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Veterinários viram verdadeiros 'médicos da família'

Ricardo Santana
| Tempo de leitura: 12 min

Renata Marconi

Veterinários, cujo dia é comemorado hoje, viram verdadeiros “médicos da família” com uma dedicação que extrapola o cuidado aos bichos de estimação, como faz Ana Lúcia Geraldi (na foto, em Bauru, com o irmão Luiz Antônio, dono das cadelas Cloé, Dominique e Martina, da raça galgo whippet)

Com os animais integrando a família, o médico veterinário é responsável atualmente pela qualidade de vida de todos em torno do bicho de estimação. O hábito das famílias é tratar o cachorro, gato, papagaio, coelho, tartaruga como a um ente muito querido. Dependendo da relação, até mais do que um parente.

O animal tem acesso irrestrito a casa como outro membro qualquer da família. Dorme na cama, tem seu cantinho, toma conta do sofá e não vive mais isolado em um quintal. Acabou a noção de animal de rua.

A coordenadora da Clínica Veterinária da Unip, a médica veterinária Silvia Helena Pereira Vergili Sgarbosa, ressalta que o veterinário passou a ser o médico da família. Segundo Silvia, o profissional integra o contexto de quem cuida da família. “Se o animal não está bem, a família não está bem. Cabe a nós veterinários solucionarmos esses problemas”, define.

Neste domingo comemora-se o Dia do Veterinário, importante profissional da área médica que cuida dos animais e também orienta com paciência os donos dos bichos de estimação.

A médica veterinária Ana Lúcia Geraldi, 39 anos, comenta que, antigamente, o tratamento para os animais era com remédios caseiros e muito precários.  Ana ressalta que essa realidade era da época dos pais dela. Atualmente, os animais utilizam as mesmas tecnologias disponíveis aos seus donos – ultrassom, tomografia computadorizada entre outros recursos –, fisioterapia e acupuntura.  Ela comenta que as pessoas mudaram a visão que tem do bicho de estimação com o avanço do conceito de posse responsável e a grita geral contra os maus-tratos a animais. Ana Lúcia avalia que a passagem de animal de estimação para membro ativo da família representa também um aumento de 8 para 15 anos na expectativa média de vida dos animais – cães e gatos. A médica veterinária cita que ter um animal em um apartamento tornou-se natural, inclusive com o mercado de alimentos pets desenvolvendo uma infinidade de produtos. Ana Lúcia cita a ração in door, própria para apartamento e que neutraliza o odor das fezes dos bichos. A médica veterinária destaca que também a castração passou a ser vista de maneira mais tranquila, como prática de preservação do animal.  

O irmão dela, Luiz Antonio Geraldi mantém uma relação especial com seus cachorros, três fêmeas da raça galgo whippet. Dominique, de cerca de 10 anos, pode-se dizer foi um resgate. Ela era animal de exposição e fascinou Luiz que já estava interessado na raça galgo whippet. Luiz foi insistente até descobrir que Dominique estava à venda. Entrou no carro e foi até Londrina (PR) buscar Dominique. A fêmea gerou dois filhotes lindos.

A família estava completa com o casal de galgo whippet. Certo dia Luiz saiu para ir ao supermercado convicto de que não haveria problema em deixar os filhotes irrequietos por algum tempo. A piscina foi blindada com uma rede e outros obstáculos para afastar os filhotes.

Luiz retornou e de pronto percebeu algo diferente na casa. Saltou na piscina de roupa, calçado, carteira e celular nos bolso, mas já era tarde. O filhote macho havia morrido e desta vez não deu. Acostumado a resgatar uma infinidade de cães junto com a irmã, a médica veterinária Ana Lúcia Geraldi, restou a lembrança do rápido convívio com um filhote muito esperto. A morte do animal não foi descuido dos donos, mas excesso de esperteza do curioso filhote. Posteriormente, chegou Martina para completar o trio de galgo whippet que é tratado por Luiz e sua esposa como filhos. Luiz conta que ganhou Martina de uma amiga.

 

Poodle demite empregada

Luiz já teve diversos cachorros. Um inesquecível foi um poodle que repentinamente desapareceu. A perda do cachorro fez Luiz tomar uma decisão dura. Ele demitiu sumariamente sua empregada. Ele conta que a família sempre teve o maior cuidado com portas, porque um animal de raça e bem cuidado é uma preza fácil sozinho na rua. O risco de alguém se encantar pelo bicho e levá-lo sempre existe, além de outros perigos.

Apesar das recomendações e dos cuidados, a empregada bobeou e o poodle saiu de casa. Se a relação de patrão e empregada tinha alguma diferença, o sumiço do cachorro bastou para Luiz dispensar os serviços da mulher.  A irmã de Luiz, a médica veterinária Ana Lúcia Geraldi avalia que o irmão aceita muita coisa, menos que maltratem suas cachorras.  

 

Vira-lata

Zulu, um cachorro vira-lata modificou a vida na casa do casal Ana Lúcia Geraldi e Camilo de Moraes Diegues. Ela é veterinária e tem uma clínica na quadra 11 da rua Monsenhor Claro, nas proximidades de sua residência. O casal tinha um coelho e cinco cadelas todas adotadas, a maioria em condição de maus-tratos. A preferência sempre foi por fêmeas. Acontece que Zulu chegou e bagunçou.

Certo dia, Ana cruzava a avenida Rodrigues Alves e topou com Zulu. Como de costume, abriu a porta e levou o cachorro para sua clínica, na época no Jardim Bela Vista. Cuidou do vira-lata e colocou mensagens nas redes sociais da Internet em busca do dono ou de alguém interessado em adotar Zulu. Uma pessoa apareceu e levou o vira-lata para o Parque Santa Edwirges a pé. Três horas depois, Zulu havia voltado para a clínica. Ana resolveu adotá-lo apesar da regra em sua casa aceitar apenas fêmeas.

Atualmente, Zulu vive em um harém com as cinco cachorras. Basta Camilo sair para trabalhar e Zulu toma conta do travesseiro do dono da casa. “O bicho é folgado. Mas é muito esperto”, comenta Ana. Camilo também aprova o novo membro da família.

 

Cada bicho em seu lugar

A solução para o veterinário não entrar em conflito com o dono de animal por hábitos não recomendáveis é o tratamento individualizado. A médica veterinária Silvia Helena Pereira Vergili Sgarbosa, coordenadora da Clínica Veterinária da Unip, avalia que, atualmente, prevalece o respeito à maneira do dono do animal tratar seu bicho de estimação como um familiar, desde que os hábitos humanos não coloquem em risco a saúde do bicho de estimação. 

Conforme Silvia, o foco do profissional permanece sendo o animal irracional. A mudança é na abordagem do veterinário com sensibilidade para entender o dono, que nem sempre articula de forma racional o jeito de lidar com os bichos. Assim, os novos profissionais da veterinária tratam cada família com uma atenção personalizada.

O veterinário tem que estar seguro de que o proprietário do bicho irá cumprir as orientações médicas para executar a rotina do tratamento. Também especula se as condições familiares vão propiciar os cuidados com o animal, como administrar remédios em dosagem e no tempo certo e se há alguém constantemente cuidando do animal doente. Ou seja, não basta informar que o bicho necessita tomar remédio.

Silvia esclarece que os profissionais incorporam ao dia a dia a realidade de que os animais passaram a integrar o grupo familiar. No entanto, o médico veterinário deve alertar aos proprietários dos riscos de alguns hábitos que podem ser nocivos à saúde do bicho.

A professora e médica veterinária veta determinadas práticas típicas dos seres humanos da família, porém inadequadas para a saúde dos animais. Ela exemplifica com o hábito do consumo de iogurte após as refeições e pizza no final de semana.

 

Mundo pet

O universo de produtos com a chancela “pet” só cresce e colocou na lista de compras da família os mimos dos animais de estimação. De rações específicas, o mercado para animais de estimação explodiu na última década. Os bichos têm uma sessão específica em qualquer supermercado de médio porte.

Nas prateleiras há uma variedade imensa de alimentos, suplementos e petiscos. Brinquedos aquecem a relação dono-bicho de estimação.  Os pet shops já estão em toda parte de Bauru com serviços de higiene, tosa e embelezamento dos animais, conjugado com boutiques para gatos e cachorros principalmente.

Há de tudo na moda pet. Na sessão cama, mesa, banho e móveis também não faltam novidades. 

Os serviços estão em expansão, com hotel e canis. Na rua Itacuruçá, no Parque São João,  com grande movimento do comércio na Vila Industrial, uma clínica oferece serviço de psicologia canina, confirmando a força do segmento pet que só cresce.


O ‘gato-cachorro’ do Higienópolis

A bancária Mariana Turtelli Roque, 37 anos, e seu esposo o jornalista Thiago Renato Roque, 33 anos, não vivem sem Eddie. “Brinco que o Eddie é meu relacionamento mais longo”, comenta Thiago. Já se vão 11 anos desde que o jornalista foi presenteado por sua amiga Juliana com um gato macho. A preferência era por uma fêmea, porém Eddie conquistou Thiago. Mariana convive com o gato vira-lata Eddie há dois anos.

Thiago conta que o gato nasceu em uma fábrica que ficava em frente à casa de Juliana, em Araçatuba. O jornalista define que Eddie é um gato-cachorro, principalmente, no trato com Mariana. Segundo Thiago, sua esposa chega e Eddie está postado na porta aguardando a dona, hábito típico de cães. Na hora que Mariana vai dormir, o gato vai junto. “É extremamente amoroso, de nos acordar de manhã com lambida no nariz para ganhar ração”, acrescenta.

Há cerca de duas semanas Eddie sumiu. Mariana e Thiago souberam de pronto que o gato havia desaparecido ao chegarem em casa sem a costumeira recepção de Eddie. “Abrimos a porta e ele não veio. Mariana chamou e ele não respondeu. Começamos a procurar e não o achamos”, relembra Thiago.

Eddie sempre foi um gato de apartamento.  O casal reside em uma casa há um ano e Eddie fugiu por um portão lateral que dá acesso ao telhado da residência. A preocupação aumentou porque, até então, o bichano não havia saído de casa, portanto a vizinhança era um território desconhecido.

O casal cruzou o bairro em busca do gato no dia de seu desaparecimento. “Mariana chorou muito, mas nunca deixou de acreditar no retorno do Eddie. Eu confesso que, depois de 10 dias, estava um tanto desacreditado, apesar de não parar de procurar por ele. No sábado anterior ao retorno do gatinho, passei a madrugada toda andando pelo bairro, chamando por ele”, relembra o dono. 

Foram 16 dias com o gato sumido. O casal iniciou uma “campanha” para reaver Eddie. Cartazes foram espalhados em postes na região do Higienópolis. Eddie foi parar no Facebook e sites que divulgam animais desaparecidos. Os donos também anunciaram nos classificados do JC o desaparecimento do bicho de estimação. Thiago conta que o anúncio rendeu várias ligações de pessoas se prontificando a doar um outro gato para o casal.

Na manhã da segunda-feira passada, uma vizinha acabou com o sufoco do casal. “Ela veio até nossa porta dizer que um gatinho de olhos azuis estava parado em seu jardim, assustado. Mariana correu até lá e viu que era o Eddie que tentava voltar para casa”, explica Thiago.

Eddie está ainda mais companheiro depois de passar dias sem os donos e longe de casa. Segundo Thiago, ele e o gato são muito afinados. Com Mariana os laços se fortaleceram ainda mais, com Eddie não desgrudando de sua dona. Thiago conta que se a esposa está na cozinha, o gato fica de olho em Mariana. Dorme com ela e pede carinho quando o casal assisti à TV. “Eddie acompanha Mariana até no banho. Agora, depois do acontecido, ele está ainda mais carente e companheiro”, define o dono.

A relação entre o casal e o gato é bastante intensa. Thiago conta que, apesar dos 11 anos de relacionamento com Eddie, o bichano tende para Mariana. Conforme o jornalista, Eddie chegou a lhe morder pensando que as cócegas que fazia em Mariana machucavam sua dona. “Em casa, brinco que ele é puxa-saco da patroa. A Mariana chega a gritar pelo gato quando faço ameaças neste sentido e o gato aparece, olhando feio pra mim. É incrível”, comenta.

Mariana revela que Eddie curte o som da banda Ultraje a Rigor. Eddie já morou em Bauru, Jundiaí e São Paulo seguindo o roteiro de trabalho de Thiago. Nessas idas e vindas, a dupla  vivenciou aventuras graças às peripécias de Eddie. No período em Judiaí, Thiago morava em um apê no térreo, condição que facilitou a fuga do bichano pela janela da cozinha que dava de muro com o vizinho. “Lá vou eu, de cueca, buscar o gato no muro”, comenta Thiago. Em São Paulo, no momento mais tenso até então, Eddie caiu do terceiro andar. “Lá vou eu, de bermuda de pijama, camiseta dos Beatles e descalço levar o gato para o veterinário. Detalhe: na queda, ele só quebrou uma unha”, relembra o jornalista.

 

Quem é o médico do meu bicho?

O médico veterinário estuda cinco anos medicina veterinária em um curso de graduação para ser um especialista com diversas competências e com conhecimento de animais de todos os portes.

A coordenadora do curso de Veterinária da Universidade Paulista (Unip) em Bauru, Silvia Helena Sgarbosa, conta que cresce a demanda pelo profissional médico veterinário. O curso em Bauru começou em 2004 e já formou quatro turmas. Atualmente, as novas salas estão com cerca de 60 alunos cada.

O profissional médico veterinário tem diversas opções na carreira. Um médico veterinário pode atuar, além de clínicas, na inspeção de alimentos de origem animal, de frigoríficos e de laticínios. Trabalha na vigilância sanitária, órgão constituído pelo poder público. Em órgãos públicos, como a Polícia Federal (PF). Na área de segurança pública, o médico veterinário atua no canil e na cavalaria. Além de coordenar o curso, Silvia coordena a Clínica Veterinária da Unip.

 

Melhor amigo do cão

O dono de um animal é seu melhor e também seu pior amigo. O compartilhamento dos mesmos ambientes domésticos também é fator que determina a abordagem médico-paciente-proprietário.

A médica veterinária Silvia Sgarbosa alerta as pessoas que animais criados dentro de casa exigem maior atenção. Ela cita que excesso de banhos retiram a proteção natural do animal, como cachorros e gatos. A médica veterinária frisa que dois a três banhos por semana podem trazer prejuízo ao animal.

Os cuidados básicos com o animal são com a vacinação e vermifugação. O ambiente também precisa ter uma higienização constante.


Por que é importante?

Os animais de estimação ganharam muita importância no relacionamento familiar. Também são ótimas companhias para crianças e idosos.

A presença de animais na convivência não pode inverter as prioridades das pessoas, que necessitam estabelecer laços de afetividade equilibrados também com os animais e reconhecer suas necessidades específicas. 

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