Regional

Tradição de produzir vinho passa de geração em geração há anos

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 4 min

Nelo Zuntini aprendeu a fazer vinho com seus avós. Ele morreu há mais de um ano e sua filha, Luciana Capelari Zuntini, teve que aprender a fabricar a bebida às pressas. “A  produção vem dos avós do meu pai. O meu pai foi o único dos sete filhos que continuou o processo. Os demais não se interessaram. Meu pai morreu faz um ano e dois meses. Eu via meu pai fazer, mas nunca pedimos para ele ensinar a gente a fazer, caso ele faltasse. Achamos que ele não faltaria em pouco tempo. Mas ele levou um coice de uma égua aqui no sítio. Morreu aos 72 anos. Ele fabricou vinho por mais de 15 anos.”

A morte de Zuntini além de surpreender a família, colocou em xeque as habilidades da filha. “Meu pai morreu em setembro do ano passado. No final do ano, o sítio tinha uva para colher e fazer o vinho e eu não sabia o que fazer. Eu chamei um amigo de meu pai e pedi para ele me explicar quais eram os procedimentos.”

A filha aprendeu a fazer vinho e ainda incrementou o produto. Fez rótulo. “Antigamente, não tinha rótulo. Eu mandei fazer, agora temos para agregar valor. Fazemos vinho branco, rose, tinto e moscatel, todos secos. O vinho é da safra passada. Eu  tenho nos garrafões. Eles ficam armazenados para decantar a borra. Não abri todos os garrafões e tenho engarrafado.” 

O sítio, que também é um pesqueiro -  chamado Nelo Zuntini - tem de 400 a 500 pés de uva. “Nós temos uvas Niagara,  Moscatel, Máxima e Virginia. Deve ter cerca de 500 pés. A produção anual gera aproximadamente  3 mil litros vinho. Além disso, vendemos a fruta quando ela está madura. A compra pode ser feita todos os dias, uma vez que a família mora no local.”


A 1ª fábrica de macarrão

O bisnono de Douglas Coneglian construiu a primeira fábrica de macarrão em Lençóis Paulista. “É bom contextualizar para que as pessoas entendam. Na época, todo mundo fazia massas em casa. Ele e o cunhado dele compraram uma máquina italiana de fazer macarrão e trouxeram seis operários para montar o maquinário.”

Ele frisa que atualmente você coloca a farinha de um lado e o pacote de macarrão sai do outro, mas na época, o macarrão tinha que secar. “Enquanto ele secava, os operários começaram a jogar vôlei. Os italianos que moravam em Lençóis quase que obrigaram os filhos a aprenderem jogar. Era novidade e uma forma de estar mais perto da Itália.”


Como chegar

Se você quiser conhecer o Pesqueiro Nelo Zuntini, siga pela Rodovia Marechal Rondon até o trevo de Borebi. Não entre para Borebi. Passe por baixo do viaduto e siga sentido usina. Passe por baixo da Rondon e entre numa estrada lateral,  que é a  Antonio Carlos Vaca. Na segunda baixada  já é possível ver a placa do pesqueiro.


Lençóis teve dois núcleos de italianos

Por volta de 1900, quando os italianos começaram a chegar em Lençóis Paulista, foram formados dois núcleos dos imigrantes. “Porque quando eles chegavam ficavam de quarentena. Os portugueses não gostaram da vinda deles. Eles eram diferentes dos escravos, eles pensavam. Foram formados dois núcleos. Uma era o bairro rural da Rocinha, que tinha cerca de 12 famílias, e outro era o bairro rural de Bomjardim.”

A família Coneglian ficou em Bomjardim. “O núcleo da Rocinha até hoje é produtor de uva e vinho. Os bairros eram distantes da cidade e as famílias vinham para a cidade só uma vez por mês. Hoje eles estão próximos. Os italianos eram meio evitados à época. Não eram bem vindos. O escravo obedecia, o italiano causava problemas. Foi um contraste muito grande.”

Atualmente, na Rocinha há duas famílias que ainda permanecem no local desde aquela época, enfatiza Marisa Casagrande. “São as famílias Casagrande e Ramponi. No bairro ficaram algumas chácaras. A Rocinha foi o primeiro bairro italiano. Quando os imigrantes chegavam, eles se instalaram às margens do rio Lençóis. Muitas famílias italianas moraram aqui. Hoje moram na cidade. Algumas voltam aqui para relembrar a época do pai, do avô e de quando eram crianças.”

Coneglian diz que as tradições italianas ainda são mantidas. “Eu tenho em casa parreira de uva. O italiano sempre tem uma hortinha e uma parreira de uva em casa. A tradição italiana é muito forte. O lençoense gosta muito de tomar vinho, embora a cidade seja famosa pela pinga.”

 

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