Estas reminiscências se originam no dia 17 de junho de 1822, quando os maçons do Rio de Janeiro, em Sessão Magna Extraordinária na Loja Comércio e Artes, única até então naquela cidade, resolveram criar a primeira potência maçônica denominada Grande Oriente do Brasil, sendo José Bonifácio de Andrada e Silva (Pitágoras) eleito Grão Mestre. Joaquim Gonçalves Ledo, que adotara o codinome Diderot, antigo costume maçônico da época, foi eleito Grão Mestre Adjunto. Para a historiografia maçônica, a nona Sessão do Grande Oriente do Brasil se reveste de um significado particular. Na data do dia 2 de Agosto de 1822 consta que o Grão Mestre apresentou proposta para iniciação nos mistérios da Ordem o nome de Sua Alteza D. Pedro, príncipe regente do Brasil e seu defensor perpétuo.
Aprovada de forma unânime, D. Pedro foi comunicado e, dignando-se aceitá-la, compareceu na mesma sessão, sendo acolhido conforme prescrevia a liturgia maçônica. Nesta data é preciso reverenciar a memória de D. Pedro, regente do Brasil, que ao ser iniciado maçom adotou o nome histórico de Guatimozim, em homenagem ao último imperador dos Astecas na região de Anahuac, área atual do México, que depois de supliciado, foi amarrado e lançado sobre brasas até morrer, em 1522, pelos invasores espanhóis liderados por Hernan Cortez.
Simbolicamente, Pedro I considerou-se à semelhança de Guatimozim, disposto a sacrificar-se pelo Brasil, honrando o título de Defensor Perpétuo que lhe foi outorgado pela própria Maçonaria em 13 de maio de 1822. Bastante envolvido nas teias daquelas que articulavam a independência e agora fazendo parte do mesmo grupo foi rapidamente elevado ao grau 2 (Companheiro) e posteriormente exaltado ao grau 3 (Mestre), alcançando a plenitude de sua curta, porém rica vida maçônica. Em 7 de setembro de 1822 proclama a independência do Brasil e, em 4 de outubro do mesmo ano, assume o cargo de Grão Mestre da Maçonaria no Brasil.
Os fatos narrados e documentados fazem parte do acervo dos Arquivos da Casa Imperial do Rio de Janeiro e pesquisadores comprometidos com a memória, e outros não maçons, não se destoam; melhor se coadunam com a historiografia maçônica que reconhece o devido valor daqueles que estiveram à frente dos fatos marcantes, desde os primórdios da Idade Média até os dias atuais.
A trajetória política de D. Pedro está sendo revisitada e novas pesquisas revelam o lado fascinante do homem que conseguiu transformar a América Portuguesa numa única nação, destino bem diferente da América Espanhola que se fragmentou em várias repúblicas. Desse marco histórico, a figura de Guatimozim e de outros personagens, maçons ou não, nos permite rememorar, em breves toques no teclado, os feitos emocionantes de uma plêiade de homens admiráveis, não heróis, mas intérpretes sagrados dos ideais de liberdade, autênticos patriotas, como já, infelizmente, não se vê mais.
O autor é formado em história, funcionário público estadual e membro da Loja Maçônica Deus, Pátria e Família de Bauru