Bairros

Idosa morre e família registra BO

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 5 min

Arquivo Pessoal
Manoelina Isaac ficou em estado grave possivelmente por complicações pós-cirúrgicas

Uma mulher de 74 anos morreu após sofrer uma parada cardíaca dentro de uma ambulância que estava estacionada em frente ao Hospital de Base (HB) de Bauru. A paciente, Manoelina dos Santos Isaac, aguardava internação em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), cuja vaga já havia sido previamente liberada.

A família acusa a Santa Casa de Misericórdia de Duartina, onde Manoelina estava inicialmente internada, de negligência pelo fato de ela não ter recebido os devidos cuidados após sofrer com complicações pós-cirúrgicas. Aponta, ainda, que houve demora para a remoção da idosa entre a ambulância e o leito do HB. O caso foi registrado na polícia na noite da última terça-feira (10) e, até essa quarta (11), a causa da morte da paciente não havia sido divulgada pelo Instituto Médico Legal (IML).

As dificuldades para que Manoelina recebesse o atendimento adequado de saúde, contudo, começaram bem antes. Moradora de Duartina, a idosa foi submetida a uma cirurgia para retirada da vesícula há 21 dias, na Santa Casa da cidade.

Segundo familiares, depois de receber alta, o abdômen da mulher começou a inchar. “Ela, que era magrinha, ficou com uma barriga de gestante e mal conseguia comer. Voltamos quatro, cinco vezes no hospital e o médico receitava remédio para gases e para dor, dava soro e dizia que ela estava com fraqueza”, comenta a sobrinha Vera Lúcia da Silva Santos.

Ela conta que, como o estado de saúde da idosa só se agravava, a família decidiu chamar um médico particular, que foi até a casa de Manoelina na quinta-feira passada e alertou que ela precisaria de uma nova cirurgia. “Ele disse que aquilo não era normal. Então, ela voltou à Santa Casa e novamente deram remédio para gases”, reclama.

Na manhã de segunda-feira, a paciente retornou pela última vez ao hospital e depois de ser submetida a um exame de ultrassom no dia seguinte, os médicos entenderam que ela precisava receber cuidados especializados. Foi quando a vaga de UTI foi solicitada à Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), órgão vinculado à  Secretaria de Estado da Saúde. “Nessa hora, ela já estava delirando, suando frio, com falta de ar e sem conseguir ficar em pé sozinha”, acrescenta Vera.

Espera

O pedido de vaga foi efetuado às 18h58 da última terça (10) e a vaga no HB foi liberada pela Cross às 20h06. Apesar do quadro que inspirava cuidados, Manoelina foi transportada de Duartina a Bauru em uma ambulância sem suporte avançado, mas acompanhada de médico e técnico de enfermagem.

Diretor da Santa Casa, Ederson Lúcio Custódio da Silva relata que, ao chegar ao HB, por volta das 21h30, a equipe foi informada de que a vaga não estava disponível. “Disseram que poderia ter havido um erro de sistema e começaram a tentar identificar o que havia acontecido”, pontua o gestor.

Segundo ele, a paciente teria esperado por cerca de 25 minutos, quando passou mal “depois de ficar nervosa” e sofreu uma parada cardíaca. Diante da situação crítica, Manoelina foi, então, levada às pressas para o HB para que pudesse receber o socorro adequado. A idosa, contudo, não resistiu e morreu momentos depois.

Após ser necropsiado pelo Instituto Médico Legal (IML) de Bauru, o corpo foi liberado na manhã de ontem e levado para Lucianópolis, onde seria sepultado. Mas, para surpresa da família, os preparativos para o velório precisaram ser interrompidos porque o IML requisitou que o corpo fosse encaminhado para Bauru para novas análises. O enterro só foi realizado no final da tarde de ontem, em Lucianópolis, onde vive a família de Manoelina.

Tempo de espera

De acordo com o médico José Henrique Varanda, coordenador do setor de acolhimento do HB, Manoelina já chegou em estado grave ao hospital, possivelmente com quadro de sepse (infecção generalizada), que a unidade desconhecia até a idosa sofrer a parada cardíaca. Por este motivo, os procedimentos administrativos foram cumpridos, o que teria demandado um tempo de espera de não mais do que 15 minutos – necessário, e considerado normal, para a mobilização da equipe que iria recebê-la.

“Não sabemos se houve alguma dificuldade em localizar a ficha da paciente no momento em que ela chegou, mas a vaga existia, nunca esteve indisponível. Precisávamos apenas encaminhar a ficha para autorizar a internação. E, se a paciente estivesse aguardando em ambulância com suporte adequado, poderia, quando sofreu a parada, ter sido reanimada imediatamente pelo próprio médico que a acompanhava dentro do veículo”, frisa.

Versões conflitantes

Ao contrário do que a família de Manoelina informou, o diretor da Santa Casa de Duartina, Ederson Lúcio Custódio da Silva, argumenta que a paciente retornou à Santa Casa “apenas” três vezes após a cirurgia. Em sua última passagem pela unidade, o médico que a examinou teria detectado uma inflamação no pâncreas, além de acúmulo de líquido dentro do abdômen.

“O que nos causa certo espanto é que, antes da transferência para Bauru, a família havia recorrido a um médico particular, que poderia ter apontado por escrito quais procedimentos deveriam ser adotados pela Santa Casa. Jamais iríamos ignorar a prescrição de um colega profissional”, pontua, argumentando que a unidade fez “tudo o que estava dentro de suas possibilidades”.

Silva alega, ainda, que, na ficha de regulação de vaga, a Cross teria dispensado a recomendação de transporte da paciente até Bauru em ambulância com suporte avançado e acompanhamento médico, ainda que o pedido de internação tivesse sido feito para leito de UTI. “Mas, como a paciente é responsabilidade da Santa Casa enquanto estiver dentro da ambulância, decidimos manter a equipe com médico e técnico de enfermagem”, observa.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informa que a atribuição da Cross é, essencialmente, a de regular vagas de internação para pacientes, quando solicitadas. A recomendação sobre a necessidade ou não de transporte com suporte avançado, segundo a pasta, é feita de acordo com as informações fornecidas pela unidade hospitalar de origem, mas, em última instância, caberia a esta unidade, que acompanha de perto a evolução do quadro do paciente, determinar quais recursos precisam ser empregados para garantir condições seguras de deslocamento.

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