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Armazenamento incorreto de água pode trazer complicações à saúde

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 5 min

Quioshi Goto

 

Em tempos de escassez de água nas torneiras, toda sorte de artifícios para armazenar e garantir o produto em casa é posta em prática. Mas, cuidado! Dependendo do modo como a água é conservada, toda a família pode estar em risco.

É o que explica a química Flávia Souza, proprietária de um laboratório de análise de água, alimentos e cosméticos de Bauru. “Não adianta adquirir água de uma fonte confiável se ela for guardada de maneira inadequada”, frisa.

Para consumo humano, cozimento de alimentos, banhos e lavagem de louças, a água estocada – com exceção da mineral, envasada de fábrica - deve receber adição de hipoclorito de sódio. A regra vale, inclusive, para as aquisições feitas de caminhões-pipa particulares ou mesmo do Departamento de Água e Esgoto (DAE).

“Não adianta ferver, porque nem todas as bactérias morrem. Para cada mil litros de água, basta adicionar um litro de hipoclorito de sódio, ou, para cada litro de água, uma colher da substância, que não é a água sanitária usada para limpeza de casa. Depois disso, o recomendado é aguardar cerca de duas horas para poder ingerir a mistura”, ensina.

Depois de receber este tratamento, a água deve ser, preferencialmente, armazenada na geladeira, longe da luz e do calor, em um vasilhame tampado. “Ao sol, o cloro da água potável evapora mais rapidamente. Mesmo se o recipiente estiver vedado, ele perde suas propriedades. Além disso, o calor também favorece a proliferação de micro-organismos”, pondera Flávia.

A química também alerta para as condições dos vasilhames onde a água será conservada. O ideal é que sejam novos, só tenham sido utilizados para guardar água e não tenham sido higienizados com produtos de limpeza. “Tomando todos estes cuidados, dá para deixar armazenado por, no máximo, seis meses”, acrescenta.

Consciência

Até por uma questão de consciência ambiental, Flávia também recomenda que as pessoas passem a captar água da chuva, que pode ser utilizada para limpeza de quintais, irrigação de jardins e lavagem de roupas. O mesmo vale para a água que é eliminada de aparelhos de ar condicionado.

“Dá para pegar a água da chuva, inclusive, através da calha. Basta usar uma tela na boca do recipiente para filtrar as sujeiras maiores, como folhas e galhos. É algo que pode e deve ser praticado até mesmo quando não houver falta d’água nas torneiras”, analisa.

Embora a atenção sobre as condições de reservatórios “alternativos” seja fundamental, a química alerta para a importância de manter as caixas d’água devidamente limpas. O recomendado é que a higienização seja feita a cada seis meses, apenas com uso de um pedaço de tecido limpo e sem qualquer produto de limpeza.

“A pessoa deve deixar apenas um pouco de água no fundo para poder limpar as paredes da caixa. Depois, jogar um pouco de água nas paredes para terminar a limpeza, esvaziar o restante e encher novamente”, ensina. Assim que a caixa estiver cheia, adicionar um litro de hipoclorito de sódio para cada mil litros de água.


De piscina

Moradora de um condomínio horizontal do Parque das Nações, Tânia Mara Maddi Zwicker Esbaille, 68 anos, está sem receber água da rua há duas semanas. Desde então, ela vem utilizando a água da piscina para as descargas dos vasos sanitários, limpeza do quintal e lavagem de roupas.

“Não chega água nem de madrugada. Até o jardim deixei de irrigar periodicamente”, reclama. Como mora em uma região mais elevada, Tânia fica sem abastecimento até nos dias em que o rodízio prevê a distribuição de água na região onde mora.

Para contornar o problema, ela comprou água de uma empresa, que abasteceu com caminhão-pipa suas três caixas d’água, que totalizam 5 mil litros. Como medida de economia, o volume reservado só é utilizado para banhos e preparo de alimentos. “Está dando pra economizar porque só moramos eu e meu marido. Senão, a situação seria ainda mais crítica”, lamenta.

 

Reuso e economia

Afetada pelo racionamento de água instituído pelo Departamento de Água e Esgoto (DAE) desde o dia 15 de outubro, a secretária Cristiane Marques Ferreira, 35 anos, adotou a estratégia “economia e reuso” para que o produto não falte em casa, nem mesmo nos dias previstos pelo rodízio. Desde que o sistema de revezamento começou, ela passou a estocar a água do enxágue da máquina de lavar roupas em um galão de 200 litros para fazer a limpeza do quintal.

“A água sai praticamente limpa e dá para usar tranquilamente. Lavo roupas uma vez por semana e, assim que armazeno, já limpo o quintal. Não fica muito tempo parada, então nem há risco de ser criadouro do mosquito da dengue”, comenta.

Para que não falte água nas torneiras, ela conta com duas caixas d’água: uma de 1 mil litros e outra, de 500 litros, que fica em uma edícula nos fundos da casa onde mora, na Vila Industrial. “Como somos apenas eu, meu marido e minha filha, a quantidade é suficiente para as 24 horas em que ficamos sem receber água da rua”, completa.

Alerta: danos podem ser desde leves até severos

Se não for armazenada corretamente, a água pode apresentar alterações no gosto, cheiro ou aparência, o que indica a presença de bactérias. Tratam-se de micro-organismos que podem provocar doenças como cólera, hepatite A, leptospirose e esquistossomose.

Segundo Cristiane Rosevelte e Silva, médica sanitarista da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, em alguns casos, as complicações podem ser severas. “O paciente pode até precisar ficar internado por vários dias, podendo evoluir, inclusive, para óbito”.

Nos casos mais graves, a água é contaminada por bactérias e vírus presentes na urina e fezes de animais e humanos. Mas é possível que outros micro-organismos provoquem disfunções como diarreia.

 

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