Era um menino que aparentava cerca de dez anos, bonito, robusto e de cabelinho vermelho. Creio que daí lhe viera o apelido de "Cenourinha".
Apareceu na minha porta oferecendo vales de pamonha que a sua igreja iria fazer no sábado próximo, para ajudar não me lembro que entidade assistencial. Comprei alguns pela simpatia e jeito bom do menino.
Nem me lembrava mais, quando, no sábado, lá estava ele tocando a campainha de casa, com um ar resoluto e até meio truculento: parecia alguém que tinha brigado.
- Eu vim aqui devolver o dinheiro da senhora.
- Que dinheiro?
- O dinheiro das pamonhas. O pessoal da igreja não conseguiu encontrar quem fizesse as pamonhas. Então, pedi a eles que me dessem o dinheiro de volta, que eu queria devolver para as pessoas que tinham comprado os vales de mim.
- Mas nem precisava, pode ficar para a igreja.
- Não senhora, isso não está certo, a senhora comprou vales das pamonhas, a senhora tinha de receber as pamonhas ou então seu dinheiro de volta. É por isso que eu estou aqui, para devolver o seu dinheiro.
Não sei por que, estas festas juninas e pamonhadas anunciadas, mais as notícias dos corruptos impunes do mensalão e outros fizeram-me lembrar do "Cenourinha". Tomara ele se tivesse interessado por política e continuasse um adulto tão honesto como fora quando menino.
Isolina Bresolin Vianna