Na vida intrauterina construímos uma memória ou lista das proteínas que entramos em contato. Após o nascimento nada mais entra na lista. Tudo que entrar no corpo é conferido para detectar se as proteínas são iguais às nossas. Se as células macrófagos detectarem estranheza nas proteínas, elas serão eliminadas por fagocitose, reabsorção, dissolução ou necrose.
Na memória só têm proteínas, mas não carboidratos, metais, resinas, silicones e outros. A resposta das células e substâncias será desencadeada pelos macrófagos, comandada pelos linfócitos e se chama resposta imunológica. Ela ocorre todos os dias, pois todos os dias entram proteínas via microrganismos e traumatismos.
Quando se coloca osso de boi coletado depois de morto nas cirurgias para repor partes perdidas ou otimizar o reparo, se adiciona muitas proteínas com a parte mineralizada, sem as quais os minerais se esfarelariam. Essas proteínas serão reconhecidas como estranhas e os macrófagos irão apresentá-las aos linfócitos que comandarão uma orquestra de células e substâncias para eliminá-las. Neste caso, haverá a reabsorção lenta do osso de cadáver bovino e/ou sua circunscrição por inflamação crônica granulomatosa.
Em meses ou anos o osso bovino será eliminado e no lugar se formará novo osso, um tecido em constante remodelação que se adapta às demandas funcionais com dinamismo. O objetivo de se transplantar osso de cadáver bovino nas áreas operadas é ajudar o coágulo sanguíneo a ficar no lugar para dar origem a novo tecido ósseo. Um transplante ósseo jamais ficará para o resto da vida onde é posto, necessariamente será reabsorvido e renovado pelo osso do hospedeiro.
Pode-se questionar: é transplante de espécies muito diferentes como bovino e humano! Não vai dar uma resposta imunológica contra este osso? Claro que sim! As células e substâncias irão reconhecer a estranheza das proteínas e se mobilizarão para reabsorver e eliminá-las. Exames laboratoriais detectarão isto e deve ser considerado normal. Leva meses para remover e quando ocorrer as partículas ósseas já cumpriram a função de suporte para formar novo osso.
Um enxerto ou transplante ósseo não poderá influenciar negativamente a realização de outros transplantes no hospedeiro? Claro que não, as respostas imunológicas são muito específicas para cada proteína. Se receber um osso bovino ou humano, será de um outro animal ou homem! Se receber um rim humano, as proteínas são diferentes. Uma resposta imunológica não interfere na outra. Este problema não existe na clínica médica!
É seguro o transplante de osso bovino em humanos? Doenças por "príons" como Síndrome da Vaca Louca ou Encefalopatia Espongiforme poderiam passar para humanos? O risco não é zero, sempre haverá risco, mas é muito pequeno. As doenças priônicas são cada vez mais frequentes como a Doença de Creutzfeldt-Jakob e o Alzheimer. Se o osso bovino for bem preparado, seguindo as normas internacionais, o uso é seguro, mas adquira produtos com número Anvisa.
Não é mais lógico transplantar osso de humanos vivos que doam seus tecidos e órgãos como rins, coração e córneas e os tira quando ainda se está vivo? Qual seria a diferença? Na resposta biológica/imunológica não há diferença, nem implicações! No Brasil o comércio de tecidos e órgãos humanos não é permitido, apenas por doação com rastreabilidade e controle de todos os passos pelo Ministério da Saúde e Anvisa: se informe!
E quais os riscos? Bancos de ossos humanos doados tem controle muito rígido sobre os doadores e o tratamento dos tecidos: são checados com muitos exames tais como tuberculose e hepatites. O risco é quase nulo se os ossos doados for obtidos de bancos autorizados e fiscalizados pela Anvisa!
Os profissionais devem se credenciar no site e a cada pedido de osso preencher um formulário para garantir o controle e uso do material. O custo é baixo e cobre as embalagens e transporte, pois bancos de ossos não podem ter fins lucrativos!
Osso humano é doado como córnea e rins; osso bovino é vendido! Ambos os tipos são transplantes e podem ser utilizados com segurança. A opção é técnica e financeira feita por paciente e profissional bem informados!