Quando temos origem ou sabemos a fonte das cousas, tudo parece mais confortável dentro da minha cabeça. Do nada, vem nada e sai nada. Este o porquê de que, quando me perguntam sobre o que acho do futuro de cantores promissores, amigos de amigos que se jactam a procurar o sucesso na arte da música, a minha resposta é sempre uma só: quero sempre saber se os candidatos estão estudando, se aprofundando em saber de onde surgiram os ritmos, os estilos e se conseguem diferenciar os timbres dos antigos cantores de nosso cancioneiro popular.
Do mesmo modo, se são sambistas, solicito a execução de um sucesso de Nelson Cavaquinho e se violeiros, apelo para João Pacífico e Teddy Vieira. O diagnóstico e o conselho surgem logo em seguida e acho que contribuo para a evolução das crianças em música. Sempre quis saber como a viola invadiu o templo quatrocentista de São Paulo, e me dava por convencido que Milionário e José Rico eram os autores de tal façanha. Porém eu me enganava no atacado e no varejo. O rádio sempre acatou todas as nuances e causas musicais, sendo um espaço democrático que divulgou desde Luiz Gonzaga até Tonico e Tinoco.
Porém, um sujeito nascido em Bernardino de Campos e criado em Londrina, após ouvir Inezita Barroso cantando a Moda da Pinga e fazendo sucesso, no Bar Telecoteco em São Paulo, resolveu assumir sua viola de 10 cordas e fazer o avant premier deste estilo tão conhecido e cantado no interior. Cantando Tom Jobim, Vinicius e Milton Nascimento no Bar Jogral dentre outros, Adauto Santos foi o responsável por essa façanha. Sim, este é o nome do cabra. Grande amante da noite e da música ali tocada, em tal lugar e hora fez sua vida, sendo esta sua escolha: fazer sua própria agenda e não ser guiado pelas gravadoras.
Esta escolha é drástica e reflete a alma do artista. Ali se aprende a lidar com a platéia, com o microfone e com a vida. Tanto que um de seus discos se intitula "Tocador de vida e de viola". Morreu cedo aos 58 anos de idade, no cadafalso montado pela boêmia e pelas noitadas.
Foi ele quem apresentou a viola a Jorge Ben, Caetano, Gil, Mario Lago, Martinho da Vila dentre outros, fazendo parte do Regional de Robertinho do Acordeon, este que fez o seguinte comentário: "Adauto mudou a configuração normal de um Regional, incorporando a viola que não era utilizada".Tendo como parceiros Paulo Vanzolini, João Pacífico, o maestro Theo de Barros, Adauto Santos é autor destes versos: "Ali, passava boi, passava boiada, tinha uma palmeira na beira da estrada, onde foi gravado muito coração"!
E agora descobri, por amigos, que foi casado com uma tia de um querido meu vizinho de tempos antanhos. O filho de Adauto, o Cristovão, tem o nome citado numa gravação ao vivo do pai. Nem ele próprio sabia ou se lembrava deste detalhe bonito da gravação, que descobri, sem querer, ouvindo "Triste Berrante". Vários achados em uma noite de pesquisa, com emoções que fazem brilhar minha alma de amigo e sonho de jornalista do garimpo, aquele que enquanto não faz e não vê nada fulgurar, não sossega!
O autor é cronista e colaborador do JC