Ela estudou História e Pedagogia, tem licenciatura em administração e coordenação escolar, é pós-graduada em Psicologia da Educação, cursou Belas Artes, mas sua praia mesmo é moda. São 25 anos dedicados a ditar as tendências do que se usa, seja no vestir, calçar ou nos acessórios. Beth Salles trafega por todas as classes sociais. Tem loja no Shopping Iguatemi, um dos endereços mais chiques (se não o mais) em São Paulo. Loja que leva seu próprio nome e veste as mulheres paulistanas classe A.
Eclética, a consultora de moda Beth Salles também presta serviço para empresas que têm na classe C o seu público-alvo, ou seja, trafega em todos os nichos de consumo. E bebe nas melhores fontes do mundo (desta vez trouxe o que viu nas ruas de Londres para o verão 2014 e para o inverno também do ano que vem) e nos melhores estilistas para citar as tendências e fazer suas apostas. Foi com esse conhecimento que ela esteve em Bauru esta semana e foi o ponto alto do Senac Fashion Day. E deu uma verdadeira aula de estilismo e tendências para lojistas, designers e fashionistas presentes.
Para o JC falou com exclusividade sobre o momento da moda brasileiro, especialmente sobre a consumidora da classe C, a mulher que está com o poder aquisitivo nas mãos e que vem alimentando o mercado de roupas femininas. Confira.
A moda na Internet
“Moda é antes de tudo estar bem. Moda tem que ser algo a nosso favor. Hoje está tudo na Internet, todas as referências, todos os blogs, você tem todas as informações necessárias para estar na moda. Mas isso cria muita cópia, todo mundo quer estar igual às celebridades e não é assim. Cada um tem que criar o seu estilo, tem que usar a moda, o vestuário a seu favor. A Internet aumenta a responsabilidade no sentido de não se criarem mais cópias, não ficar tudo muito igual, e, sim as pessoas se obrigarem a ter uma identidade, a criar mais, a ter seu estilo próprio. Se não fica até feio. Por isso os designers, os criadores são muito importantes.
Você ter a referência à disposição na Internet é mais fácil e não é. Hoje para se destacar quem dita a moda tem que ter assessor de imprensa, assessor de estilo, site, e o que aparece é a cópia da cópia da cópia no resultado final. Esse é o caminho mais fácil para o insucesso.”
Moda é se sentir bem
“Copiar é diferente de se espelhar. É preciso adequar a sua vestimenta ao seu dia a dia. Estou de salto porque estou aqui numa palestra, mas não tem sentido andar de salto o dia todo. Cria problemas de saúde. Se eu ando de ônibus tenho que optar por sapatilhas, tênis, calçados confortáveis e elegantes ao mesmo tempo. E muitas mulheres confundem isso. Por quê? Porque as pessoas não entendem que a roupa é o reflexo da sua identidade. Pessoas não são cabide. Roupa é o reflexo da sua energia. E é isso o que você precisa passar: a sua energia quando se veste, para aí sim estar elegante. A melhor moda é a que faz com que você se sinta bem ”
A consumidora da classe C
“Essa é uma consumidora muito importante. A nova consumidora da classe C descobriu que pode e deve mudar seu layout. Está consumindo muito. Vem alimentando a cadeia produtiva, a economia. Ela descobriu que há uma vasta gama de produtos sendo lançados voltados para ela. São vestidos, calças, sapatos, acessórios. O poder de compra dela é grande. É o que eu chamo de fast fashionn. Ela compra de impulso e já enjoa e já quer coisa nova de novo. E nem avalia se o que comprou cabe no seu visual, se comprou algo que vale a pena mesmo:
às vezes uma peça mais cara é muito melhor e é um investimento que várias mais baratas. Essa consciência ela ainda não tem. Ela descobriu que pode comprar e está comprando. Mas a cada estação, a cada mês até está descartando suas compras. Ela ainda não sabe se vestir. Esse é o segundo passo. É essa consciência que ela precisa ter a partir de agora, precisa subir esse degrau tanto para melhorar a própria silhueta quanto para valorizar seu dinheiro”
A pegada contemporânea
“Eu definiria essa pegada no momento com uma palavra: arrasa. É isso o que a mulher quer, um visual de arrasar, discrição jamais. É a calça colante, corpo à mostra. A mulher está confiante para usar uma linguagem ousada sem medo de errar. O problema é o espelho em que se ela está se vendo. Especialmente a mulher emergente está se espelhando nisso nas celebridades, nas ‘periguetes’, mas sem noção se pode mesmo usar isso. E daí o que você vê nas ruas é a falta de bom senso, corpo deixando à mostra gordurinhas indesejáveis, a carne aparecendo, silhuetas baixas mais achatadas porque as escolhas foram desfavoráveis. O uniforme funk não é para todo mundo. Agora, por exemplo, o momento é o da delegada Helô (personagem da Giovana Antonelli na novela Salve Jorge). E não é para menos. Todo mundo quer o visual dela. Ela é o símbolo do poder, elegância e feminilidade. Tem um homem lindo a seus pés, veste roupas sensuais. Isso mexe com o imaginário feminino. Quem não quer ser assim? Só que nem todo mundo vai ficar bem com o tipo de roupa dela. Não basta comprar. Ter a roupa da delegada não é garantia de sucesso”
Combinar é fundamental
“Se me perguntassem há um ano se a moda era combinar...eu diria que não havia nada mais demodê do que combinar sapato com bolsa, brinco com cinto, usar conjuntos e tudo o mais. Mas hoje não. Combinar é fundamental. É preciso saber combinar. É preciso acertar nos tons. Os conjuntos vão estar na ordem do dia. Em todas as tendências. A roupa não está mais liberada, o liberado é bacana, mas não pode mais nada tão solto. A gente usa muito o preto, não só nós, as mulheres de Londres, as japonesas também porque o preto é ainda garantia de sucesso. Na dúvida entre a cor melancia e o preto, a mulher sempre opta pelo preto que vai estar mais elegante. Preto ainda é a melhor escolha quando há o medo de errar. Mas a cartela de cores está mudando. E as brasileiras começam a aprender a usar as cores”
Dicas de quem entende
“Para os lojistas deixo minha dica quanto às cores: primeiro procure atender o público-alvo. Se sua consumidora é das classes B- e C aposte nos rosas...de todos os tons. Desde o rosa bebê até o pink e todas as gamas de roxo, lilás”. Vá de encontro ao que diz a música da Rita Lee “por isso não provoque, é cor de rosa-choque”. Para quem trabalhar com a classe B+ ou classe A fique com as cores frias...os azuis, os verdes, os neutros...os tons de terra. E para todos: preto e branco. Esses dois tons, juntos ou separados, são imbatíveis. Garantia de sucesso”
“Para as consumidoras digo não compre nada sem antes olhar seu armário. Aliás, faça uma limpeza nele antes de sair gastando. Destine seu tempo antes de olhar as vitrines, a olhar-se no espelho. Ponha tudo em cima da cama e vá experimentando. Só fique com o que realmente gosta, com o que combina, e só então com as roupas que tem na cabeça, saia para comprar. Inclusive faça isso com acessórios. Fique com o que faz você se sentir bem. Com o que levanta o seu astral”