O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, afirmou em delação premiada que a empresa WTorre recebeu R$ 18 milhões para desistir da obra de ampliação do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro, em 2007. O acerto, segundo Pernambuco Júnior, foi feito pelo presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, com um dos donos da WTorre, Walter Torre. O conteúdo da delação está anexado aos autos da Operação Abismo - 31.ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (4).
"O acerto final foi realizado pelo executivo Léo Pinheiro, da OAS, junto a Walter Torre, que aceitou a oferta de R$ 18 milhões em um encontro pessoal realizado num domingo", registra os pedidos de prisão e busca e apreensão da Abismo.
Segundo os investigadores, a WTorre apresentou a menor proposta de preço do certame, cerca de R$ 40 milhões inferior ao da proposta apresentada pelo Consórcio Novo Cenpes, formado pelas empreiteiras OAS, Carioca, Construcap, Construbase e Schahin. A Abismo aponta propina de pelo menos R$ 39 milhões do grupo para vencer as obras do Cenpes, com parte desse dinheiro destinado também ao PT, via ex-tesoureiro Paulo Ferreira. A obra tinha valor de mais de R$ 800 milhões.
Os procuradores afirmam que as empresas cartelizadas foram "surpreendidas pelo oferecimento de melhor proposta por concorrente que não havia participado das tratativas".
"Em virtude disso, as empresas integrantes do Consórcio Novo Cenpes resolveram oferecer aos dirigentes da WTorre uma vantagem econômica para que ela abrisse mão do certame", explica a Procuradoria, em pedido enviado ao juiz federal Sérgio Moro.
Suíça
O executivo da Carioca, que detinha 20% do consórcio Novo Cenpes, entregou dados da conta Cliver, no banco Delta, na Suíça, por meio da qual repassou propina para o operador Mário Góes, destinada a repasses para executivos da Petrobrás ligados ao PT. "Há suficientes indícios do pagamento de valores indevidos à empresa WTorre ou a seus dirigentes a fim de possibilitar a prática dos crimes de cartel e fraude à licitação."
O ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró afirmou em sua delação premiada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a indicar a WTorre para a obra de um prédio da estatal no Rio, em 2006.
Defesa
Em nota, o Grupo WTorre informou que "a empresa não teve participação na obra de expansão do Centro de Pesquisas da Petrobrás; que não recebeu ou pagou a agente público ou privado nenhum valor referente a esta ou a qualquer outra obra pública. O Grupo WTorre forneceu a documentação referente ao orçamento desta licitação que ainda se encontrava na empresa e segue à disposição das autoridades".