Ele queria ser atleta quando criança e a mãe queria que ele estudasse. Com dedicação e paixão pelas duas áreas, Carlos Eduardo Cury se destacou tanto na carreira médica quanto no esporte.
Casado há 39 anos, ele tem quatro filhos e sete netos. O apaixonado pela família foi o primeiro médico reumatologista do Interior de São Paulo e já atendeu mais de 47 mil pacientes em 42 anos de profissão. No tênis desde 1957, ele esteve entre uma das mais importantes equipes de tênis bauruense, a heptacampeã dos Jogos Abertos de 1960.
Membro ativo do Bauru Tênis Clube (BTC) e do Rotary Clube, entre as muitas participações em associações médicas, o entrevistado de hoje é membro da Academia Brasileira de Reumatologia.
Entre as superações, ele sobreviveu a dois acidentes de carro, um deles o levou ao coma. Boêmio assumido, Carlos Eduardo acredita que a fonte de sua disposição para a vida está na alimentação saudável, esporte e controle emocional. “Para você ter ideia, eu nado todos os dias às 6h30, faça calor ou frio”. Leia esta e outras histórias a seguir.
Jornal da Cidade - O senhor encontrou a medicina ou ela o encontrou?
Carlos Eduardo Cury - Eu era maluco por esportes e por futebol, tanto é que quando eu estudei em Uberaba eu fui jogador profissional, fui ponta esquerda do Nacional de Uberaba. Pois bem, meu sonho, como o de qualquer garoto da época, era ser jogador de futebol. Minha mãe era professora e queria que eu fizesse faculdade. E quando aluno do Ernesto Monte, eu assisti uma palestra sobre cirurgias cardíacas do médico Arnaldo Prado Curvêllo, que dá nome ao Hospital Estadual de Bauru, e achei tudo muito bacana. Disse para minha mãe que faria medicina.
JC - Foi então que foi para Minas Gerais?
Carlos Eduardo - Saí de Bauru com 16 anos, porque aqui não havia cursinho, e fui fazer o terceiro colegial e o cursinho em Ribeirão Preto. Logo depois entrei para a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Lá, destaquei-me em um jogo por um “torneio dos bixos” e um cara me convidou para jogar no time dele. Quando eu vi já estava jogando no Nacional de Uberaba. Joguei durante toda a faculdade sem minha mãe saber. Ela só descobriu quando eu quebrei a perna (risos).
JC - E quando começou essa sua paixão pelo esporte?
Carlos Eduardo - Jogo tênis desde os 13 anos de idade e futebol desde que me conheço por gente. Ganhei muitos torneios de futebol e tênis. Tenho cerca de 300 títulos. Eu fui campeão brasileiro universitário de tênis, além de ter feito parte da equipe bauruense heptacampeã dos Jogos Abertos do Interior, em 1960, ao lado de Roberto Cardoso, Cláudio Sacomandi, Vivaldi Joaquim (diretor), Nelson Sperb e Rubens Rocha. Depois ganhei em 1961 e em 1968, isso já com pouco mais de 30 anos de idade.
JC - Foi um garoto “levado” (risos)?
Carlos Eduardo - Muito (risos). A gente jogava futebol nas ruas e nos campinhos espalhados por todos os cantos da cidade. Era esporte para todo lado, até matava aulas para jogar bola. Nadava no rio Bauru quando a água ainda era limpa e cristalina. Nasci em uma Bauru de 30 mil habitantes. Eu me equilibrava no muro fininho que tem no viaduto da Araújo Leite. Hoje passo por lá, vejo os trilhos do trem e lembro-me dessa fase. Dá até um frio na barriga (risos). A gente via o Pelé jogar, aquela época foi um celeiro de talentos do esporte bauruense. Mas eu também trabalhava. Comecei a trabalhar com 12 anos. Até os 14 eu pegava esterco dos cavalos que andavam livremente ou em charretes pelas ruas e vendia para jardineiros. Vendia jornais para açougues e trabalhava como empacotador para o meu pai que tinha uma firma de representações. A molecada de antigamente era assim.
JC - E voltou a Bauru assim que terminou a faculdade?
Carlos Eduardo - Não. Fiquei até o quinto ano em Uberaba, mas a faculdade ainda não era o que é hoje. Bem, fiz o sexto ano na Escola Paulista de Medicina, onde terminei o curso. Já a minha residência foi feita no Hospital do Servidor Público Estadual, e depois vim para o Interior como professor da Faculdade de Medicina de Botucatu. Eu fui o primeiro reumatologista do Interior de São Paulo e o primeiro professor da área na faculdade de Botucatu. Pouco tempo depois eu voltei para Bauru. Entrei na Beneficência Portuguesa, no Hospital de Base e também para a política médica, fui diretor científico da Associação Paulista de Medicina por muitos anos, onde ocupei vários cargos como a presidência, por exemplo.
JC - O senhor também participa ativamente de clubes como o Bauru Tênis Clube (BTC) e o Rotary Clube, certo?
Carlos Eduardo - Sim, há muito tempo. Sou conselheiro vitalício do BTC e rotariano desde 1974. Já ocupei vários cargos nos dois clubes. No Rotary já fui presidente por três vezes e trabalhei muito pela Legião Mirim de Bauru.
JC - Fale um pouco sobre a sua atuação como médico do Noroeste e da Seleção Brasileira de Baquete Feminino.
Carlos Eduardo - Fui médico da Seleção Brasileira de Baquete Feminino na era do Barbosa, durante três anos. Além disso, sou noroestino fanático. Eu vejo jogos desde os 7 anos de idade. Eu estava lá quando pegou fogo no campo (risos). E também fui médico do Noroeste durante muitos anos, praticamente toda a década de 70. Era um apaixonado pelo time, um timaço da época. Ainda sou apaixonado, mas a gente entende que as coisas mudaram e que o futebol, hoje, é mais empresarial. Ganhei várias vezes o “Troféu Ligado” e, no próximo dia 17, serei homenageado como um notável do esporte, por ter sido médico do Noroeste e da Seleção, entre outros feitos. Algo que representa muito para mim.
JC - Chegou onde queria com a medicina?
Carlos Eduardo - Fui por quatro anos presidente da Assembleia dos Delegados da Associação Paulista de Medicina. Tenho muitos artigos e trabalhos de nível nacional e internacional publicados. Somente no consultório eu já atendi mais de 47 mil pacientes, em 42 anos de profissão. Frequento congressos internacionais desde a década de 70. Já dei aulas e apresentei trabalhos e pesquisas nesses eventos. Tive participação ativa em diversas associações médicas. Ainda estou muito ativo nessa área e acredito que cheguei ao topo. Hoje eu sou membro da Academia Brasileira de Reumatologia, onde estão os notáveis da área, e estou muito feliz com essa realização.
JC - Quais foram as suas maiores lutas dentro da política médica?
Carlos Eduardo - A maior eficiência na qualidade de formação profissional foi uma das lutas. Sempre lutamos contra a abertura de faculdades de medicina aleatoriamente. Uma grande falha do atual governo foi autorizar novas vagas para essas faculdades nas “coxas”, sem estrutura, diferente do que a gente sempre pleiteou para Bauru. Houve até uma época em que as pessoas disseram que os médicos eram contra a faculdade de medicina em Bauru. Não era isso, éramos contra o curso ser feito de qualquer jeito. Lutamos por uma coisa feita descentemente, como está sendo feito agora. O aluno precisa de um hospital para fazer treinamento. Hoje, o Brasil tem cidades com curso de medicina sem hospital escola, e são faculdades federais. É uma desorganização total, o Brasil precisa ter mais planejamento. Então a gente brigava para que as escolas médicas fossem criadas, mas com infraestrutura, além de lutar por melhoria nas escolas já existentes, melhor capacitação, treinamento e remuneração adequada para médicos e profissionais da medicina.
JC - Comente o exposto na “nota zero” do perfil.
Carlos Eduardo - A minha grande mágoa é com os que tiveram o poder nas mãos e não deram uma diretriz e um planejamento para o Brasil. São coisas que vão deixando a gente chateado. Hoje, o governo quer mão de obra barata. Sem generalizar, há muita gente no serviço público de saúde que finge trabalhar enquanto o governo finge que paga. Eu tenho grandes ideias para a saúde de Bauru, mas isso depende de vontade política. Veja o que aconteceu com o Hospital de Base, por exemplo, está sucateado. E eu não culpo só a administração deposta. Ela tem a sua parcela de culpa, sim, mas ela está sendo um dos grandes bodes expiatórios. Como gerenciar um hospital que atende uma região enorme sem financiamento? É por isso que eu sou altamente favorável que os jovens peguem o poder com mentalidade nova.
JC - Já superou grandes desafios?
Carlos Eduardo - Desafios a gente sempre tem. Eu tenho uma história triste. Eu estourei uma perna e tenho uma prótese no joelho esquerdo por causa de um atropelamento que sofri quando tinha 56 anos. Eu parei o carro para ajudar uma pessoa que havia capotado o carro na descida da Anchieta, quando outro carro veio e me prensou contra o automóvel da frente. Fiquei cinco dias em estado de coma e quase perdi uma perna. Voltei a jogar, levei uma queda no escritório, estourei os pinos e precisei colocar uma prótese no joelho. Esse foi um dos acidentes, sofri outro na Bauru/Botucatu quando uma vaca entrou na pista e quase provocou uma tragédia. Por sorte, ela entrou do lado do passageiro e ninguém estava comigo. Também tive um outro episódio triste. A casa em que vivíamos na avenida Getúlio Vargas pegou fogo na década de 80 e destruiu boa parte de nossas lembranças.
JC - A aposentadoria já passou por sua cabeça?
Carlos Eduardo - Parar com a medicina e com o esporte está totalmente fora de cogitação. Parar com minhas noitadas também não está no roteiro (risos).
JC - Então o senhor é um baladeiro (risos)?
Carlos Eduardo - Eu adoro a noite. Minha rotina de trabalho termina por volta das 22h, pego a minha mulher e saímos. Vamos para o Alameda, Templo, Armazém, Luna Bar... Adoro música e isso em qualquer dia da semana. As pessoas costumam me perguntar de onde vem o tempo e a disposição para fazer tanta coisa. Tudo vem da minha alimentação saudável, esporte e controle emocional. Para você ter ideia, eu nado todos os dias às 6h30, faça calor ou frio.