"Roca torlei, cêvo ona táes dodentenen dana, ona é momes?" Não se assustem, caros leitores, com essa frase inicial ininteligível e obscura. Será mesmo? Nem tanto. Trata-se de uma linguagem ? praticamente falada ? inusitadamente criada por algumas pessoas de raciocínio rápido. Traduzindo a frase, fica assim: " Caro leitor, você não está entendendo nada, não é mesmo"? Oralmente, invertem-se as sílabas, falando de trás para frente e com alguma adaptação (o "não" vira "ona"). Já abordei este assunto nesta mesma tribuna alguns anos atrás, mas a pedido de muitos amigos aposentados, volto ao inusitado assunto, agradecendo ao JC pela nova oportunidade de publicar minha missiva.
Trabalhávamos no saudoso Banespa ? Banco do Estado de São Paulo S/A , hoje Santander . Corria, celeremente, a década de 80. A agência era aquela mesma de hoje, na rua Rio Branco, quadra 6. Que saudade nos invade a alma nesta nostálgica mas feliz lembrança. Tantos colegas de trabalho, tantas alegrias, época maravilhosa de nossas vidas. Dentre as coisas boas que ficaram em nossa mente, além da grande amizade que reinava entre a maioria dos "banespianos", ficou a inefável lembrança da "fantástica turminha da língua do trás pra frente". Gente, era uma coisa maluca ! Falavam, correntemente, uma língua desconhecida, habilmente extraída do nosso vasto vernáculo. E o faziam ? na maior cara-de-pau - na frente das pessoas que sequer podiam adivinhar que estavam sendo citadas. Este fantástico time era formado pelo Wilson De Rossis, popular "Fiti", o saudoso Trombini, o Edmundo e o Eric. Se alguém vinha trabalhar com uma camisa nova, a frase entre eles era "samica de terenge" (camisa de gerente), ou com um sapato novo, ouvia-se "Gone, que topasa galle" (Nego, que sapato legal). Ao entrar no banco uma mulher bonita, o papo era "lhove, lhao que nanime tanibo!" (Velho, olha que menina bonita!).
E assim era o dia todo, executando as tarefas diárias, tais como, "çarlan queche" (lançar cheque), "rirfecon chasfi" (conferir fichas), "tomengapa" (pagamento) , "tosipóde" (depósito), etc... Por sinal, até as piadinhas da época eram contadas na famosa "língua estranha". Tinha aquela (todinha contada de trás pra frente) do jacaré que desafiou o Tarzan, chamando o Rei das selvas inúmeras vezes de palhaço, palhaço! O musculoso e sarado Tarzan pegou o pobre do jacaré pela goela e o virou no avesso! ? Fala agora, seu imbecil, me chama de palhaço, vamos ! E o jacaré, com uma voz quase sumida e de trás pra frente: - "Çolhapa, çolhapa"! Incrivelmente, caros leitores , até um temível palavrão se tornava doce e pronunciável naquela linguagem : "lhofi da tapu? (f...).
Fernando Lucilha Júnior