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Simbologia: Artesãos inovam ao utilizar cerâmica antiga e estátuas feitas de gesso com pinturas diferenciadas |
A arte tem uma linguagem universal. Mesmo aqueles que não estudaram a história da arte ficam maravilhados diante de um quadro, uma imagem bem trabalhada. É lógico que aqueles que entendem enxergam as peças por outro ângulo. A arte sacra tem mais um ingrediente, a fé. Para aqueles que acreditam, a peça sacra tem outro significado. É sinônimo da presença do protetor. Na região, vários artistas produzem arte sacra de formas diferenciadas.
Para o professor de artes plásticas e artesão Alexandre Paulino, da região de Santa Cruz do Rio Pardo, a arte sacra é tudo o que é produzido visualmente com uma finalidade de culto. “No decorrer dos séculos a arte presente nas igrejas serviu a vários propósitos: inspirar temor, decorar, ensinar fiéis não alfabetizados. O universo e as funções da arte sacra variam no tempo e no espaço.”
Na opinião dele, não há diferença entre a arte sacra e os objetos religiosos. “Eu acredito que essa diferença seja estabelecida quando da aquisição da peça sacra. Ela pode ser meramente decorativa ou absolutamente devocional. Ou para os dois fins. A maneira como a pessoa irá encarar a peça que adquire é muito particular. De qualquer maneira vejo que os meus clientes buscam, primariamente, uma imagem que remeta carinhosamente àqueles seres de espiritualidade superior que tanto admiram.”
Ele explica que a arte sacra nasceu com os primeiros cristãos. “Ainda proscritos, eles decoravam com imagens simplórias e até ingênuas, os sepulcros dos mártires com imagens da simbologia cristã. Eram pessoas do povo, sem habilidade plástica. Mas vem daí o empenho em utilizar as artes visuais para alcançar a fé.”
Para muitos há diferenças entre a arte religiosa e a sacra. A diferença não está fundada nos caracteres intrínsecos de ambos e na inspiração de cada uma, mas no destino da obra artística. Aquelas destinadas ao culto não seria considerada propriamente como arte sacra e sim arte religiosa. A arte sacra seria a arte religiosa com destino de liturgia. Que fomenta a vida litúrgica nos fiéis.
Para o frei Pedro Pinheiro, do Seminário de Agudos, a arte sacra está acima da religião. “O processo de criação está ligado ao criador. O criador é o primeiro artista. Somos a imagem e semelhança dele, obviamente que somos artistas e tocados na pele por Deus, na medida que fazemos arte. O processo de fazer arte sacra, estamos em oração, numa metáfora.”
Na opinião dele, a arte tem suas nuances dentro da história da humanidade. “A arte desempenha papel extremamente importante na história da Igreja. Porque de alguma maneira você está gerando vida, significado, essência.”
O mercado de arte sacra no Brasil é promissor, na opinião do professor Paulino. “Apesar do avanço evangélico o Brasil ainda é majoritariamente católico. Os católicos são consumidores vorazes de objetos religiosos. Claro que é necessária uma adaptação aos gostos locais e isso pode promover uma renovação do interesse por este tipo de produto.”
A artesã Emannuelle Valim de Ourinhos compactua da mesma opinião e explica o motivo. “No Interior as obras sacras são bem vendidas. Eu faço muita telha com a imagem de Santa Rita e do Sagrado Coração de Jesus que são as mais procuradas e por consequência, as mais vendidas.”
Artista dá nova ‘roupagem’ a arte sacra
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Professor Alexandre Paulino faz um trabalho diferenciado com imagens tradicionais de santos |
Professor de artes plásticas e artesão Alexandre Paulino faz um trabalho diferenciado para dar um nova ‘roupagem’ às imagens tradicionais de santos. Ele aplica pedras, meias pérolas e estampas e faz pinturas especiais para dar as peças uma aparência de louça antiga, histórica. “Produzo concepções diferenciadas para imagens que tradicionais receberiam apenas camadas de cor para imitar a figura humana em estilos que variam entre o chamado borsato ao estilo envelhecido que remete ao barroco mineiro.”
Para atender a preferência de clientes, ele também realiza pinturas no estilo barroco mineiro. “Sob encomenda, também realizo pinturas no estilo barroco mineiro, para atender a clientes que preferem a segurança do tradicional e que desejam uma peça apenas devocional. São estatuetas de santos e santas de diversos tamanhos. Comecei a fazer porque sempre admirei o apelo visual da fé católica. Não era, de início, uma forma de incrementar meu orçamento. Era mesmo um hobby.”
O artesanato surgiu na vida do professor há aproximadamente oito anos, mas há três é que o hobby passou a representar algum ganho financeiro. “Há três anos, as encomendas se tornaram mais frequentes a ponto de eu fazer peças de acordo com o gosto dos clientes. Acredito que encontrei um caminho meu para produzir, na questão do acabamento e do estilo, por exemplo.”
A obra de Paulino tem sua marca. “As minhas peças têm a minha concepção visual, o meu conceito. Faço flores, arabescos, missangas, tecidos e madeira e isso torna meu trabalho diferente de outros artesãos. Trabalhos de artesãos diferentes têm muito espaço nesse mercado promissor.”
A satisfação dos clientes é encarada como uma premiação para o artista. “Não fui premiado, mas estou feliz. No meu trabalho, admiro a trajetória das pessoas representadas pelas imagens que eu produzo. De cada uma destas histórias de vida é possível captar algo que nos aprimora como seres humanos. Ajuda a transformar nosso meio. Faço exposições mensais na cidade de Ourinhos e de Santa Cruz do Rio Pardo, sob a iniciativa dos secretários da Cultura. Anualmente monto um estande na Artesanal Ourinhos que já está em sua quarta edição.
Arte e religião se fundem nas obras do frei Pedro Pinheiro
Ele diz que cada escultura é fruto de uma reflexão muito profunda
Éder Azevedo |
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Frei Pedro Pinheiro, do Seminário de Agudos, faz belas esculturas |
O frei Pedro Pinheiro do Seminário de Agudos é uma pessoa muito sensível. Tem a arte e a religião no sangue. Para ele, as duas se fundem. Desde os cinco anos, desenha estrelas e se divertia desenhando-as nas paredes de sua casa, em Portugal, onde nasceu.
Crítico e de boa retórica, o religioso acredita que não há separação entre a arte e a religião. “Aos 18 anos, descobri a pintura, fiquei apaixonado e busquei conhecimento no Museu de Arte Moderna de São Paulo”. Depois, ele fez oficina de joias, pesquisou metais, mas foi em Rodeio (SC) que manteve o primeiro contato com a argila, material que usa para fazer imagens de santos.
A argila e dois sacos do material branco foram um presente de um frade. “Percebi que a argila tinha uma plasticidade incrível. Passei aquela noite no sótão do convento e fiz o meu primeiro presépio. Antes, nunca tinha feito uma escultura.”
A partir disso, o misto de religioso e artista não parou mais. São inúmeras as obras sejam sobre telas ou com a argila, ele deixa sua marca. Mais recentemente, ele incrementou ainda mais seu acervo. Passou a criar peças a partir do lixo. “Faço peças sem rostos para dizer que o indivíduo contemporâneo está perdendo valores, características, está derretendo como o plástico.”
A proposta, segundo o frei, é fazer com que as pessoas reflitam sobre a situação atual. “O ser humano produz muito lixo e acumula lixo em seu interior. O rancor, a inveja, a ganância e o orgulho são lixos que podem ser transformados em atitudes amorosas, desprendidas.”
Questionado sobre o que cada obra representa, ele é enfático e confessa. “Assim como os pais amam seus filhos, eu amo minha obra. Não faço uma peça para ser bonita. Cada obra é resultado de uma reflexão profunda. Tenho paixão por aquilo que faço. Se me perguntam se sou mais artista ou religioso, eu não sei responder. É a mesma coisa.”
Artista usa telhas bem antigas para fazer arte sacra
Fotos de Ourinhos/Reprodução Facebook |
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Bacharel em Direito Emannuelle Valim expõe telhas com imagens de santos em feiras culturais |
A jovem Emannuelle Valim, 28 anos, é uma bacharel de Direito. Seu talento foi descoberto por acaso. “Eu faço todo tipo de artesanato, aprendi a fazer tudo sozinha. Eu já decorava telha para os amigos. Um dia, fiz uma self na sala de casa e uma telha estava no fundo da foto. Foi a primeira telha que decorei. Demorei 22 horas para fazer aquela peça,” diz a moradora de Ourinhos.
A foto rendeu a descoberta da artista, conta Emannuelle. “Uma moça que organizava uma exposição de cultura num pub viu e me chamou para expor num evento. Até então não tinha feito nada assim, só produzia para as pessoas conhecidas. Praticamente fui descoberta. Não fazia para vender.”
No pub, a arte produzida por Emannuelle ‘ganhou corpo’. “O secretário de Cultura de Ourinhos estava tocando lá, viu meu trabalho e me chamou para participar do projeto ‘Sabadarte’. Foi assim que meu trabalho começou a aparecer. Não vivo disso, sou bacharel em Direito e presto assessoria jurídica. Não dá para viver exclusivamente de arte. O retorno tem sido além do esperado, aqui na região, especialmente em Santa Cruz do Rio Pardo.”
Ela começou a comercializar as peças em agosto do ano passado. “Faço muita telha com imagem da Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora de Lourdes, do Sagrado Coração. São as mais conhecidas e as mais vendidas. Dependendo do local que vou exponho, faço uma temática. Telhas com imagens de santos são muito procuradas.”
Ela usa todo tipo de telha, inclusive aquelas confeccionadas no tempo dos escravos, que são, por si só, peças artesanais. “Eu busco essas telhas em Minas Gerais, são bem rústicas. Trabalho com telhas industriais, as paulistinhas. Em Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo e no Paraná, as imagens sacras são bem aceitas.”
Ela participa de feiras e em cada uma delas leva de 30 a 50 peças. “Cerca de 70% delas são com imagens sacras. Em Santo Antônio da Platina eu vendo 90% das peças. Em Ourinhos eu vendo mais as telhas com a pegada mais indiana. Santa Cruz do Rio Pardo, vendo 70% das peças com os santos.”
Ilusão de ótica
Antes de pintar as imagens sacras nas telhas, Emannuelle dá um tratamento na telha. “Ela tem que ficar mergulhada na água. Amanhece ali para que fique bem molhada. Se ela estiver seca, a tinta não adere à peça. Depende muito do que eu vou fazer. Algumas imagens são pintadas. Eu começo com o fundo e depois passo a pintar a frente.”
Para fazer as imagens sacras, ela usa uma resina. “Essa resina nos olhos do santa dá uma ilusão de ótica. Parece que a imagem te segue dentro de um ambiente. Os olhos ficam saltados. Olhando para a imagem se tem a impressão que ela está te seguindo. É muito interessante.” Para o acabamento, ela usa verniz automotivo. “Essas peças podem tomar sol e chuva, elas não desbotam e não descascam. Se eu usar verniz artesanal, o mesmo efeito não é adquirido. É um produto próprio para enfrentar as intempéries do tempo.”



