Articulistas

Pão e Circo para o povo!

Sérgio Ricardo Rodrigues
| Tempo de leitura: 3 min

O crescimento urbano acarretou inúmeros problemas para Roma e a escravidão gerou o desemprego da maioria dos camponeses que começaram a migrar para as cidades romanas em busca de trabalho e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do pão e circo. Ela consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores no Coliseu (o mais famoso estádio de Roma), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta e enquanto isso os impostos eram aumentados.

Com muita propriedade, Nicolau Maquiavel (músico, poeta, diplomata e historiador) relatou em sua obra, o Príncipe, que o povo precisa de pão e circo e, mutatis mutandis, notamos que daquela remota época até hoje nada mudou. O gasto astronômico de dinheiro público para construir estádios em cidades que não possuem o mínimo de infraestrutura para alicerçar a saúde e educação demonstra todo o descaso para com a população mais carente do País que sequer tem condições de reclamar, pois, iludida pela política do pão e circo. A única diferença entre o Brasil e a Roma antiga é que hoje o pão, que era oferecido no coliseu, se transformou em bolsa-família e a luta entre gladiadores que servia para entreter o povo ignorante se tornou o futebol.

Vende-se uma falsa ilusão de que ser patriota é torcer para o Brasil ser campeão mundial de futebol e se esquecem que nas escolas não se cantam mais o Hino Nacional Brasileiro. Isso sim é o começo do ufanismo pelo País. Ou vocês acham que o Brasil ganhou mesmo da Espanha (invicta há 29 jogos) na Copa das Confederações, diante das inúmeras manifestações legítimas (pacíficas) que o povo fazia nas ruas, protestando contra a malversação do dinheiro público com a construção de estádios enquanto a saúde do País é um caos.

Imagino agora se as manifestações voltarem às ruas, qual será o preço a ser pago para que o Brasil seja campeão mundial e iluda novamente o povo, como era feito em Roma. Enquanto isso, o valor dos produtos básicos vai sendo aumentando nos supermercados diante dos olhos da população, que, estática, tem sua visão e comentários voltados somente para o futebol do País e, pasmem, colecionam e trocam figurinhas de jogadores!

Infelizmente, não vejo uma luz no fim do túnel, pois hoje em dia as pessoas com enorme carisma emprestam seus nomes limpos a partidos políticos e se elegem como prefeitos, governadores e deputados, mas depois de assumir não podem escolher sequer seus secretários, já que estão atrelados aos partidos que patrocinaram sua candidatura e ajudaram a elegê-lo. Assim, o político honesto se torna um boneco de marionete nas mãos de políticos de carreira. Dá-se ao governante uma falsa percepção de poder que na realidade não existe e embora seu ego esteja massageado, no fundo ele mesmo sabe que não pode governar como desejaria ou sequer exonerar um secretário incompetente ou corrupto que foi nomeado pelo partido político.

Nunca vi em nenhum País deputados se unirem para tentar barrar, isso mesmo, não dar prosseguimento, a uma apuração de irregularidades em que o governo é acusado. Ora, leitores, o dinheiro utilizado pela Petrobrás na compra da refinaria de Pasadena saiu dos nossos bolsos. Nada mais justo que os deputados apurem onde o dinheiro de nossos impostos está sendo utilizado. E, para quem não se recorda do atual presidente do Senado, relembro que ele escapou duas vezes da cassação através do voto secreto de seus pares. Sua nomeação não foi um contrassenso, torcida brasileira?

Essa é a atual situação do nosso País e se vocês que possuem uma cultura, no mínimo razoável, pois, estão lendo essa matéria, mas já estão torcendo o nariz por ter dificuldades em aceitar a minha opinião, imaginem a pobre população que não tem condições de comprar o Jornal da Cidade e, muito menos, entender o que eu quis transmitir a eles. Plagiando Maquiavel, pão e circo ao povo!!!

O autor é advogado e colaborador do Opinião

Comentários

Comentários