Um grande jornalista morreu de câncer na língua. Teria descoberto a doença um mês antes, e quando diagnosticado, estava em estágio avançado. Milhares de pessoas ao ano morrem ou diminuem a qualidade de vida pelo câncer na língua, a localização mais comum do câncer bucal. Mais de 95% dos cânceres bucais são conhecidos como carcinoma espinocelular e têm origem na mucosa, revestimento superficial da boca. Apenas uma pequena porcentagem são outros tipos derivados de glândulas salivares, osso e tecidos odontogênicos.
Algumas informações mudam o panorama de alguns fenômenos, mas as pessoas tem certa dificuldade de assimilação. Ou seria uma forma clássica de negação? Talvez!
Aprender é muito fácil, difícil é desaprender e reaprender. Até bebês aprendem. Parece que materializamos o que aprendemos.
Desaprender implica em mudar, abdicar-se do anterior! Parece que dói, o desapego é difícil e isto explica porque certas pessoas insistem em coisas que foram válidas, mas o conhecimento novo mostrou não ser mais e devem ser modificadas. A resistência ao novo e a conveniência do velho falam alto. A negação pode ser inconsciente.
O câncer na boca, incluindo língua, e orofaringe tem causas bem conhecidas por estudos clínicos, laboratoriais e epidemiológicos e “acometia” as pessoas mais velhas, com mais de 50 anos. “Eram” o vício de usar tabaco, bebidas alcoólicas e os raios solares no lábio inferior. As causas podem ser potencializadas mais ainda pelos produtos químicos frequentes na boca pelos alimentos, medicamentos, cosméticos e ar.
A negação
As sociedades profissionais, faculdades, conselhos regionais e outras entidades fazem campanhas preventivas e de diagnóstico precoce do câncer bucal, com folhetos e informações na internet. Mas, nestes folhetos e campanhas, quase todos “insistem” em falar do tabaco, álcool e sol, mas “evitam” falar do HPV como uma ou a principal causa do câncer bucal.
Parece um processo de negação coletiva. Para falar que o HPV está diretamente associado ao aparecimento do câncer bucal e orofaringe devemos explicitar que está associado à prática do sexo oral, ao beijo indiscriminado e não seletivo.
Trabalhos publicados no mundo inteiro, relatórios e casuísticas em vários países e centros oncológicos do país revelam que o perfil do paciente com câncer de boca e de orofaringe mudou: agora os pacientes são mais jovens, entre 35 e 45 anos de idade. Todas as pesquisas revelam: o câncer de boca e orofaringe é mais frequente nas pessoas que mais praticam o sexo oral com um maior número de parceiros. Também o é, em pessoas que começam mais cedo a praticar o sexo oral.
Os estudos laboratoriais mostram: a grande maioria dos casos de câncer de boca e orofaringe tem o HPV e suas proteínas nas células. Até quando os folhetos, sites, revistas e outras formas de divulgação de prevenção do câncer de boca irão persistir neste processo de negação? Mudem pelo amor dos meus filhinhos, diria Silvio Luís, o bem humorado locutor esportivo.
Não é hereditário!
Então todo mundo pode ter câncer bucal? Sim, e muito mais ainda os praticantes de sexo oral e do beijo não seletivo com o maior número de parceiros/as. E poderão ainda tê-lo mais cedo em suas vidas do que os mais seletivos e que também evitem fumar e beber! É uma questão de escolha das pessoas e por isto precisamos informá-las corretamente, especialmente adolescentes. Ele não é hereditário!
Que os folhetos, sites e jornais também parem de falar que morder constantemente a língua e lábio dá câncer! Parem com isso. Outra coisa: dentes e próteses fraturadas que irritam a mucosa não aumentam a probabilidade de câncer bucal, isto não tem qualquer fundamento científico.
O que provoca câncer bucal e de faringe, inclusive de língua, pela ordem decrescente de importância e frequência são: HPV, tabaco, álcool e raios solares. Outras causas podem potencializar, mas estas são as principais.
Na boca o câncer aparece como manchas e feridas assintomáticas. Na base e margem da língua a ferida aumenta e mesmo assim continua indolor. Desconfiou! Procure um profissional de imediato. Aliás, qual foi a última vez que você fez o autoexame bucal “semanal”?
Deixemos a negação de lado! Sexo oral e beijo não seletivo dissemina o HPV e aumenta o risco da pessoa ter câncer na boca e faringe. Sexo e boca estão sempre juntos e namorar é bom demais! Nos cuidemos.
Observatório
Michael Douglas - Declarou ao jornal “The Guardian” que em 2010 descobriu um câncer de garganta por culpa do sexo oral. Com 68 anos, explicou que o câncer não foi provocado pelo cigarro ou álcool, mas pelo vírus do papiloma humano (HPV), um vírus sexualmente transmitido também pelo sexo oral, em declaração à France Presse. “Fiz quimioterapia e radioterapia e agora faço controles regulares a cada seis meses; está normal há dois anos”.
Camisinha lingual (1) - Macia e resistente, de polivinil atóxico, ela protege a língua e estimula o parceiro durante o sexo oral. Por outro lado, a agência estadunidense de regulação de alimentos e medicamentos (FDA) permitiu que a empresa Graphic Armor estampasse nos preservativos a famosa língua de Gene Simmons, o vocalista do Kiss. Preservativos com a imagem da língua de Simmons podem ser comprados pela Internet.
Camisinha lingual (2) - Está no mercado uma camisinha para ser usada na ingestão de remédios com gosto muito ruim, principalmente para as crianças. Com o paladar isolado na língua, o medicamento passa sem traumas para a garganta. Na língua estão os milhares de botões gustativos que dão sensibilidade aos diferentes sabores. Deve ser difícil convencer a criançada. Ou não?
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