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"A Bíblia aceita a reencarnação" segundo pesquisador das escrituras


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Quioshi Goto

Severino Celestino da Silva mostra livro que analisa as traduções bíblicas

Será que a Bíblia que lemos em português, em suas várias versões e traduções de diferentes autores,  é realmente fiel ao hebraico original? Quais são as perdas e equívocos na essência das traduções? Encontrar respostas e pesquisar esta grande questão a fundo é o trabalho e a vida do professor-doutor  Severino Celestino da Silva, especialista em tradução do hebraico, ex-seminarista,  escritor e professor de pós-graduação em Ciências das Religiões que esteve em Bauru na sexta-feira e volta neste domingo (19), após ter ido proferir palestra também na região, em Jaú.


Em entrevista especial ao Jornal da Cidade, com colaboração da Associação Chico Xavier, ele fala sobre as diversas interpretações dos escritos bíblicos e analisa, sob o ponto de vista espírita, a questão da reencarnação. Para ele, no entanto, não há dúvidas de que o mais famoso livro do mundo, as Escrituras Sagradas, aceitam a reencarnação.


Um estudioso


Nascido em Alagoa-Grande, Paraíba, em 1949, o pesquisador estuda a Bíblia desde 1964, visita anualmente Jerusalém, dirigindo grupos de pesquisas. Professor de judaísmo, especialista no estudo de línguas antigas (proficiência em hebraico, grego e latim) esteve presente na sexta (17) na Feira do Livro Espírita, que acontece no Boulevard Shopping Nações.


Hoje às 9h da manhã ele profere palestra no Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac) justamente sobre o tema “Analisando as traduções bíblicas”.


Segundo o Professor Severino Celestino da Silva, há várias perdas da essência dos textos sagrados em relação ao hebraico em que foi originalmente escrito. Um exemplo é a passagem do Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará”. Na língua original, a tradução correta é: “ Deus é meu pastor e (Ele) não me faltará”. “Na primeira tradução, Deus não deixará faltar nada (de material). Já na original, significa que Deus não nos faltará, nos provê e nos assiste”, defende Silva.


Outro exemplo, de acordo com o estudioso que já analisou 22 traduções diferentes da Bíblia para a língua portuguesa, no Salmo 19, versículo 8, é possível encontrar versões diversas e até mesmo contraditórias: “A lei do Senhor é perfeita, refrigera a alma”. “A lei do Senhor reconforta a alma”. “A lei do Senhor restaura do Senhor”. “A lei do Senhor  devolve a respiração”. “A lei converte a alma”. O estudioso explica que há muitas perdas nas traduções em relação à cultura, costumes e em que situação político-social em que os textos bíblicos foram escritos.


Patriarcado


A Bíblia é uma grande biblioteca em que cada livro tem um objetivo, dependendo do público ao qual se destinava.  Segundo o estudioso, é válido lembrar que a Bíblia foi escrita pelos homens e que os anjos são uma criação da Igreja, na verdade, na Bíblia retrata os mensageiros de Deus.


“Machismo e patriarcado faziam parte do contexto político-social em que os textos foram escritos”. Na visão do especialista, a tradução dos textos sagrados da língua original, em muitas versões, foi feita de forma literal, simplificada, havendo perda do significado e sentido real das mensagens.


Crença na ressurreição é dos egípcios


A crença na ressurreição, que significa “se levantar” ou “ficar de pé novamente” é uma criação dos egípcios, que faziam grandes túmulos, as pirâmides para os mortos.  Eles acreditavam que os faraós iam ressuscitar. “Esta crença passou para os judeus, através do profeta Daniel. O despertar físico ou espiritual na ressurreição de Paulo, na Bíblia, é espiritual. Como seria a ressurreição dos mortos, com que corpo físico?”, questiona o professor.


Ele aponta que a reencarnação, em que o espírito, desencarnado, retorna ao mundo material estruturando um novo corpo físico é mais acreditada no hebraico, língua em que a Bíblia foi escrita originalmente.


Segundo suas pesquisas das Histórias das Religiões, o judaísmo ortodoxo, por exemplo, mesmo não sendo da doutrina espírita, aceita a reencarnação. “No dia em que as religiões entenderem o princípio da reencarnação, que parte do princípio em que o progresso de sua vida está em suas mãos, acabariam os intermediários (como papa, padre, pastor) na relação entre o homem e Deus. 


Ensinamentos reencarnacionistas


“João Batista é Elias” (no Evangelho de Mateus, capítulo 11, versículo de 10 a 14) é uma das passagens mais conhecidas que remetem à reencarnação. No livro “Analisando as traduções bíblicas” de sua autoria,  há vários capítulos dedicados ao tema em que o autor encontra mensagens relacionadas à reencarnação nos textos bíblicos.


Segundo ele uma simples “troca de preposição muda sentido reencarnacionista do Êxodo, livro de Jó, nos Salmos, no Novo Testamento, Os Profetas e os Médiuns Espíritas, A Lei do Carma na Bíblia, Fenômenos Mediúnicos e comunicação com os mortos na Bíblia”. 


Machismo e patriarcado


Por outro lado, para o autor, é preciso ter em mente sempre que a Bíblia é uma grande biblioteca em que cada livro tem um objetivo, dependendo do público ao qual se destinava .  Segundo o estudioso, é válido lembrar que a Bíblia foi escrita pelos homens e que os anjos são uma criação da Igreja, na verdade, na Bíblia retrata os mensageiros de Deus. “Machismo e patriarcado faziam parte do contexto político/social em que os textos foram escritos”.


Na visão do especialista, a tradução dos textos sagrados da língua original, em muitas versões, foi feita de forma literal, simplificada, havendo perda do significado e sentido real das mensagens.


Serviço


Dia 19 (hoje), às  9h: Palestra no Centro Espírita Amor e Caridade. Rua 7 de setembro,

8-30, Bauru-SP


Livros do autor


“Analisando as traduções bíblicas” e mais seis obras, entre elas,  “O Sermão do Monte”, relativo ao famoso discurso proferido por Jesus aos ouvintes da Galiléia, da Judéia, de Jerusalém.

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