Na data de 7 de maio, celebrou-se o Dia do Silêncio. Nem imaginava que pudesse existir uma data para homenagear o silêncio, mas, enfim... Aliás, por falar em silêncio, recordo-me que uma das primeiras vezes que fui numa instituição de cunho religioso li a seguinte frase ao adentrar o salão: O silêncio também é uma prece. Fiquei, então, encabulado de conversar, já que estava na casa de oração e ali diz que o silêncio é uma prece, simbora ficar calado.
Resultado: sai de lá sem conversar com uma pessoa sequer. Como todos ficavam calados, em silêncio e, por isso, orando, resolvi não meter a colher na oração alheia ou, melhor, no silêncio alheio. Depois é que entendi a razão pela qual as instituições afirmam ser o silêncio uma prece. Há pessoas e pessoas, e algumas caminham com o desconfiômetro desligado. Falam, falam, falam e falam alto atrapalhando o ambiente de sossego que reuniões de caráter espiritual exigem.
E como diz o poeta Renato Russo tem gente que fala muito e não tem nada a dizer. Entretanto, considero o silêncio ótima ferramenta que proporciona a reflexão e, não raro, impede arranhões nos relacionamentos. Quando a coisa complica é melhor calar para não falar "abobrinha" e piorar o que já não está bom. Esse é o silêncio providencial, que evita estragos e respeita o momento intempestivo do outro.
Mas, convenhamos, o silêncio depende do contexto. Eu, por exemplo, gosto do silêncio quando olho para o mar. É impossível não querer silenciar no encontro com a belíssima praia de Itapuã. Aquele silêncio é como se Deus conversasse comigo. Neste caso, aprecio e muito silenciar. O silêncio também é fundamental quando queremos dar uma pausa na correria do dia a dia, acalmar a alma, serenar o coração. Este silêncio é bom porque trabalha, não é omisso tampouco inerte, mas um silêncio que produz.
Todavia... Ah, todavia, penso que não se pode usar o silêncio quando a voz deve pulsar. Abdicar do silêncio para falar dos desmandos, da corrupção, das insanidades que acontecem em nosso País é um dever.
Quando ocorrem injustiças, absurdos, abusos de todas as formas, o silêncio deve ser quebrado. Silenciar nesses casos é ser conivente, é apoiar a barbaridade. Enquanto muitos silenciam, o Brasil é surrupiado, pessoas morrem por dengue, em tiroteios, arrebentadas pelas drogas, escangalhadas por um silêncio omisso.
Silêncio é bom, mas muito silêncio faz mal. Silêncio demais demonstra indiferença, mais ou menos assim: Tô nem aí... Ou, então, pode significar medo. Como diz o Rappa: Paz sem voz não é paz, mas medo. O silêncio é bom, gosto de silenciar, mas tenho que ser sincero: Ainda prefiro uma boa prosa... Simbora, então, falar...
O autor é colaborador de Opinião