Principal via de ligação entre Bauru e Agudos até meados do século passado, quando a rodovia Marechal Rondon foi pavimentada ainda com pista simples, a Estrada Velha Bauru-Agudos vive hoje um contraste com seus áureos tempos, quando exercia domínio do tráfego entre os municípios. Antes, o trânsito entre as duas cidades era intenso e o grande movimento abarcava desde pedestres, cavaleiros, charretes e carroças até automóveis e ônibus. Hoje, a via vive outra realidade e basta avançar pouco nos seus cerca de 20 quilômetros de terra para entrar em um mundo tranquilo e bucólico e sentir-se isolado do corre-corre das vias urbanas e das rodovias.
Fotos: Malavolta Jr. |
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Aos 82 anos, Fuede Randan lembra do tempo que a estrada recebia intenso fluxo de veículos |
Bem sinalizada – melhor do que muitos bairros bauruenses –, a Bauru-Agudos também se encontra em bom estado de conservação, sem muitos buracos. Nos dias úteis costuma ser pouco utilizada e predominam veículos de tração animal, mas ganha movimento nos finais de semana com a afluência de pessoas que buscam descanso, diversão e esporte. Aos sábados e domingos, a estrada transforma-se numa espécie de avenida não pavimentada que propicia acesso a pesqueiros, chácaras e outros pontos de lazer, além de abrigar praticantes de mountain bike, que a usam como trilha.
Durante a semana, a Bauru-Agudos tem um perfil de usuários bem definido: moradores da região e trabalhadores das propriedades que a cercam. Antônio Pereira vive com a família às margens da velha estrada e faz uso do caminho de terra rotineiramente. “Moro em um sítio aqui perto e sempre passo aqui, é o principal caminho da gente”, comenta. A via é o trajeto natural para chegar a Agudos sempre que necessário. “Sempre que a gente vai à cidade, às vezes tem que levar as crianças à escola ou levar algum doente para atendimento, usa a estrada, passa por aqui”, relata. Pereira também costuma utilizar a estrada para chegar até Agudos e fazer compras, ir ao banco e ter acesso a outros serviços.
Morador de Agudos, Fuede Randan possui uma propriedade rural alugada e tem na Bauru-Agudos seu itinerário habitual de acesso ao sítio. O trajeto é feito de carro de Agudos até a propriedade. Ele relata que o fluxo durante a semana é quase zero e aprova as condições da via. “A estrada está boa para andar”, elogia. Com 82 anos de contato com a Velha Bauru-Agudos, Randan admite que a realidade mudou bastante neste período. “Antes, a estrada era muito movimentada. Havia muita gente, muitos carros e passava até boiada aqui”, lembra. “Eu ia direto de ônibus para Bauru. Isso foi há muitos anos”, recorda.
Nesta época, a antiga estrada tinha praticamente o “monopólio” do tráfego entre as cidades. A preferência dos usuários acabou com a pavimentação da pista da Rondon e o declínio do movimento veio a seguir. “Aqui já era o caminho que ia de Agudos a Bauru quando não tinha a Rondon ainda”, rememora Randan. “Hoje mudou muito e quem usa é mais quem tem propriedade aqui”, constata. A informação é corroborada por Pereira. “Sempre que eu passo aqui é sossegado. Hoje em dia caiu demais o movimento, quem mais passa aqui durante a semana é o pessoal que trabalha nas redondezas e os sitiantes que moram por aqui”, aponta.
Asfalto na Rondon ‘roubou’ movimento
O secretário de Esportes de Agudos, José Otaviano Delazari, lembra quando a Estrada Velha Bauru-Agudos era o principal corredor de acesso entre as duas cidades. “Antigamente, o pessoal só ia para Bauru por ali, ela era a mais usada”, define. Delazari era ainda criança quando a Rondon ganhou asfalto e “roubou” o movimento da estrada velha. “A gente andava de bicicleta na rua e chegava a ir em turminha até lá (Rondon) para ver o movimento das máquinas, as obras. Agudos ainda não tinha a avenida de acesso que tem hoje, não tinha a facilidade para entrar pela Rondon que tem hoje”, recorda.
Delazari afirma que no auge de seu movimento a Velha Bauru-Agudos estava em piores condições do que atualmente. “Lembro-me de quando fiz o Tiro de Guerra que era uma estrada boa, mas mais difícil do que hoje”, compara. O secretário de Esportes de Agudos revela que o trecho agudense da via recebeu melhorias com obras do Programa Melhor Caminho, do governo estadual. “Houve levantamento do leito e não tem mais barranco, ela é no alto”, conclui.
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Obras para recuperação de ponte devem durar 15 dias |
Estrada vizinha tem problemas
A estrada de Quirilândia, que também serve de ligação entre Bauru e Agudos, porém do lado oposto da rodovia Marechal Rondon, enfrenta problemas decorrentes da chuva forte que caiu no último domingo. A via está intransitável por causa do desabamento da ponte sobre o rio Campo Novo causado pelo solapamento do terreno na cabeceira do curso de água.
De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Bauru, as obras para recuperação do trecho começaram na última segunda-feira e a previsão de término é de 15 dias se não ocorrerem novas chuvas, que poderiam forçar a paralisação do trabalho no local.
As obras para liberação da estrada estão sendo realizadas em parceria entre a Prefeitura de Bauru, que fornece o material e a mão de obra, e a Prefeitura de Agudos, que cede o maquinário.
Trilha seletiva
Trajeto pela Bauru-Agudos reúne areia, pedregulho, adrenalina e contato com a natureza para praticantes de mountain bike
Se a Estrada Velha Bauru-Agudos foi esquecida pelo tráfego após a pavimentação da rodovia Marechal Rondon, ela foi descoberta pelos praticantes de mountain bike, que a elegem como uma das principais e melhores trilhas da região, além da vantagem da facilidade de acesso. Nos finais de semana, a tranquila via ganha movimento com o vaivém de bikers que buscam exercício, desafio e o contato com a natureza. São muitos os atrativos que levam a pedalar no local, desde a extensão da trilha até a complexidade do terreno. “O trajeto é desafiante porque é comprido, tem trecho de subida, areia e pedregulho, além de ter uma paisagem muito bonita”, comenta Aparecido Antônio José Pereira, integrante do Clube do Pedal, de Bauru.
A trilha é seletiva e Pereira afirma que é preciso atenção para não ser surpreendido, tendo já testemunhado acidentes no trajeto. O cliclista não indica a Bauru-Agudos para novatos na mountain bike. “Não aconselho para principiantes por ser longa e ter trechos de areia bravos e longos e pedregulho. É perigoso, corre-se o risco de cair e se machucar. É aconselhável para quem já é mais experiente”, observa.
Entre os principais desafios da trilha Bauru-Agudos, Pereira aponta as alterações constantes do “piso”, que exigem desde esforço para superar a areia até habilidade e concentração para não ser derrubado pelos trechos de pedregulho. “Muda muito o tipo de solo, essa é uma das grandes características dela. Tem um trecho muito pesado por ser só areia, tem trecho que é perigoso por ser pedregulho e tem trecho que ela vira praticamente uma estrada de chão batido”, relata o biker.
No caminho, enquanto percorre a trilha, o contato com a natureza é próximo e recompensador, afirma Pereira. “É uma estrada antiga, que já foi muito usada e tem paisagens de pastagem de gado, criação de cavalos. É um lugar muito bonito. Tem mata e vemos muitos bichos, pássaros”, relata. O movimento nos finais de semana é intenso com direito a tráfego nos dois sentidos da via. “Sábado é bastante movimentado. Você está indo e cruza com gente vindo, cruza com gente cortando a Bauru-Agudos”, explica.
De acordo com Pereira, os integrantes do Clube do Pedal variam o percurso com ida e volta pela Bauru-Agudos ou indo pela via e retornando por outras trilhas. De qualquer forma, pela exigência do trajeto, o grupo costuma fazer no mínimo três paradas para descanso e hidratação.
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Estrada Velha Bauru-Agudos está em bom estado e é bem sinalizada |
Jipeiros
Para jipeiros, a Bauru-Agudos servia de prévia para desafios maiores antes de receber melhorias. “Bem no passado, quando não tinham cascalhado, o pessoal usava na época da chuva. Dava para ir até Agudos, até a Serra de Agudos”, conta Uriel de Almeida, integrante do Clube do Jipe de Bauru.
A estrada também já foi acesso para acesso a trilhas desafiantes na região. “Ela também já foi rota de uma trilha há uns dez, 15 anos. Passávamos por ela para entrar na trilha”, acrescenta Almeida. Nas condições atuais, a Bauru-Agudos não atende às necessidades dos jipeiros para suas aventuras. A estrada é considerada “em boas condições demais”. “Para a gente não serve”, conclui o jipeiro.
Belezas do cerrado
De acordo com a organização não-governamental (ONG) SOS Cerrado, a Estrada Velha Bauru-Agudos corta uma região típica de cerrado e conta com diversidade de pássaros e aves, além de animais como capivara, veado catingueiro, cachorro do mato, gato do mato, cotia e quati, além de ter abundância em árvores nativas do cerrado como ipês, copaíba, pau-ferro, quaresmeira, cipó de São João.
A reportagem do Jornal da Cidade percorreu o trajeto entre Bauru e Agudos pela antiga estrada. No percurso de aproximadamente 20 quilômetros é possível observar saguis se alimentando de frutas nas árvores à beira do caminho, caracarás devorando uma carcaça e fugindo com a aproximação da intrusa equipe jornalística e seriemas caçando e capturando pequenos lagartos na calmaria da tarde de terça-feira.
A paisagem é bastante agradável com predominância de pastagens, que se alternam com locais de vegetação mais fechada. Estreita em praticamente toda a parte que compreende sua extensão dentro do município de Bauru, a estrada fica mais larga e margeada por árvores frutíferas de ambos os lados em quase todo o trecho de Agudos.
Em muitos pontos é possível ver a Rodovia Marechal Rondon e a tranquilidade da Velha Bauru-Agudos contrasta com o movimento da moderna estrada que a desbancou. Porém, é nos finais de semana que a via de terra ganha vida e se torna local de lazer e esporte. A estrada é invadida por praticantes de mountain bike, transformando-se em trilha concorrida. Além disso, recebe o fluxo de pessoas que procuram lazer em suas margens, que contam com pesqueiros e inúmeras chácaras.