Bairros

Escola não aceita alunas de bermuda

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 6 min

Quioshi Goto

Uma das adolescentes que deixou a escola: “Eu moro a 30 minutos do colégio”

Um grupo de estudantes da Escola Estadual Professor Luiz Zuiani procurou o Jornal da Cidade para reclamar de uma situação inusitada na unidade escolar.

Três alunas de 17 anos, do período noturno, foram chamadas durante a aula e alertadas pela diretora da unidade que teriam de voltar para casa por usarem bermudas que estariam acima do comprimento permitido. 

As estudantes, contudo, contestam a punição e afirmam terem frequentado a unidade outras vezes com a mesma vestimenta e que, na ocasião, funcionários também trajavam bermudas parecidas.

Além disso, as adolescentes levantam questionamento pedindo que haja mais tolerância nas unidades escolares durante o verão, assim como houve nos fóruns em todo o Interior do Estado após medida do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), na última segunda-feira, que tornou opcional o uso de terno e gravata até o final do verão.

“A inspetora nos chamou na segunda aula e a diretora disse que teríamos que ir embora porque a bermuda estava acima do joelho, mas não passava de dois dedos. Ela chegou a falar que poderíamos ir para casa e voltar, mas não tínhamos dinheiro para o passe. Eu moro a 30 minutos da escola. Achei injusto porque havia outros alunos do mesmo jeito e até funcionárias com bermudas parecidas”, comenta a estudante de 17 anos que pediu para não ser identificada.

Além dela, outras duas alunas também foram retiradas da sala de aula. “A própria diretora falou que mandou mais meninas embora na porta da escola por causa disso. Com esse calorão, ninguém aguenta, até as 19h ainda há sol e a sala de aula é muito quente, eles deveriam ter mais tolerância. Até os advogados estão indo trabalhar no Fórum sem terno por causa do calor”, lembra a estudante, moradora no Núcleo José Regino.

Outro lado

Por meio de nota, a Diretoria Regional de Ensino de Bauru informou que as alunas da Escola Estadual Luiz Zuiani não foram impedidas de frequentar as aulas. A diretora da unidade apenas apontou que seria prudente que as estudantes usassem uma vestimenta mais adequada e de acordo com o regimento da escola.

“Cabe salientar que, conforme determinação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, nenhum estudante pode ser impedido de participar das atividades escolares pela ausência de roupa padronizada, mas possíveis restrições quanto ao tipo de vestimenta podem ser feitas de acordo com o regimento escolar de cada unidade”, acrescenta. 


Sem terno e sem gravata

A afirmação da estudante pedindo mais tolerância por parte da escola frente ao calor, de fato, remete à atitude tomada por vários advogados que culminou com a liberação do uso de terno e gravata dentro dos fóruns.

O comunicado emitido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), no entanto, frisa ser indispensável para os homens o uso de calça e camisa social.

Apesar da medida, no Fórum de Bauru, ainda é grande a quantidade de advogados que trabalhavam ontem pela manhã, em pleno calor da 32ºC, de terno e gravata.

“Além de ser hábito, é questão de postura. Não abro mão de um terno e de uma gravata em respeito ao cliente. Além do que, as salas e meu carro possuem ar-condicionado”, fecha questão o advogado Carlos Augusto de Carvalho.

Calor insuportável

Celso Saraiva Junior, assim como o colega acima, também não abre mão da gravata, mas considera a medida positiva. “O calor está realmente insuportável. Deixei o paletó no carro, mas não fico sem a gravata”, comenta.

Na opinião das estudantes suspensas da Escola Estadual Luiz Zuiani, posturas como a do TJ-SP demonstram tolerância quanto aos efeitos do calor intenso e deveriam ser adotadas também nas escolas e em outras repartições públicas durante o verão.


Indispensável

Se tiver uniforme e tiver regras, o aluno tem que seguir. A frase remete à opinião do diretor regional do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, Duda Trevizani, sobre o assunto.

“Sou adepto da bermuda, o calor está muito forte e muitas salas de aula não possuem ar-condicionado. As escolas até queriam liberar o uso de outros tipos de roupas, mas é complicado. Há abusos e não teríamos como fiscalizar. Por isso, o melhor é respeitar as regras das unidades à risca”, explica Duda, repercutindo o assunto na esfera das escolas particulares da cidade.


Para o calor, saia!

Proibido de entrar de bermuda no prédio onde trabalha, no Centro do Rio de Janeiro, o ilustrador André Amaral Silva, de 41 anos, foi ao trabalho anteontem vestindo saia.

Segundo Silva narrou pela Internet, o prédio permite o ingresso de mulheres trajando bermuda, mas a mesma peça é proibida para homens.

Silva contou que, quando chegou ao prédio, o porteiro ficou em dúvida se autorizava ou não a entrada dele e consultou o administrador do edifício, um policial militar. O PM liberou o acesso ao imóvel.

Liberado

“Depois de dois anos trabalhando sem ar-condicionado em meu prédio e após ter tentado buscar uma solução com os administradores durante todo esse tempo, sem sucesso, resolvi vir trabalhar de saia. O rapaz da portaria quis me barrar entre surpreso e constrangido, e pediu que me dirigisse ao coronel da PM que administra o prédio. Expliquei para ele a situação e o policial, muito gentil e cordato e sem a mínima surpresa, orientou o porteiro dizendo a ele: ‘Pô, de saia pode deixar entrar’. E viva o verão e o esclarecimento, por que é que eu nunca fiz isso antes é que não sei”, postou André.

O episódio narrado no Facebook causou grande repercussão no site de relacionamentos, sendo curtido e compartilhado por mais de 4 mil pessoas em poucas horas.

Em dezembro do ano passado, estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Santo Antônio de Jesus, foram às aulas vestidos com trajes de praia, a fim de chamar a atenção para o calor nas dependências da instituição.


Bermuda sim!

Um site criado recentemente tem dado o que falar: o Bermuda Sim, encabeçado por um grupo de amigos cariocas, levanta a bandeira do uso de bermuda nas empresas.

Bem-humorada, a página possui um mecanismo para dar uma forcinha para quem quer chegar ao chefe com a proposta de uma vestimenta mais apropriada para o verão: basta digitar o e-mail dele que o site envia a solicitação do uso da bermuda do funcionário acalorado, garantindo anonimato. O site conta ainda com “os 10 bermudamentos” (leia mais abaixo).

  • Serviço

Para acesssar o site, basta digitar www.bermudasim.com.br. Que seu chefe aceite a proposta!


Os 10 ‘bermudamentos’

1 - Bermuda só a partir dos 29,8 graus

2 - Tamanho da bermuda: três dedos acima ou abaixo do joelho

3 - Short de surfe não é bermuda

4 - Uniforme de time não é bermuda

5 - Samba-canção... ah, toma vergonha na cara!

6 - É proibido usar floral! Proibido! Em qualquer lugar!

7 - Dia de reunião, nada de bermuda!

8 - Não é porque está de bermuda que pode usar regata

9 - Se mais de duas pessoas zoaram a sua bermuda, é porque ela não é apropriada

10 - Não repetir a bermuda mais de duas vezes na semana. Não força, vai!

Fonte: site Bermuda Sim

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