Polícia

Assaltos a residências expõem crianças a alto risco e traumas

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 5 min

Polícia Militar/Divulgação
Um dos acusados está preso e pertences, como eletroeletrônicos e perfumes, foram recuperados 
Carro da família, um VW/Fox, também foi roubado, mas a polícia o localizou no Jardim da Grama

O noticiário mais recente não deixa dúvida: crianças estão também passando pelo trauma de ser ver como vítimas de assaltos em casa em Bauru. Episódio mais recente ocorreu no fim da noite da última quarta-feira (28). Foi quando uma menina de 5 anos, os dois irmãos e a mãe acabaram rendidos por quatro homens armados, que invadiram a residência onde a família vive, no Jardim Brasil.

Jonathan Ricardo Morilho Soares, 24 anos, foi preso por roubo. Além disso, a polícia trabalha para identificar e localizar o restante do bando. Conforme boletim de ocorrência, “quatro indivíduos mascarados e armados” entraram na casa da família por volta das 23h.

Eles amarraram as vítimas com cabos telefônicos e as mantiveram em um dos cômodos enquanto subtraíam diversos objetos. Inclusive, os suspeitos utilizaram o carro da família, Fox, para fugir. Em seguida, as vítimas conseguiram se desamarrar e acionaram a Polícia Militar, que deu início à busca dos autores do crime.

Informados sobre a placa do veículo da família, os policiais avistaram o carro na região da Vila Falcão. Os militares, portanto, se aproximaram e dois dos suspeitos, que estavam no veículo, o abandonaram na rua São Sebastião, no Jardim da Grama, e fugiram a pé em direção ao Jardim Prudência. Dentro do carro, a polícia encontrou a maioria dos pertences, que já foram devolvidos.

Ainda em busca dos suspeitos, os militares se depararam com Jonathan Ricardo Morilho Soares, que estava correndo pelas ruas sem camisa. Ao ver a viatura, o rapaz se sentou na guia da calçada da quadra 2 da rua Soldado José Soares, no Prudência.

Ele portava um celular, que correspondia à descrição do objeto pertencente a uma das vítimas e continha dados pessoas, senha e fotos dela. Soares disse que era dono do telefone.

O suspeito também escondia um capuz, provavelmente, utilizado durante o roubo, além dos R$ 90,00 em espécie. Nas proximidades do local onde foi abordado, os militares encontraram uma blusa que correspondia às características do moletom usado por um dos ladrões.

‘Sondagem’

Soares, então, foi encaminhado à Central de Polícia Judiciária (CPJ), de onde recebeu voz de prisão em flagrante por roubo. Além disso, o local do crime passaria por perícia.

A maioria dos itens subtraídos (duas mochilas, duas bolsas, três pares de tênis, um GPS, dois televisores, duas câmeras digitais, dois notebooks, um porta-retratos digital, uma caixa de som, um videogame, joias, perfumes, dois celulares, roupas e R$ 90) foi recuperada.

Jonathan foi levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Bauru.

Segundo o delegado responsável pelo inquérito policial, Milton Bassoto Junior, o próximo passo será identificar e prender o restante do bando, que teria utilizado um VW/Gol para sondar a residência da família antes de colocar a ideia em prática. Ele aproveita para passar orientações para acalmar as crianças, caso sejam vítimas de assalto.

Cautela

Entre as recomendações, o delegado aconselha que a família as abrace e as deixe sempre por perto. Qualquer atitude de desespero por parte da garotada poderia incitar os bandidos a apelar para a violência extrema.

“Outra dica é, caso aconteça uma eventual agressão contra algum membro da família, não deixar que as crianças a vejam porque poderá, de fato, traumatizá-las”, finaliza Bassoto.

Vítima: ‘Ele disse que nos mataria se a criança não calasse a boca’

Uma das vítimas do assalto no Jardim Brasil, um advogado de 29 anos, revive momentos de terror que passou junto ao irmão, um estudante de 18 anos, à irmã de 5 e a mãe, uma esteticista de 50 anos.

Por questões de segurança, nenhum deles terá a identidade divulgada. O primogênito, inclusive, foi agredido com soco no nariz e levou uma coronhada de arma de fogo na cabeça.

Ele conta que os ladrões aproveitaram que a mãe chegava do mercado e entraram na casa. Quando ela entrou na residência, pegou a filha caçula, que não parava de chorar, no colo. Um dos ladrões chegou a apontar a arma para as duas.

“Ele disse que nos mataria se a criança não calasse a boca”, narra. Com o tempo, a menina acabou ficando mais calma.

Outros casos recentes

Esse não é o único caso de assalto com crianças como vítimas em casa. Conforme o JC já noticiou, uma família, formada por um empresário de 35 anos, sua esposa, de 34, e dois filhos, de 4 e 10 anos, foi feita refém em sua própria casa, no Parque São Geraldo, em Bauru, durante um assalto que ocorreu no último dia 25. Os dois bandidos, que não foram presos ou reconhecidos na ocasião, estavam encapuzados e invadiram o imóvel pelo quintal. Um deles estava armado.

Outro caso diz respeito a um assalto a residência no Jardim Bela Vista. O roubo foi marcado por perseguição e acidente, na manhã do dia 1 de setembro deste ano. Três homens armados invadiram a casa do dono de um restaurante, de 44 anos, renderam ele, a esposa e o filho de 4 anos e fugiram com o carro da filha mais velha, de 21 anos. Durante o roubo, a criança teria tomado frente da situação para pedir calma aos bandidos.

Na base da conversa

Embora o psicólogo Lucas Faria Gonçalves ressalte que cada criança reage de forma diferente, situações de violência têm de ser tratadas na base da conversa. “Não há uma receita, porque varia de criança a criança, mas o indicado é tentar tranquilizá-la”, reitera. Segundo Gonçalves, não dá para prevenir a garotada de algo que tem pouca chance de acontecer.

Se isso for feito, a criança poderia ficar amedrontada e ansiosa. Após uma situação de violência, os pequenos têm chances de desenvolver traumas e, nesse caso, identificar mudanças comportamentais é extremamente importante. “É normal ficar com medo algum tempo após ser vítima de um crime, mas se a criança passar a ter dificuldades de ficar longe dos pais e ter medo de tudo, o conselho é procurar ajuda profissional”, acrescenta.

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