No eclipse os astros dançam no espaço e tempo. Os corpos celestes brincam para vê-los. É movimento para se revelar vivo. Eclipse é sentir o pulsar do universo e ter certeza que ele existe! Eclipse é como ganhar crachá de morador do universo! Este alinhamento de astros me lembra alinhamento de corpos e almas com cheiro de amor.
Nos eclipses, resgato histórias de amor que ouvi, li e não esqueci. A maioria nem sei o autor, outras inventei e boa parte, recriei: que privilégio!
PROIBIDOS!
Suor e lágrimas escorriam só em pensar no outro, mas as trajetórias não se alinharam no tempo. Não era justo e, mesmo proibidos e censurados, se amavam loucamente! O poderoso Zeus descobriu, ainda que disfarçassem na penumbra do medo.
Como castigo, fez o homem virar Sol e a amada, Lua. Para que nunca mais se encontrassem, quando a noite chegava, o Sol se ia! Mas, no amanhecer e entardecer, no colorido alegre do incrível arrebol, ambos se viam, quase se tocavam. Esses belos momentos atinge o coração de apaixonados e amantes com uma vontade incrível de ver o sol se por ou nascer.
Entardecer e amanhecer são fascinantes, representam os únicos momentos em que Sol e Lua trocam olhares, emitem raios e deixam as cores se entrelaçarem como línguas e pernas em êxtase de amor! É energia pura que arrepia até o mais cético e frio dos humanos.
Já eclipse é abraço inevitável dos amantes que viraram astros. Se houver chuva no arrebol, caminhe sob os pingos cintilantes de sol e procure a Lua: são lágrimas de amor resignado e nunca negado! Mas se chover no eclipse, você deve estar no céu!
OUTRA HISTÓRIA
O Sol tristonho encobria-se de nuvens escuras. Pássaros e flores sentiam falta das manhãs com seu esplendor. Os animais pediram ao Condor para perguntar o que estava acontecendo. O Sol percebeu suas voltas e contornos nas cordilheiras e disse: - linda ave, o que queres?
- Porque andas tão triste? Todos sentem e estão confusos. O planeta quer sua luz, ela guia os pássaros, as flores não sabem quando dormir, os animais não saem das tocas para caçar e a lavoura não produz.
- Eu não percebi os transtornos, perdido em pensamentos, vou tentar melhorar. O Condor insistiu: - poderia te ajudar se me desse o motivo! E o Sol: - é difícil alguém me ajudar. Deixe lhe perguntar: - você já amou alguém? O Condor abaixou a cabeça e disse que sim, era uma linda ave, mas não era um Condor. Amei e sonhei muito! - Por que me perguntas isto? Você pode ser amado, possui muito mais dotes, tem o poder da luz. Qualquer dama se renderia à seu esplendor, magnetismo e calor!
- Qualquer uma, menos ela! Intrigado, o Condor indagou: - quem é ela? E olhando para o infinito, o Sol diz: - a Lua meu amigo! Mas como se apaixonou por esta bela dama se mal encontram, apenas em frações de minutos? E o Sol: - o suficiente para ver nos seus olhos toda sua beleza, senti seu coração junto a mim, acreditei e vi cumplicidade, entrega e amor!
O Condor queria ajudar! O Sol perguntou: - mas como? A ave pediu calma e disse que iria encontrar alguns amigos de hábitos noturnos para bolar um plano. À tardinha voltou com amigos notívagos dispostos a ajudar, mas só se prometesse voltar a brilhar! Intrigado, perguntou como fariam? A experiente e sábia Coruja disse-lhe: - levaremos à Lua os seus recados, notícias e tudo que quiser! O Sol bramiu e sorriu aliviado dizendo:
- Para começar, digam a ela o que nunca tive tempo para falar, pois quando a via me preocupava com o pouco tempo e esquecia de lhe dizer. Digam que a amo mais do que tudo. Que estarei sempre esperando-a para nos vermos nos arrebóis! Eu serei o guardião do dia e ela, da noite! A cada amanhecer e entardecer nos veremos um pouquinho e a amarei mais e mais. E nem que leve meio século para um encontro mais demorado, como no eclipse, a cada dia amarei mais!
E a noite chegou! A Coruja no alto da árvore foi encarregada a falar com a Lua sobre as palavras do Sol. Na hora, uma chuva branda molhou a Terra. As gotas eram emoções e sensibilidades da Lua como lágrimas de amor, esperança e confiança. Agora sabia que não estava só, que um dia encontraria demoradamente com o Sol, pois meio século é quase nada na imensidão do tempo.
E todos aprenderam para que servem eclipses: para Sol e Lua se amarem!