Fotos: Reprodução/ Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica da USC |
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Inezita Barroso nos deixou no último domingo, mas, em sua voz, a canção “Marvada Pinga” ou “Moda da Pinga” promete ser eterna. Os versos “Com a marvada pinga é que eu me atrapaio. Eu entro na venda e já dou meu taio. Pego no copo e dali num saio” foram um sucesso nos anos 50 e, até hoje, são cantados pelos amantes de música caipira. O que muita gente não sabe é que ela foi escrita na década de 30 pelo compositor é Ochelsis Aguiar Laureano, que morou em Bauru por 14 anos.
O acervo de Ochelsis está guardado no Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica da Universidade Sagrado Coração (USC) e é aberto ao público.
De acordo com a responsável pelo local, professora Terezinha Santarosa Zanlochi, as três filhas do compositor cederam 825 documentos para a universidade, em 2006, após pesquisarem que Laureano foi professor de música por 14 anos na cidade, de 1955 a 1969, no antigo ginásio Ernesto Monte, no extinto Conservatório Santa Cecília e na USC. Ele nasceu em Sorocaba, mas, em 1984, recebeu o título de cidadão bauruense.
Entre o acervo estão diversas composições musicais, diplomas, fotos, discos, livros, coleção de bandeiras, medalhas, troféus, objetos pessoais como óculos, canetas, além de poesias e até a escrivaninha em que ele compôs suas músicas.
Um dos livros do acervo é “Sertão: 23 clássicos caipiras” que consta a partitura de “Marvada Pinga” escrita por Laureano nos anos 30 e gravada pela primeira vez em 1937 por Raul Torres. A canção se tornou consagrada na voz de Inezita Barroso, a “rainha da moda”, que a lançou no ano de 1954. Inezita morreu no último domingo aos 90 anos.
Para Terezinha, é muito importante ter a história de Laureano registrada e arquivada no município. “Embora a divulgação tenha sido pela Inezita, foi ele, um ‘bauruense’ e que lecionou por anos na cidade, que escreveu e teve inspiração da música. Então, ter um lugar como o Núcleo é fazer com que Bauru ganhe uma identidade dessas pessoas que se projetaram não só localmente, mas nacionalmente. É preservar a história dos cidadãos que constroem, na sua criatividade, a identidade de uma região”.
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Ochelsis Aguiar Laureano deu aulas de música em Bauru por 14 anos; na foto, no Ernesto Monte |
Quem foi?
Ochelsis Aguiar Laureano nasceu no dia 1 de maio de 1909 em Sorocaba. Foi casado com Maria Augusta Soares Laureano e teve seis filhos, três homens, já falecidos, e três mulheres, Marcisa, Judith e Glaucia. Desde pequeno, tocava viola e fazia repentes e canções sertanejas.
Como artista sertanejo, atuou em programas de rádio e shows artísticos de 1920 a 1942. Fez parte das Caravanas de Cornélio Pires e formou as duplas “Irmãos Laureano”, “Laureano e Soares”, “Laureano e Mariano”, entre outras.
Como compositor, é responsável por poemas como “Capim Teimoso”, “Lenço Preto” e “O Barranco”. Entre as músicas de sucesso que escreveu estão “Roseira branca”, “O Balão Subiu”, “A Caçada”, “É Mió num Casá”, “Meu Sertão” e “Marvada Pinga”.
Após 1942, Laureano resolveu estudar música e se tornou professor de canto orfeônico e educação musical. Foi amigo pessoal e aluno do maestro Heitor Villa-Lobos.
Em 1948, começou a lecionar em várias cidades, como Passo Fundo, Presidente Prudente, Caraguatatuba, Jundiaí, Santos e Bauru, onde ministrou aulas em diversas instituições por 14 anos e, no dia 10 de setembro de 1984, foi agraciado com o título de cidadão bauruense pelo vereador Edson Francisco da Silva.
Laureano morreu aos 86 anos, no dia 16 de janeiro de 1996 em São Carlos, cidade que morou por quatro anos.
Fotos: Éder Azevedo |
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Terezinha Santarosa Zanlochi mostra o acervo do Núcleo da USC |
Acervo
O Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica foi criado em 1983 na Universidade Sagrado Coração com a função de preservar o patrimônio histórico. Há arquivos públicos, pessoais, como de Laureano e de outras personalidades de destaque, arquivos de imagem e som, arquivos privados e diversas peças históricas. O Núcleo é para todo o público e, quem quiser visitá-lo, fica aberto nas terças, quartas e quintas-feiras das 8h ao meio-dia. A USC fica na rua Irmã Arminda, 10-50, Jardim Brasil.
Três nomes
“Marvada Pinga” (ou “Moda da Pinga”) era conhecida no fim da década de 1930 como “Festança no Tietê”. Foi gravada originalmente por Raul Torres, em 1937. Além de Ochelsis Laureano, ela foi composta por Raul Torres (este, nascido em Botucatu). Imortalizada por Inezita Barroso em compacto gravado em 1953 e lançado em 1954, que tinha o samba-canção “Ronda” (de Paulo Vanzolini) do outro lado.
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Escrivaninha que Laureano compunha também está no acervo |