Há uma frase emblemática no cotidiano dos negócios: transforme ameaças em oportunidades. A chamada análise SWOT - Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças) demonstra que dentro das organizações há fatores internos (pontos fortes e fracos) que se completam com os fatores externos (oportunidades e ameaças). O desafio não somente às organizações, mas para cada um de nós, quer no ambiente de trabalho, quer nos estudos ou ainda na vida cotidiana, é conhecer profundamente os pontos fortes e fracos e analisar o que pode gerar ameaças e oportunidades.
Os números da economia brasileira apontam para um momento delicado. A crise econômica é sentida pela população com maior ou menor intensidade. Se alguém, por exemplo, é empreendedor, comanda uma empresa e opera com vendas fracas, sem dúvida a dimensão da crise é maior, isso acontece também para quem trabalha no setor privado da economia, tendo perda de emprego ou sente o desemprego rondá-lo. Por outro lado, banqueiros, detentores de grandes fortunas, os que acumularam reservas, funcionários públicos que possuem estabilidade e aqueles que têm renda independentemente do desempenho ruim da fonte pagadora, sentem menos.
Se considerarmos, por exemplo, a inflação, que está acima dos níveis desejáveis, os assalariados sentem muito a perda do poder aquisitivo de sua renda. Podemos considerar, neste contexto, que o ambiente externo ameaça, como colocado, uns mais do que outros.
Nos fixemos naqueles que estão mais ameaçados neste momento. Saber com clareza as virtudes e as limitações permite a tomada de decisão na direção certa. Àqueles que não fazem isso se sentem inseguros e a insegurança derruba qualquer propósito de mudança. Aos seguros, a ameaça, por exemplo, do desemprego, pode abrir a oportunidade em tirar da gaveta antigos propósitos em abrir seu próprio negócio, de prestar consultoria, enfim, de olhar o mercado com outros olhos. Quando temos algo fixo, seguro (mesmo que muitas vezes não trazendo realização pessoal e profissional) pode ocorrer de nos acomodarmos, é o que se chama de operar na chamada zona de conforto. No campo das oportunidades observem o mercado de consumo. Para vender mais, empresas estão oferecendo excelentes condições ao consumidor. Surgiu uma oportunidade para àqueles que possuem reservas financeiras: compras de bons produtos a um preço muito convidativo.
Voltando ao ambiente empresarial o momento é de fazer mais com menos. Oportunidade de ganhos em produtividade, portanto, em tempos bicudos, a gestão do orçamento empresarial deve ser executada com lupa. Se isso é realizado de maneira inteligente, a empresa obterá nesta fase, envergadura, para que, no momento da recuperação econômica (ela virá mais cedo ou mais tarde) esteja mais bem preparada.
Na prática, podemos ter dois principais comportamentos diante da adversidade: lamentar ou enfrentar. Se me oferecem um limão, posso fazer muitas coisas com ele, por exemplo, esfregar no olho ou uma limonada. A opção é sua. Evidentemente que não há mais ingênuos no mercado, e não adianta somente ter percepção positiva sobre as ameaças e oportunidades oferecidas, contudo, independentemente da posição que estejamos é o momento de ter atitude.
A crise atual tem vários contornos, inclusive a questão política. Só não é possível ficar esperando a morte chegar (como diria o saudoso Raul Seixas). Encarar os fatos, conhecer os pontos fracos e eliminá-los, saber dos pontos fortes e reforçá-los, analisar as ameaças e apostar nas oportunidades são práticas que permitem enfrentar este e qualquer outro momento da economia. Pratique isso.
O autor é economista e articulista do JC