Geral

E se Bauru fosse a "Springfield"?

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 6 min

Os turistas que vieram para a Copa do Mundo saíram do País com a impressão de que muitas cidades brasileiras se assemelham a outras do mundo todo. Chineses e indianos encontraram semelhanças entre o trânsito caótico e o aglomerado de pessoas nas ruas de São Paulo, com os de Xangai, Pequim e Mumbai. Os italianos ficaram encantados com Porto Alegre e Curitiba ao verem o que seus descendentes construíram nessas terras, sem perder a alma e a inspiração vinda do velho continente. Mas alguém já conseguiu provar a semelhança entre a realidade e uma cidade da ficção? 

 

Pois quem conseguiu foi a jornalista Marina Leite, ou Marina Rc Ml, como ela assina Facebook do site “garotas geeks” . Unindo a paixão pelo seriado “Os Simpsons”,  que completa 25 anos de exibição, quase a idade dela (26), e o amor pela cidade, a ideia ganhou forma. 

 

“Bauru, a Springfield Brasileira” foi um projeto feito em 2011 para a disciplina “Planejamento Gráfico” da faculdade de Jornalismo (ela está formada pela Unesp há quase dois anos) em que o trabalho final era fazer um suplemento de jornal. “Ele não existe fisicamente, na verdade, até então, nunca tinha pensado que alguém iria realmente se interessar em publicá-lo, então nem fui atrás disso”, conta Marina.

 

E depois de quase cinco anos hibernando, o trabalho passou a ser conhecido quando despertou a curiosidade de outra jornalista, Amanda Araújo, do site “Social Bauru”. Uma pequena matéria, divulgada somente online  por Amanda,  foi o suficiente para que todos começassem a falar e acessar o jornalzinho que liga Bauru a Springfield.

 

Ideia compartilhada

 

Originariamente havia uma comunidade do Orkut que levava o nome de “Bauru, a Springfield Brasileira”, “mas não conheço a criadora da página; mesmo assim cito esse fato no editorial”, apressa-se em  justificar. Ela lembra que por ser uma comunidade, não havia o compromisso de informação mais aprofundada. “Quando tive que fazer esse trabalho veio a ideia de pegar esse tema e aprofundar nos assuntos.”

 

E não era difícil. Afinal, ela mesma é uma grande fã da série “Os Simpsons”. “Acho que já assisti todos os episódios, e os que eu assisti menos, devo ter visto umas três vezes, e achei que daria para fazer uma ligação muito legal entre o desenho e a cidade”. Não deu outra. Quem acessar o suplemento vai ver histórias da história de Bauru, devidamente documentadas e contadas nos episódios da Springfield fictícia. 

 

Um exemplo? O roubo do monumento do sanduíche, o Bauruzinho. Pois não é que no oitavo episódio, da 14ª temporada do desenho animado, o personagem Bart Simpson rouba a cabeça da estátua do fundador da cidade, Jebediah Springfield? 

 

É assim, cheia de coincidências e referências devidamente fundamentadas na história real em Bauru e nos episódios exibidos que Marina faz o link, a união entre Bauru e Springfield. A ideia compartilhada na época com mais três amigos vingou: “eles ficaram empolgados e toparam na hora, além disso,  pedi para uma amiga designer fazer as ilustrações para o trabalho”, lembra. Assim, todos os grandes episódios e as figuras marcantes da cidade, como o jogador Pelé, o desenhista Maurício de Sousa e o astronauta Marcos Pontes, por coincidência estão povoando  os episódios da série. 

 

Trabalho ‘na unha’

 

“Como eu disse, sou muito fã (viciada mesmo) em Simpsons, então acabei ficando com a parte de ligar os acontecimentos reais com os acontecimentos em determinados episódios da série. Essa parte nem tinha na comunidade, tive que fazer na unha mesmo” lembra Marina Leite. No fim, as matérias foram divididas entre os quatro membros do grupo. Eu também fiquei com a parte da diagramação. “O processo durou uns três meses e descobrimos muitas coisas legais nesse tempo”.

 

25 anos de Simpsons

 

O seriado ‘Os Simpsons’ resiste no mercado televisivo há duas décadas e meia. Não é fácil manter um programa, ainda mais desenho animado, no ar por tanto tempo. Mas este ano, em abril, Homer Simpson e sua família atingiram essa marca. Vivem suas aventuras sem deixar de lado o humor ácido característico da série. O seriado carrega na bagagem, 28 prêmios Emmy Awards, o Oscar da televisão americana.

 

E pensar que tudo começou em em 17 de  dezembro de 1989. Na TV americana, a recém-criada rede Fox estreava seu primeiro desenho animado em horário nobre. Parecia um desenho comum: uma família engraçadinha - mãe, pai e três filhos - se metia em encrencas nos preparativos para a noite de Natal. Até o nome da série soava como repetição de Os Flintstones ou de Os Jetsons... Mas o jeito tradicional acabava aí.  Quando Marge promete levar os pedidos de presente dos filhos ao Papai Noel, Bart diz que “só tem um gordo que nos traz presentes, e o nome dele não é Noel”. Homer, o gordo em questão, rouba a árvore de Natal da família do meio de uma floresta. Para descolar uns trocos, o paizão imita o bom velhinho num shopping e deixa o filho emocionado: “Você deve mesmo nos amar para descer tão baixo!” Não era, e ainda hoje não é, um desenho comum. 

 

Craque Pelé e até ‘Garota de Bauru’

 

Quem acessar o trabalho “Bauru, a Springfield Brasileira”, vai ver ilustradas as referências a todos os episódios bauruenses. O dia em que a Nações Unidas explodiu, o raio que causou o apagão em boa parte do País (Moe, um dos personagens, lamenta que vai perder o episódio de um seriado e no Brasil, a Globo teve que exibir dois episódios seguidos de Chiquinha Gonzaga que estava no final), há até semelhança nas imagens: os buracos das ruas que engolem carros e os de Springfield. Há a casa da Eny, a passagem de Che Guevara. E na garimpagem histórica o grupo chegou a descobrir quem é a verdadeira “garota de Bauru” (da música do Cazuza). “Infelizmente, ela não quis falar com a gente”, disse Marina. Ela também lamenta o fato de que “pouco tempo depois que entregamos o trabalho, rolou aquele caso dos prisioneiros que cavaram um túnel quilométrico usando apenas colheres, ficamos tristes pois também houve isso na série.”

 

O curioso é que o trabalho que começa a ser conhecido agora quase não existiu. “Quando fomos falar para o professor responsável pela parte de conteúdo, ele vetou na hora”, conta. O grupo foi falar para o outro professor, que acabou convencendo o primeiro de que seria um trabalho legal. Ou seja, por pouco ele não existiu. E poucos ficariam sabendo que aqui também apareceram E.T.s (em 1968) retratados em episódios dos desenhos.

Garotas Geeks

Garotas Geeks (www.garotasgeeks.com) é um site sobre temas nerds (jogos, videogame, tecnologia, cinema, séries, cultura japonesa, etc) feito apenas por garotas, e Marina é uma das co-fundadoras. “Tentamos usar uma linha mais opinativa e de bom humor sobre os tópicos, falando com o público como se fosse um amigo.”

Comentários

Comentários