Votar é um revigorante exercício de cidadania, ainda que muitos cidadãos não mereçam o seu voto. Temos muitas razões para desanimar: partidos sem unidade ideológica (e já faz tempo isso!), siglas que apenas miram cifrões, líderes que só comandam sangrias no dinheiro público, etc.
Mais do que nunca, a política está criminalizada. Entrar nesse ninho de cobras é pedir para ser picado. Ocorre que, lá, ao invés de morrer, o picado renasce pior. Pelo menos é a visão geral alimentada por tantos escândalos, traições e saques indevidos.
Uma consequência dessa distorção toda do que deveria ser a saudável atividade política é que muita gente boa foge dela. Sabe bem que, uma vez dentro, poderá ver sua credibilidade real ruir diante de mentiras profissionais. Sendo assim, a qualidade dos postulantes aos cargos cai na mesma medida em que nomes potencialmente interessantes não se colocam.
Claro que há candidatos decentes. Alguns são até vítimas de toda uma corrosão do sistema - iniciada e potencializada antes a eles. Devem sentir na pele a justificável desconfiança estampada no olhar do povo.
A maior lacuna, contudo, é deixada mesmo por aqueles bons que elegeram como prioridade não entrar nessa maluquice de ser candidato. Sequer estão filiados em partidos e nem pensam nisso. Em quantos bons candidatos nós não vamos votar hoje? Mulheres e homens que poderiam contribuir com a melhora da política, mas a própria política parece não fazer questão disso.
A solução, segundo andei ouvindo de analistas durante a semana, só virá a longo prazo. E está longe das urnas. Começa bem antes (numa gradativa e consistente melhora do sistema educacional). "É preciso voltar a educar para o civismo e a cidadania", disse um deles. "A fragilidade da nossa educação está na raiz da falta de qualidade dos políticos", avaliou outro. Não lembro os nomes, mas as frases ficaram na memória.
Vale lembrar sempre: não há democracia sem prática política. Simplesmente não inventaram outro jeito. Então, ainda que demore ou pareça utopia, é bom começar logo a surgir uma nova geração que encare tudo isso como parte relevante da nossa vida em sociedade. A política muda a vida das pessoas. As pessoas podem mudar as regras para melhor. Quem sabe não começamos agora?
Já que muitos dos bons não são candidatos, e outros bons que são desistirão de uma segunda empreitada, negar hoje o voto aos aproveitadores de plantão já poderá ser um claro aceno ao recomeço.