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Entrevista da semana: Fernando Jorge Salomão


| Tempo de leitura: 7 min

 

Salomão ao lado da esposa Elisabeth, com quem compartilha o voluntariado

O engenheiro Fernando Jorge Salomão, formado na antiga FEB - Fundação Educacional de Bauru, recebeu em dezembro último o prêmio Profissional do Ano 2014 da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos (Assenag) da região de Bauru. 

 

Com um currículo invejável - que inclui obras em São Paulo (quase 100 escolas para a Conesp, Usina de Tratamento de Lixo Metropolitana, as escadas “tobogã” do estádio do Pacaembu -, foi em Bauru que ele assentou sua vida profissional. 

 

Executou inúmeras obras particulares em condomínios fechados, como Spazio Verde, Estoril 5, Samambaia, Shangri-Lá, Lago Sul, entre outros, e na área social foi um dos responsáveis pela construção do Santuário Sagrado Coração de Jesus (Vila Universitária), construiu a Casa do Clero em Arealva e atua como engenheiro responsável da Creche São Paulo, no bairro de mesmo nome. 

 

Mas seu trabalho não para aí. Ao lado da esposa Elisabeth Biondo Salomão, o voluntariado tem destaque, bem como o comércio, de onde surgiu a espinha dorsal de sua vida. Conhecer a vida do “profissional do ano” é também mergulhar na história de Bauru.

 

Jornal da Cidade - É prata da casa, nascido e criado aqui?

Fernando Jorge Salomão - Nasci na rua Azarias Leite, 3-47, bem no Centro de Bauru. Estudei no Grupo Escolar Lourenço Filho, Cursos Brasil, Instituto de Educação Ernesto Monte - ginásio e científico -, e à noite Contabilidade no Colégio Guedes de Azevedo.

 

JC - E como foi essa infância em pleno centro comercial e tradicional da cidade?

Salomão - Como toda criança, éramos terríveis, jogávamos bola na rua por volta de 1958-1960 com os amigos Toninho, Otacílio e Fernando Garmes,  Armandinho  Pieroni  e, na frente da loja, tinha a Casa Cristal do Tufi Achoa... quantas bolas nos pratos e copos da loja! E tome castigo! Na juventude, pratiquei basquete, fui vice-campeão estadual juvenil por Bauru.

 

JC - Os bauruenses conhecem muito da família do seu pai.

Salomão - Sim, porque a loja da família do meu pai, a Casa São Jorge, existe até hoje. Meu avô Elias Salomão, sírio, chegou em Bauru em 1905, início da construção da estrada de ferro. Imagina, chegou no Porto de Santos em 1900. E minha avó, Assma Cury Salomão, veio do Líbano com três irmãos (um foi para os EUA, outro para a Argentina e o que ficou e ela vieram para Bauru). A cidade existia apenas no ínicio da Alves Seabra/Araújo Leite, perto da futura estação, a maior parte era só “areião e índios”. Meu avô, com seu primo Neder Issa, comprou terrenos perto da estação, pois como mascates que eram tinham que carregar malas pesadas. Do casamento deles nasceu meu pai em 1914, Jorge Elias Salomão.

 

JC - Mas a família de sua mãe também foi bastante significativa para a história da cidade...

Salomão - Sim, sim. Meu avô era músico e foi responsável por formar a primeira Banda Municipal de Bauru. A minha avó, Maria Sanches Vaz, veio de Málaga, na Espanha, e meu avô Javoleno Vaz era matuto de Capivari. Antes de se fixar em Bauru passou por Agudos e, paralelamente à vida de músico - por sinal na época o cinema era mudo e ele regia a banda que animava as cenas -, era proprietário da torrefação de café. Do casamento deles nasceu minha mãe, Theolinda Vaz Salomão, mas tiveram 11 filhos.

 

JC - E seus pais, o seu Jorge e dona Linda, tiveram três filhos?

Salomão - Sim. Inês, já falecida, Antonio, que é médico em São Paulo, e eu, que aqui estou. Todos nós trabalhamos na Casa São Jorge. Trabalhávamos e estudávamos. Minha mãe costurava na loja os panos que lá eram vendidos. 

 

JC - E a história de que a loja dos seus pais foi doada aos funcionários?

Salomão - É isso mesmo. A loja foi familiar e os dois foram trabalhando até 2001/2002, quando eles faleceram. Meu pai sempre me pedia para não fechar. Continuei até dezembro de 2007, mas era difícil tocar o comércio e a engenharia. Quando os funcionários antigos, que me ajudaram muito a cuidar da saúde dos meus pais, pediram para ficar com a loja, a família concordou. Nós passamos tudo para eles - telefone, fax, geladeira, tecidos, mobiliário, balcões, etc, e a loja continua com o nome fantasia.

 

JC - A gente percebe que o núcleo familiar é muito importante na sua vida, como foi o namoro e o casamento...

Salomão - Bem, eu era amigo dos irmãos da Beth (Elisabeth Biondo Salomão). No Carnaval de 69, criei coragem de enfrentar os tais e comecei a namorar no Baile do Bicho da Engenharia (prestei vários vestibulares, fiz cursinho em São Paulo, mas preferi voltar a Bauru e estudar na antiga FEB). Daí para frente foram sete anos de namoro e noivado até o casamento. Fomos para São Paulo, onde tivemos a Ana e o Fernando. 

 

JC - E o retorno?

Salomão - Em 81 minha irmã faleceu e logo depois retornamos para Bauru. Já tínhamos a Ana e o Fernando, isso renovou meus pais, lhes deu outro ânimo. Além disso, a Beth como psicóloga trabalhava no Colégio São José e em 2000, em um Congresso, conheceu a Escola de Pais do Brasil - EPB e voltou entusiasmada.

 

JC - Ela, então, foi a ‘culpada’ da existência em Bauru da seção local da EPB?

Salomão - Sim, me contou maravilhas, perguntou se eu a ajudaria, falou com a direção do colégio e eles na hora aceitaram. Afinal, é importante demais aprender a ser pai, mãe; começamos com 15 casais que estudavam e passávamos orientações aos demais, em escolas, creches, igrejas.

 

JC - E acabaram ficando 12 anos nesse trabalho voluntário...

Salomão - Para nós foi muito importante. Participamos de encontros nacionais em Itaici, estaduais em São Paulo. Tivemos palestras com psicólogos, psiquiatras, pedagogos, gente do nível de Içami Tiba, Ivan Capelato, Haim Gruspun. Isso contribuiu muito na orientação aos filhos, nossos e dos participantes.

 

JC - Acaba sendo gratificante, não é mesmo?

Salomão - A vida é dinâmica e sempre surgem novas atividades; não sei qual será a próxima obra, mas o que faço como profissional ou como voluntário é devolver ao mundo (Bauru) o muito que meus avós receberam desta cidade, que os acolheu e permitiu que aqui construíssem suas famílias, e nós nos orgulhamos muito disso.

 

JC - Falando em obra, o prêmio dá a oportunidade de avaliar a engenharia do início da sua carreira e a de hoje.

Salomão - Os dias atuais estão muito melhores. Lembro meu início em São Paulo, em 1974, não existiam EPIs (Equipamento Proteção Individual) e nem uma orientação para os trabalhadores da construção civil. Então, em 1978 fui  cursar Engenharia de Segurança do Trabalho, área que estava iniciando. Os funcionários da construção civil ganharam botas, óculos de proteção, guinchos com portas, capacetes, treinamento, café da manhã e muitas outras benesses. Saía da minha casa por volta das 6h30 da manhã com a agenda para anotação das intercorrências das obras (não havia celulares), e se tivesse um problema maior, tinha que procurar um “orelhão” para ligar para o escritório...

 

JC - Uma história curiosa para contar...

Salomão - A qualidade dos materiais melhorou excepcionalmente. Em 1976 executei o 6º Distrito Policial do Cambuci-SP e tinha uma cúpula de vidro nesta obra. Como não existia silicone para vedação, fazíamos este serviço com massa de vidro e, na inauguração, com a presença do secretário de Segurança Pública da época, coronel Erasmo Dias, choveu e vazou, aí foi terrível. Bom, foram tantas outras histórias...

 

JC - Para finalizar.

Salomão - A engenharia é uma profissão maravilhosa. Você chega num terreno, limpa-o e começa a solidificar um prédio, uma residência, hospital, ponte, delegacia, escola, igreja, enfim, gera emprego, alegria aos que vão morar, transforma aquele terreno, do sonho à realidade. Confesso que ao reler o meu currículo, me espantei com tudo o que já executei de obras, me sinto realizado. Para mim, cada obra corresponde a um filho, que você gera, faz crescer e depois entrega para a sua finalidade.

Perfil

Nome: Fernando Jorge Salomão

Idade: 66 anos, signo de Áries 

Nascimento: Em Bauru, dia 18/04/1948

Família: Elisabeth Aparecida Biondo Salomão (esposa); filhos: Ana Cristina - casada com Flavio - e Fernando - casado com Luciane; netos: Rafael, Manuela e Murilo (que está a caminho!)

Hobby : Futebol

Livro de cabeceira: Prefiro a leitura de jornais - JC/ Estadão e a revista Veja

Filme preferido: Comédias

Times: Noroeste, Corinthians, Paschoalotto/Bauru Basquete

Música: MPB - Tom Jobim/Vinícius/MPB4

Nota 10: Ao Papa Francisco, que está tentando mudar a igreja

Nota zero: Aos políticos corruptos que se beneficiam do cargo

 

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