Areforma política, embora incipiente, começa a mudar as estratégias da campanha eleitoral, para o bem e para o mal. As repercussões da Operação Lava Jato obrigaram o Congresso Nacional a proibir o financiamento dos candidatos e partidos, via doações de empresas. Na verdade, era uma forma de legalizar as propinas ou de subverter o lema franciscano do "é dando que se recebe". A campanha ficou mais curta e empobrecida. Métodos tradicionais de propaganda são agora vedados. Tal fato parece ter estimulado regressões ao tempo em que a luta pelo poder se resolvia a chumbo quente. Em 45 dias de campanha tivemos no Brasil 45 ataques à bala contra candidatos - 28 morreram. Voltamos aos anos 1930, quando na Rua Batista de Carvalho Plínio Salgado sofreu um atentado a tiro. Morreu na refrega o ferroviário Nicola Rosica, conforme contado no "BI" de ontem, pelo historiador Luciano Dias Pires. Os jornais Correio de Bauru e Diário da Noroeste, antes disso haviam sofrido empastelamento por manifestantes pró Getúlio Vargas.
A história da luta pelo poder sempre foi escrita com a tinta da truculência, e a força do dinheiro. Contava o memorialista Carlos Fernandes de Paiva que o dr. Eduardo Vergueiro de Lorena mandava adiantar o relógio da seção eleitoral para dar por finda a votação, quando percebia que na fila predominavam eleitores do adversário. Ele era o chefe do grupo autointitulado "cinturão de aço", que mandou na política em Bauru nos anos 1920. Nos dias atuais a coisa se modernizou, com o crime organizado. Até outro dia existiam cerca de 100 mil doações irregulares de campanha. Com a proibição do financiamento empresarial, candidatos emprestam CPFs de pessoas sem capacidade econômica para doar, com a intenção de "esquentar" as contribuições à campanha. O TSE tem o nome de 4.630 beneficiários do Bolsa Família que fizeram doações substanciosas a candidatos. O PCC também entra na história. Quer tudo dominado com representação no legislativo e no executivo, nos municípios, estados e na federação. Os malandros federais quase conseguiram aprovar na calada da noite, emenda para anistiar os usuários de dinheiro clandestino em campanhas eleitorais. O ministro-chefe Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, chegou a dizer que "Caixa 2 não é crime". Adhemar de Barros inventou a famosa "caixinha", nos anos 1950, quando foi governador de São Paulo. Ninguém fazia obras públicas ou recebia algum tipo de benesse do governo sem pingar na caixinha. Denunciado por negociatas, Adhemar chegou a se exilar para fugir à Justiça. Conseguida a absolvição voltou e encomendou a Herivelto Martins e Benedito Lacerda uma marchinha que falasse das suas boas intenções. Os talentosos compositores foram além da expectativa do "compositor": "Quem não conhece. Quem não ouviu falar. Da famosa caixinha do Adhemar. Que deu livro. Deu remédio. Deu estrada. Caixinha abençoada..." Durante a ditadura militar, o capitão Lamarca e o bauruense sargento Darcy Ribeiro planejaram expropriar a caixinha que estava em poder da amante de Adhemar, que era chamada de "doutor Ruy", para ninguém desconfiar. Na verdade, um pesado cofre com milhões em barras de ouro, dólares e diamantes.
Ainda vamos levar muito tempo para fazer deste país uma democracia sonhada. A Lei da Ficha Limpa já produz seus efeitos. Nesta eleição, cerca de 15 mil candidatos a prefeito, vice e vereadores tiveram seus registros negados por alguma irregularidade. Em tese ficariam impedidos de concorrer. Juízes de primeira instância invalidaram os registros de candidatura, mas eles aguardam seus recursos serem julgados pelos tribunais regionais eleitorais e no TSE. Sem uma decisão definitiva, todos poderão ser votados. Vai ser difícil até a diplomação ter tudo isso resolvido, como admite o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes.
As eleições são um espaço para a prática coletiva da cidadania, onde se solidifica a cultura da participação social. O direito à escolha faz a sociedade tornar-se cada vez mais consciente, crítica e exigente. É no município que se dá o cotidiano das pessoas, onde a base é construída. Assim, os municípios têm o papel de protagonistas na formulação e na aplicação das políticas públicas. Os recursos sempre serão insuficientes. O que se espera de um prefeito é que ele saiba buscar formas de potencializar a economia do município. Exerça um papel empreendedor para melhoria da qualidade de vida do cidadão. Isso não custa dinheiro. O compromisso do eleitor é só com a seleção criteriosa de candidatos comprometidos com a ética, a honestidade e o interesse público. Por favor, não erre.