Tribuna do Leitor

Liberdade x livre arbítrio


| Tempo de leitura: 3 min

A palavra liberdade sempre esteve ligada à ideia do livre-arbítrio, ou seja, o poder de decidir sobre o próprio destino. Porém, mesmo que a raiz desta concepção permaneça a mesma desde a Grécia Antiga, ocorreu uma grande mudança de lá para cá. Hoje a liberdade é entendida na esfera individual e não coletiva, ou seja: lança-se o olhar para o indivíduo e não mais para o homem inserido na sociedade, "Com isso, ao invés de liberdade, no singular, passamos a ter liberdades no plural, pois cada indivíduo teria direito a expressá-la".

Assim, a busca pela liberdade hoje é um caminho para a felicidade, mesmo que fugaz e temporária. Há uma ideia de que ser livre é poder agir para desfrutar de um prazer imediato. Isso se traduz no aparecimento de relações menos estáveis, tanto profissionais quanto pessoais, muitos sociólogos, filósofos, historiadores assinam que ser livre atualmente também significa poder desfrutar dos prazeres da vida e do corpo o que na verdade, era impensável nos primeiros anos do cristianismo, em que a liberdade estava associada à superação das tentações da carne e do corpo pecador,

Contudo, a liberdade continua restrita à necessidade de se adequar à vida em sociedade. "No contexto social, é livre quem exerce sua liberdade até o limite da liberdade alheia", é o que vemos defendido nos argumentos de vários sociólogos, nos discursos religiosos e de forma geral no princípio da ética e da moral. Quem não se importa com os outros só se sentiria mais livre se estivesse vivendo isolado em uma ilha. "Caso contrário, acabaríamos por nos privar da liberdade que temos, já que os outros também se sentiriam no direito de exceder os nossos limites". Para a área da psicologia, por exemplo, "se levarmos em consideração que toda ação acarreta uma reação, fazer o que quer sem pensar nas consequências não torna ninguém mais livre nem garante a conquista da felicidade", pois toda atitude ou discurso estará levando o sujeito a ser refém da sua própria liberdade. Portanto, frente a todo paradoxo, só é livre quem conhece a si mesmo e ao mundo em que vive. Quanto mais conscientes estamos dos conflitos internos e, ao mesmo tempo, quanto mais maduros estamos para lidar com a pressão dos outros e da sociedade, mais livre seremos. A questão não é não ter limites e restrições, e sim conhecê-los e saber trabalhar dentro deles.

Frente a esse processo de autoconhecimento não há espaço para o individualismo. Você precisa do outro para ser você mesmo. O mundo de fora proporciona aprendizados e lições, que o fazem tomar consciência dos seus limites e da sua capacidade de falhar. Estar bem informado sobre o que acontece de fato no mundo também é uma condição essencial para se sentir mais livre. A informação barata e rasa que algumas mídias transmitem mascara o mundo. Com isso, as pessoas enxergam poucas possibilidades para a vida e o futuro, o mundo delas se torna pequeno.

Concluindo, existem pessoas que tem dificuldades para lidar com a liberdade, já que ela traz como consequência a necessidade de assumir a responsabilidade pelos próprios atos. As pessoas erram mais quando se sentem mais livres. Por outro lado, também aprendem com seus erros e, em etapas seguintes, elas acertam mais. A liberdade, portanto, é um atributo exclusivamente humano, que nos lança à condição de incerteza, de capacidade de escolha e de ruptura com um destino certo. O mais importante dentro deste contexto, é que você seja conhecedor da vida, do seu eu e do outro para exercer seu livre arbítrio.

Juliana Genovese

Comentários

Comentários