Para sabermos o que trouxe o jovem português Manoel Alves Seabra a Bauru, em 1889, precisamos recorrer um pouco à história dos imigrantes portugueses. “Há 140 anos, o Sul de Portugal era dominado por latifúndios e grandes propriedades rurais. No Norte, por sua vez, predominavam pequenas propriedades agrícolas e, portanto, quem não adquiria um pedaço de terra estava fadado à pobreza, o que fez com que sucessivas gerações de portugueses imigrassem para o Brasil, provocando assim o equilíbrio entre a escassez de recursos, o crescimento constante da população e a falta de terras, e então, como forma de não sobrecarregar a economia baseada na pequena propriedade rural, as famílias incentivavam a migração periódica de seus filhos para o Brasil. Esses portugueses encaminhados para o Brasil tinham um perfil típico, geralmente eram do sexo masculino, bastante jovens e muitos deles quase crianças, enviados para o Brasil pelas mãos de algum parente ou padrinho. Além de ajudar a economia local, a vinda desses jovens para o Brasil também lhes era benéfica para fazê-los escapar de “uma existência limitada por padrões de vida numa sociedade empobrecida, mesquinha e conservadora”, nas palavras da historiadora Ana Silvia Scott. Porém, cruzar o Atlântico em direção à América não era nada fácil: a viagem, na terceira classe do navio a vapor, podia durar até 40 dias, em uma condição de pobreza, com muitas pessoas e pouca comida, além dos surtos de piolho e doenças, como o sarampo e a cólera. Quando alguém morria, o corpo era colocado dentro de um saco de lona juntamente com algumas pedras de carvão mineral para fazer peso, costurava-se o saco que, após uma rápida cerimônia religiosa, era lançado ao mar, para evitar assim o contágio dos demais passageiros. Embora, diante de tantas dificuldades, muitas pessoas ainda cantavam e sonhavam em um clima de esperança que os ajudava muito a enfrentar a viagem. Somente quando chegavam aos portos brasileiros as famílias descobriam para qual região do País seriam levadas”.
Foi neste cenário que o jovem de 21 anos, Manoel Alves Seabra, chegou ao Porto de Santos, em 1889, seguindo de trem para São Paulo e, posteriormente, em carro de boi ou no lombo de um burro para a região onde surgiria Bauru. Ele poderia ter sido mais um em meio aos milhares de imigrantes que vieram ao Brasil, mas, devido ao seu caráter indômito, sagaz e empreendedor, conseguiu em poucos anos sair da condição de trabalhador braçal para constituir vários empreendimentos e tornar-se um homem bem-sucedido nos primórdios de Bauru, sendo proprietário de indústria de macarrão, hotel, fazendas, onde cultivava café, e empreendimento imobiliário, onde construiu e vendeu casas em terras adquiridas, que hoje formam uma conceituada vila de nossa cidade, que recebeu o nome de Vila Seabra. Foi vereador em 3 oportunidades, presidente da Beneficência Portuguesa e em outras gestões ocupou a vice-presidência, dentre outras atividades sociais.
Em maio de 1998, seus descendentes, motivados por um imbróglio quando houve o comunicado da morte de um parente quando na realidade o falecido era outro, surgiu entre dois primos a ideia do primeiro encontro. Eles queriam a família reunida não só em eventos fúnebres, como aquele e sim em encontros festivos e desta forma resgatar a importância do legado histórico do coronel Manoel Alves Seabra e seus muitos feitos. Este projeto prosperou, sendo realizado o segundo encontro em 2004. O terceiro em 2009. O quarto encontro será no próximo mês de outubro de 2015, onde serão apresentados outros dados históricos, além de muito lazer e entretenimento para todos participantes. Está sendo aguardada a presença de mais de duas centenas de descendentes, com Seabras vindos de diversas partes do Brasil e do Exterior. E como diz o refrão do samba enredo recém composto para homenagear o coronel e a família: Tem Seabra no norte, tem Seabra no sul e tudo começou lá em Bauru. Viva! Seabrafest 2015!
Mauricio Alves Seabra – bisneto de Manoel Alves Seabra