lhe são semelhantes (em dinheiro). Por outro lado, os ricos culturalmente costumam reconhecer o valor das pessoas, de todas elas. A pessoa erudita, mesmo que pobre, alcança uma invejável estabilidade emocional e familiar. Pelo menos é mais fácil a um sábio chegar a isso que a um ganancioso.

Por isso, na contramão dos ricos: feliz dos homens que têm tempo para as prioridades da vida, ou seja, vida familiar, brincadeira, sorrisos, paixões, amor... A pessoa culta, que procura estudar os mistérios da vida, tem mais facilidade de ser controlado em sua ansiedade, pois aprendeu a viver um dia de cada vez ? ao contrário do rico, que só vive pelo futuro, pelo amanhã, pelas aquisições, pela poupança, pelo ?ter?.

Enfim, a liberdade que o homem sábio goza é uma possibilidade desconhecida dos homens de negócio, pois a pessoa culta não necessita estar sempre em evidência, ela se permite errar, pois sabe que esta é a condição humana. Ao contrário do homem rico que, facilmente, se torna escravo de sua própria vaidade e orgulho. Por isso, entre buscar a erudição que não enriquece e a ganância que escraviza, é simples concluir que os sábios são mais realizados que os bilionários.

A autora, Valquíria Aparecida Pontes, é bacharel em Ciências Contábeis e aposentada pela Secretaria da Fazenda

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