| Aurélio Alonso |
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| Estátua de anjos do Cemitério Municipal de São Manuel |
O Dia de Finados é celebrado na próxima quinta-feira, 2 de novembro, mas desde o século II alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para orar pelos que morreram. A data do feriado atrai centenas de pessoas aos cemitérios das cidades da região, que têm muitas histórias para contar.
No caso de Jaú, o município já teve um projeto de visitação à necrópole com realização até de saraus. O diretor do Museu Municipal, Fabio Grossi Santos, conta que, embora o campo santo seja um local insólito, faz parte de roteiro histórico de visitação em diversas regiões turísticas do mundo, como por exemplo, o cemitério do Père-Lachaise, em Paris, na França, e o cemitério de La Recoleta, em Buenos Aires.
No caso da necrópole jauense tem nos seus jazigos e estátuas influência da arquitetura eclética e neogótico. "São túmulos buscando a altura e os anjos apontando para o céu. São muitas das características do neogótico", conta. Em breve, a prefeitura vai retomar o roteiro de passeios para mostrar como a cultura material muda conforme os valores da época. "No século 19 havia um culto à morte. Atualmente, a mulher trabalha e tem vários turnos, antes não era assim. Ela ficava encarregada do culto ao túmulo. As nossas avós faziam isso: iam ao cemitério regularmente para colocar flores novas no jazigo. Hoje não tem mais isso. Os túmulos são feitos de azulejo, as flores são de plásticos, nossa sociedade não tem tempo para ficar cultuando a morte. Essas são mudanças de costumes", contou.
Mas os cemitérios também alimentam uma cultura popular de fatos exóticos, cultuados pela população. Em Jaú, a sepultura de Coriolando Rodrigues de Lima, o "Criolando", virou uma capela aonde é reverenciado pela população como "milagreiro". Ele andava num cavalinho de madeira e visitada as famílias da cidade, em qualquer hora do dia e da noite. Quando ele chegava com uma flor e entregava para a família, era certeza de que alguém tinha morrido.
Em São Manuel, um túmulo chama a atenção: o da família Batman. Logo vem a referência ao super-herói do filme e das histórias em quadrinhos, no entanto, é só o sobrenome de imigrantes que vieram da Síria. Leia mais nas páginas 18 e 19
Estátuas mostram a riqueza do passado
No Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula se concentra uma grande quantidade de jazigos e estátuas que remetem a um passado de opulência do período da cafeicultura. Essa arquitetura da necrópole de Jaú possibilita conhecer a história do município e do próprio Estado. O local já teve um projeto de visitação noturna por grupos de estudantes. Hábito pode parecer insólito, mas o cemitério do Père-Lachaise, em Paris, na França, e o cemitério de La Recoleta, em Buenos Aires, têm atividades semelhantes onde são identificados elementos que demonstram a história social e artísticas dessas regiões, por meio das estátuas, das obra arquitetônicas e dos símbolos encontrados.
Na próxima quinta-feira, é Dia de Finados, data reservada para que os mortos sejam lembrados, ir ao cemitério pode significar também visitar espécie de museu a céu aberto. No caso de Jaú, onde no século passado experimentou um período pujante de desenvolvimento e acumulação de riqueza com a cafeicultura, isso refletiu na hora de afortunados se despedirem desta vida para outra, investindo em grandes jazidos e estátuas, contratando arquitetos e artistas renomados. É a opulência na hora da morte.
O diretor do Museu Municipal de Jaú e formado em arqueologia, Fabio Grossi dos Santos, é um estudioso da história do município contada pela arquitetura e história dos personagens sepultados no cemitério. Um aluno dele, Julio Poli foi um dos idealizadores do Sarau de Arte Cemiterial promovido pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
Grossi já fazia algo semelhante, com exceção do sarau, ao levar alunos para conhecerem a história do cemitério. Poli morreu prematuramente, mas amigos e o próprio Grossi estudam retomar o projeto que se refere ao estudo e apreciação dos acervos artísticos e históricos desenvolvidos em cemitérios. Neste final de semana está previsto fazer um passeio para refazer o roteiro. Será fechado somente a um grupo restrito.
O diretor do Museu contou ao JC que cemitério de qualquer cidade é uma fonte de consulta para estabelecer a relação entre a produção artística e as crenças religiosas.
"Quando o Julio começou a fazer a visitação como atividade cultural, patrocinada pela prefeitura, teve repercussão muito boa e ele incluiu além do passeio cemiterial o sarau também. E aí quando começou o sarau se uniu a ele um grupo de atores que acompanhava as apresentações. Esse grupo de atores veio me procurar para retomar, porque as pessoas estavam pedindo. Falei vamos retomá-lo. Vamos fazer um passeio fechado neste final de semana para restruturar. Vamos refazer o roteiro. A ideia é fazer esse passeio à noite e retomar o sarau. Esse grupo vai chamar 'NecroPoli' (a segunda palavra inclui o sobrenome de Julio Poli para homenageá-lo", revelou.
Segundo ele, não é uma ideia inovadora esses passeios em cemitérios. No mundo inteiro tem esses roteiros. Grossi conta que descobriu esse tipo de atividade quando esteve no Cemitério da Consolação de São Paulo. (leia entrevista ao lado).
Escola fica em antigo cemitério
O primeiro cemitério remonta à fundação oficial do município de Jaú, por volta de 1853. Assim que foi erguida a igreja matriz, tão logo foi destinado o lugar para o sepultamento dos primeiros jauenses, onde hoje seria toda a região ocupada pela Escola Estadual Major Prado, área central do município.
O atual diretor do Museu Municipal e arqueólogo, Fábio Grossi dos Santos, afirma que, no local já havia sido antes um cemitério indígena dos Kaingang, e com a expulsão deles pelo colonizador branco, a área teria sido reaproveitada para o sepultamentos dos novos habitantes.
A centenária edificação da escola, inaugurada em 1914, até hoje povoa a imaginação do jauense. E história de assombrações vem sendo contadas para as novas gerações.
Com o crescimento da cidade, a Câmara Municipal decidiu destinar os sepultamentos para outro local, quando houve a transferência dos corpos e ossadas para o segundo cemitério, em 15 de setembro de 1889.
Fábio Grossi conta no livro "Quem conta um conto...Onze visões do sobrenatural" que a operação de transferências dos restos mortais não se deu por completa. Então ficaram para trás vários caixões funerários e esqueletos na extensão primitiva da antiga necrópole. O grande terreno que abrigava o primeiro adro acabou dando lugar à praça, até que, em 1914, foi o construído a escola Major Prado.
O escritor conta na publicação recém-lançada pela 11 Editora que não tardou para que rumores e boatos sobre fantasmas surgissem entre os alunos. "Era voz corrente que os espíritos pertenceriam àquelas cujos restos mortais ainda jaziam sob as fundações do prédio", escreveu.
E a fama de lugar assombrado se amplificou depois das obras de rebaixamento do piso do porão para a instalação do refeitório e da biblioteca. Durante escavações operários encontraram sacos e sacos com ossos humanos e pedaços de caixões. Com isso, Grossi finaliza dizendo que a lenda urbana ganhou diversos contornos e marca o inconsciente coletivo do jauense para as mais variadas histórias e "causos" sobrenaturais.
'Cemitério é museu a céu aberto'
A formação de arqueólogo foi importante para Fábio Grossi dos Santos entender que o cemitério é um museu a céu aberto. Em conversa com um colega na capital paulista ao buscar uma forma de entreter mais os alunos descobriu que as "excursões ao cemitério" seria uma forma diferente de contar a história da cidade e do estado.
A ideia ganhou força com base numa visita ao Cemitério da Consolação, onde viu um grupo de estudantes acompanhado pelo professor que contava a história da cidade pelo personagens ali sepultados. A seguir os principais trechos da entrevista:
JC - De onde tirou essa ideia de visitar o cemitério com alunos?
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| Visita ao Cemitério de Jaú já teve um projeto desenvolvido pela Secretaria de Cultura |
Fabio Grossi - Estava com um colega em São Paulo e comentei o que poderia fazer diferente para melhorar as aulas aos meus alunos em Jaú. A gente viu um grupo tendo aula no cemitério da Consolação, foi então que surgiu a ideia: por que não fazer isso em Jaú? Até comentei: fantástico, eu, formado em arqueologia, percebi que o cemitério é um museu a céu aberto. A gente pode contar a história da cidade pelo cemitério saindo da sala de aula.
JC - Não foi uma ideia exclusiva sua?
Fabio - Descobri depois que havia um outro professor em Jaú que levava os alunos ao cemitério, não de maneira sistematizada como depois organizamos. Ele contava a história dos túmulos. Eu sistematizei e criei um roteiro para essas visitas. A partir da história dos túmulos contava a história de Jaú e de São Paulo. Dá para associar a colonização de São Paulo com o que você vê na arquitetura e estátuas dos túmulos. A gente fazia esses passeios de duas a três vezes por ano. O Julio Polio era meu aluno e me acompanhou em uma dessas visitas e me procurou e disse que pretendia apresentar esse projeto à prefeitura. Ele acabou fazendo. Isso se alastrou de forma bacana. Os meus passeios começaram em 2007 quando lecionei nas Faculdades Integradas de Jaú na disciplina Brasil Império e também em um cursinho sobre História do Brasil.
JC - O cemitério de Jaú é muito antigo?
Fabio Grossi - O cemitério de Jaú é da segunda metade do século 19, por isso reflete toda a história da região e da colonização paulista. São Paulo só começou a crescer no século 19, quando vai ter o boom econômicoda cafeicultura. Os túmulos são desse período. É quando vem a ferrovia e a colonização imigrante.
JC - Dá para notar pelas esculturas?
Fabio Grossi - A arquitetura é eclética mais há influência do neogótico. São túmulos buscando altura e os anjos apontando para o céu. São muitas das características do neogótico. No meu roteiro eu uso o cemitério inteiro para fazer comparações dos dois períodos. Faço análise social, levo os alunos na parte antiga do cemitério e mostro a mudança para os tempos atuais. Como a cultura material muda conforme os valores da época. No século 19 havia um culto à morte. Atualmente a mulher trabalha e tem vários turnos, antes não era assim. Ela ficava encarregada do culto ao túmulo. As nossas avós faziam isso: iam ao cemitério regularmente para colocar flores novas no jazigo. Hoje não tem mais isso. Os túmulos são feitos de azulejo, as flores são de plásticos, nossa sociedade não tem tempo mais para ficar cultuando a morte. Essas são mudanças de costumes.
Da família Batman à 'santa' milagreira
O Cemitério de São Manuel também tem as características arquitetônicas semelhantes à necrópole de Jaú, com grandes estátuas e histórias semelhantes, só muda o contexto. Os túmulos mais populares e visitados são da bauruense Adelaide Maria Rodrigues, considerada "milagreira", a do combatente e estudante Mário Martins, que integra as iniciais do MMDC, que gerou o movimento constitucionalista de 1932 e o jazigo da família Batman.
O túmulo de Adelaide Maria Rodrigues ainda é o mais visitado em São Manuel, conforme relato do funcionário do cemitério Donizeti Moretti Gonçalves. Ela faleceu em 1954. No jazigo há várias placas com agradecimento de graças que teriam sido alcançadas ao longo dos anos. Também são colocados vasos de flores, atualmente todas de plástico para evitar a proliferação do mosquito que transmite a dengue. A devoção já perdura 63 anos. Neste feriado de Finados é esperada a visita de centenas de pessoas à tumba.
A sepultura de Adelaide fica perto da Capela do Cemitério, já foi reformada numa parceria que envolveu a Prefeitura de São Manuel, iniciativa privada e as Paróquias Nossa Senhora Consolata.
Conforme o jornal "O Debate", de São Manuel, a "santa milagreira" nasceu em Bauru, depois em 1953 se mudou para Areiópolis, na época distrito de São Manuel, onde trabalhou como doméstica. Nessa época, após passar por cirurgia, ela lutou para vencer um câncer nos seios. Morreu em 6 de agosto no hospital de Botucatu no ano seguinte.
De acordo com a publicação sao-manuelense, após a missa de domingo, muitas pessoas a procuravam e aproveitavam a oportunidade para ouvir seus conselhos sempre certeiros. Adelaide aproveitava essas ocasiões para se reunir também com as "Filhas de Maria" e distribuir balas e doces à criançada.
Após a morte passou a ser reverenciada com relatos de pessoas de supostos milagres. Não foi canonizada ainda pela Igreja Católica e depende de um longo processo, mas a população "canonizou" popularmente.
BATMAN
No cemitério há um túmulo que chama muito a atenção: o da família Batman. Para quem não conhece confunde com algum apelido ou mesmo uma referência ao personagem das histórias em quadrinhos. O jornalista Miguel Ângelo Nitolo Neto, neto de Julia Bassil Batman, admite que o nome igual ao homem-morcego dos filmes, desenhos e histórias em quadrinhos chama muito a atenção.
Depois de retratado em várias matérias na imprensa, as primeiras na década de 80 nas revistas Veja e Visão, a família chegou a ser convidada em 1989 para assistir ao lançamento o filme "Batman".
Neto faz questão de explicar ao JC que o sobrenome é apenas uma coincidência com o personagem fictício criado pelo escritor Bill Finger e pelo artista Bob Kane. "A minha avó veio da Síria por volta de 1926 da cidade da Aleppo por causa de guerra civil, problema que até hoje continua lá. O sobrenome é esse mesmo e um orgulho da família", conta.
Devido a repercussão, porque o túmulo no ano passado foi o mais visitado, a família pensou em incorporar alguma homenagem ao personagem da história em quadrinhos Batman. "Sempre achei muito engraçado essa semelhança no sobrenome, porque quando criança o personagem eu gostava muito. Criou-se uma identificação muito grande com o super-herói na minha família, principalmente entre os três netos homens", revela o jornalista.
HERÓI DE 32
Já o estudante Mário Martins é o acrônimo pelo qual se tornou conhecido o levante revolucionário paulista, em virtude das iniciais dos nomes dos manifestantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (MMDC) mortos pelas tropas federais num confronto ocorrido em 23 de maio de 1932, que antecedeu e originou a Revolução Constitucionalista. Um desses heróis, Mário Martins viveu em São Manuel. O primeiro "M" é homenagem ao jovem são-manuelense.
O túmulo dele no cemitério tem referências, embora os restos mortais foram removidos pela o Mausoléu do Obelisco do Ibirapuera na capital paulista em homenagem aos quatro heróis. De acordo Donizetti Moretti Gonçalves, ainda é um dos túmulos bem visitados no feriado de Finados.
Túmulos de padre e prefeito os mais visitados
No Dia de Finados, o Cemitério Municipal de Agudos, instalado em 1910, tem mais de 10 mil sepulturas e deve receber aproximadamente cerca de três mil pessoas na próxima quinta-feira.
Entre os túmulos mais visitados estão do padre Pedro Antonioli (1831-1914), de grande devoção popular pelos católicos, do prefeito e jornalista Alfredo Penna, e do médico Manoel Lopes (1919-1988). Diversas pessoas passam por esses jazigos para fazer suas orações e agradecimento, informa o jornalista residente em Agudos Rinaldo Andrucioli.
Padre Pedro Antonioli foi vigário de Agudos em 1914, onde construiu a casa paroquial (que foi demolida há alguns anos) durante seu comando na Igreja São Paulo. Ele introduziu a Via-Sacra e promoveu reformas no prédio. Ele faleceu aos 43 anos vítima de infarte.
Conforme relato de Andrucioli, Alfredo Penna foi uma grande liderança política na cidade, após ser vereador e presidente do legislativo e chegou à Prefeitura de Agudos por três períodos: 1912-1915, 1927-1930 e 1932. Durante suas gestões a grande preocupação foi com o saneamento básico, garantir água saudável à população. Após ter deixado a vida pública foi morar em Bauru, onde faleceu. Em 1960, seus restos mortais foram trazidos para Agudos, onde desejava ser sepultado. Em 2015, seu jazigo centenário abandonado foi restaurado por meio de uma campanha promovida pelo jornalista Andrucioli.
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| Cemitério Portão das Cruzes de Botucatu, um dos mais antigos do município |
O Seminário Santo Antônio também promove no Dia de Finados uma caminhada de oração e reflexão até o cemitério dos frades, onde as pessoas visitam o jazigo de frei Gregório Johnsnher (1920-2005), cuja igreja tem aprovação de uma oração de devoção ao religioso, e muitas pessoas aproveitam para agradecer e pedir graças.
Botucatu tem um cemitério de 1893
Na cidade de Botucatu são três cemitérios: Portal das Cruzes, Jardim e o do Distrito de Vitoriana. Apenas o Portal, o maior e mais antigo da cidade, que contabiliza desde 1.893 pouco mais de 58.500 sepultamentos, deverá receber mais de 10 mil visitantes no Dia de Finados. Já o Cemitério Jardim contabiliza quase 8 mil sepultamentos e deve receber um público superior a cinco mil pessoas.
A Prefeitura de Botucatu implantou um sistema informatizado de consulta dos cemitérios locais que permite encontrar informações como data e número de sepultamento, filiação, quadra, rua e número do jazigo onde determinada onde a pessoa está sepultada.
O Portal da Cruzes com mais de 59 mil pessoas sepultadas, em 6.400 jazigos, mantém a tradição das grandes estruturas de tijolos, concreto, mármore e bronze, deixando o cemitério parecendo uma cidade, daí a denominação o Portal da "Cidade dos Mortos". É nesse cemitério que estão sepultadas as pessoas que fizeram parte da história de Botucatu e na administração estão registrados fatos muito curiosos desde que o cemitério foi inaugurado. Um dos fatos curiosos é o sepultamento em série de dezenas de pessoas que, ano de 1918, contraíram a gripe espanhola.
Cemitério com crematório e energia sustentável é destaque neste Finados
Parque e Crematório Jardim dos Lírios faz instalação de placas fotovoltaicas para produção de energia solar, uma medida ecologicamente correta
Quando todos os olhares se voltam para a ação milenar de reverenciar os mortos, com o dia 2 de novembro, feriado da próxima quinta-feira, sendo dedicado à memória daqueles que já se foram, pouca gente sabe que Bauru tem um cemitério com tecnologia de ponta para que essa tradição se mantenha.
| Malavolta Jr. |
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| Cemitério Parque jardim dos Lírios |
Com foco na sustentabilidade e economia, o Cemitério Parque e Crematório Jardim dos Lírios produz sua própria energia por meio do uso de placas fotovoltaicas - modelo em que seus componentes captam a energia solar e convertem em eletricidade.
Ao todo, 282 placas foram instaladas no telhado da necrópole, situada no Distrito Industrial 3. Todo o processo de instalação, realizado por uma empresa privada de Bauru, foi finalizado semana passada, explica Rogério Colnaghi, gestor do cemitério. Ele ressalta que a placa capta a luz solar e um aparelho conversor direciona o uso da energia para consumo do imóvel.
Um equipamento chamado relógio bidirecional capta e devolve a energia excedente para a rede elétrica, gerando créditos ao consumidor/produtor.
Portanto, ao final de cada mês, esse crédito é descontado do gasto total do cliente que instalou as placas. Ele paga apenas a diferença. "Além da questão ecológica e sustentável, pretendemos reduzir o consumo de energia. O investimento total se paga em cerca de cinco anos", pontua.
Desde que a Resolução Normativa 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi publicada, permitindo a produção de energia pelo próprio consumidor mesmo quando há rede pública, a direção do cemitério já estudava a instalação das placas. "Fizemos dois estudos anos atrás, mas os custos eram altos. O valor diminuiu e viabilizou o contrato de serviço com a empresa especializada", finaliza Rogério.
COMO FUNCIONA
Os painéis solares geram energia elétrica a partir do sol de forma simples. O painel solar fotovoltaico é formado por um conjunto de células fotovoltaicas que possuem elétrons (partículas de carga negativa que giram ao redor dos núcleos dos átomos).
Ao serem atingidos pela radiação solar, esses elétrons se movimentam gerando uma corrente elétrica. Além de a energia fotovoltaica ser considerada limpa por não gerar resíduos nem danos ao meio ambiente, os painéis demandam manutenção mínima.
Vale lembrar que o cemitério tem capacidade para 25 mil túmulos. A grandeza, no entanto, não é o único diferencial. Moderno, ele valoriza a acessibilidade. Sem obstáculos, idosos e pessoas com deficiência também conseguem transitar sem dificuldades. O local ainda tem estacionamento interno. Neste Finados, estará aberto para visitação das 8h às 18h e haverá uma missa às 10h30 na capela local.
CREMATÓRIO
Inaugurado em 2013, o Crematório Regional Jardim dos Lírios já realizou muitas cremações e atrai famílias de várias cidades, por ser pioneiro na região. O serviço é oferecido pela Organização Terra Branca.
O Crematório Regional Jardim dos Lírios está localizado no mesmo espaço do Cemitério Parque Jardim dos Lírios, que possui 169.000 m² de área total.
O crematório é composto por salas de cremação (acesso restrito), serviço de necropsia, espaço com câmaras frias, sala de despedida com capacidade para 70 pessoas, ossuário (depósito de ossos) e jardim eterno.
A Organização Terra Branca Planos de Assistência Familiar de Bauru oferece aos ossuários outra maneira diferente de sepultamento, com a cremação somente dos restos mortais. O ossuário é um jazigo pequeno onde são colocados os ossos ou restos mortais de uma exumação.
Cremação: tradição milenar
Um dos diferenciais do Jardim dos Lírios está no fato de ser o primeiro cemitério parque com crematório de Bauru e região e faz parte da Organização Terra Branca de Bauru. Apesar da aparência de prática moderna, a cremação é uma tradição de quase 3 mil anos. Para as religiões do Oriente, especialmente os hindus queimar o cadáver é uma prática consagrada. O fogo tem uma função purificadora, eliminando os defeitos da pessoa e libertando a alma, além de ser uma técnica bastante higiênica. A Igreja Católica que foi quem instituiu a data de 2 de novembro como o Dia dos Mortos, não faz nenhuma objeção, embora a prática só tenha sido aprovada em meados dos anos 1960.
O ano passado o Papa Francisco fez um pronunciamento em que faz apenas uma advertência: considera que as cinzas devem ficar depositadas no próprio centro crematório e não serem levadas para casa.
Data ajuda a ter consciência de preocupação ecológica e de saúde
Os cemitérios paisagísticos são projetados como espaços verdes, constituídos por setores consagrados à vegetação em contraposição aos locais mais antigos, com túmulos seguindo o modelo clássico. A rigor, no Brasil, a partir dos anos 1970 é que os conceitos de cemitérios-parques se solidificaram, embora em países como na América do Norte, os túmulos tenham sido substituídos por pequenas lápides no chão ou no gramado, há muito mais tempo.
Esse tipo de concepção paisagística privilegia o aspecto vegetal, em geral gramados, sombreados com árvores, integrando-se à natureza. Bauru tem, além do Jardim dos Lírios, também o Jardim do Ypê nesses moldes e, há ainda, o Memorial Bauru, o primeiro com estrutura vertical. Todos os três, particulares, têm a preocupação ecológica, de saneamento e com o meio ambiente já incorporada em suas normas.
Mas os demais cemitérios, os cinco públicos tradicionais (veja endereço de todos na página ao lado), não deixam de lado essa conotação: a preocupação ecológica e com a saúde pública. Tanto que é constante o apelo para que os locais não se transformem em verdadeiros criadouros do mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue, zika e chikungunya. É hora de conscientização. Com a aproximação do período chuvoso e o alto risco de contaminação pelos Aedes, aumenta também a preocupação em locais abertos, que podem virar verdadeiros pesadelos para quem mora por perto.
Recomendações
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| Cuidados com a saúde: os inúmeros vasos precisam ter furos para não acumular água |
Por isso, a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), está aumentando a recomendação: os vasos de flores deverão conter furos para o escoamento da água. E o público deve descartar as sacolas plásticas e embalagens nos tambores disponibilizados para posterior recolhimento dos homens da limpeza pública.
Cuidado com as velas
Paralelamente à ação de acender velas para os mortos, há outra preocupação que não apenas de eventual incêndios que elas podem causar em dias muito quentes e com vento: o risco de a parafina escorrer pelos corredores entre os túmulos. As pessoas podem escorregar na parafina e levar tombos. Esse risco é bastante real.
A Emdurb também avisou que disponibilizará em todos os locais galões de água potável, poltronas para descanso, cadeiras de rodas para facilitar a acessibilidade dos mais idosos ou com alguma enfermidade e banheiros químicos.
Data do catolicismo
Dia dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados (conhecido ainda como Dia dos Mortos no México), o feriado foi instituído pela Igreja Católica como sendo em 2 de novembro, no século 13, porque sucedia imediatamente o 1 de novembro, data destinada à Festa de Todos os Santos. Acredita-se que a Igreja tenha incorporado uma tradição celta.
A princípio, os cristãos rejeitavam totalmente a ideia de relacionamento com mortos, pois o pensamento dominante era que as almas ficariam adormecidas até o momento do Juízo Final. Mas os povos de cultura celta faziam questão de reverenciar seus entes queridos mesmo após a morte. E até evocavam a presença deles.
Assim, ao mesmo tempo em que o cristianismo era cada vez mais difundido, não conseguia voltar as costas às tradições e as rezas cristãs passaram a fazer parte da cultura pela alma dos falecidos, acreditando-se que eles necessitariam dessas orações, já que estavam no chamado purgatório, em um processo de purificação para posteriormente ganhar o reino dos céus. Assim, como cada sociedade fazia essas orações à seu modo e, em datas diversas, normatizou-se que os cristãos teriam um dia para reverenciar os que já se foram.
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Para os cristãos, (assim como inúmeras outras religiões) a morte não significa o fim, mas a oportunidade de começo de uma nova vida, até o dia em que Cristo, o redentor, irá ressuscitar.
Pela teologia cristã, o livro dos Macabeus (integrante da Bíblia Sagrada) recomenda a oração pelos mortos, dizendo: "É um santo e salutar pensamento este de orar pelos mortos" (Cf 2Mc 12,42-45). Assim os hebreus já no séc. II antes de Cristo, tinham firme convicção de que era boa coisa rezar pelos falecidos. A mesma convicção esteve entre os primeiros cristãos, tanto que os pesquisadores encontraram inscrições nas catacumbas, cemitérios cristãos dos primeiros séculos, com inclusão de votos para que os defuntos encontrem repouso e "refrigério" que quer dizer, em outras palavras a consolação.
Mas segundo a Psicologia Moderna, reverenciar os mortos faz é muito bem para os vivos. Isso porque aplaca a sensação de perda é aplacada. Um estudo de pesquisadores da Universidade Johannes Gutemberg (Alemanha) mostrou que se cada pessoas soubesse que as próximas palavras que irá pronunciar serão as últimas, todas, sem exceção das pesquisadas, dariam uma mensagem de afeto, ânimo e agradecimento aos seus próximos e trariam dentro de si sentimentos bem mais positivos. Essa mesma sensação as pessoas têm quando evocam quem já morreu. O ato de visitar um túmulo, levar uma flor, recordar-se com carinho de quem foi embora, traz para quem ficou emoções positivas. Essas emoções inclusive ajudariam a aplacar sentimentos como o da perda e, ao contrário do que se pensaria, riscar quem morreu do mapa mental é diretamente proporcional ao aumento da solidão.
Lembrar dos antepassados faz muito bem à vida, conclui estudo alemão
Para os cristãos, a morte não significa o fim, mas a oportunidade de começo de uma nova vida, até o dia em que Cristo, o Redentor, irá ressuscitar. Esse conceito de que a morte é recomeço, por sinal está embutido em várias outras religiões.
Pela teologia cristã, o livro dos Macabeus (integrante da Bíblia Sagrada) recomenda a oração pelos mortos, dizendo: "É um santo e salutar pensamento este de orar pelos mortos" (Cf 2Mc 12,42-45). Assim, os hebreus, já no século 2 antes de Cristo, tinham firme convicção de que era boa coisa rezar pelos falecidos. A mesma convicção esteve documentada entre os primeiros cristãos, tanto que os pesquisadores encontraram inscrições nas catacumbas, cemitérios cristãos dos primeiros séculos, com inclusão de votos para que os defuntos encontrem repouso e "refrigério" que quer dizer, em outras palavras, a consolação para as dores de suas almas.
Psicologia explica
Mas segundo a Psicologia Moderna, reverenciar os mortos faz é muito bem para os vivos. Isso porque aplaca a sensação de perda. Um estudo de pesquisadores da Universidade Johannes Gutemberg (Alemanha) mostrou que se cada pessoas soubesse que as próximas palavras que irá pronunciar serão as últimas, todas, sem exceção das pesquisadas, dariam uma mensagem de afeto, ânimo e agradecimento aos seus próximos e trariam dentro de si sentimentos bem mais positivos. Essa mesma sensação as pessoas têm quando evocam quem já morreu.
O ato de visitar um túmulo, levar uma flor, recordar-se com carinho de quem foi embora, traz para quem ficou emoções positivas. Essas emoções inclusive ajudariam a aplacar sentimentos como o da perda e, ao contrário do que se pensaria, riscar quem morreu do mapa mental é diretamente proporcional ao aumento da solidão.
Os túmulos mais visitados
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| Cemitério da Saudades, tumulos mais visitados tumulo de Mara Lúcia Vieira |
Claro que não há comprovação científica dos milagres, mas os três túmulos mais visitados de Bauru são de mulheres, ficam no cemitério mais antigo da cidade, o da Saudade, e já recebem status de "santificados". Pelo menos as placas que lá estão comprovam isso. São dezenas delas agradecendo o milagre ou simplesmente a graça alcançada. Elas estão dispostas nos túmulos da menina Mara Lúcia, da parteira Maria Nunes e da benzedeira Mãe Preta, também chamada de Mãe Benta.
A menina Mara Lúcia
A sepultura mais visitada ainda é a da garota Mara Lúcia Vieira, estuprada e assassinada em 1970. O corpo dela foi encontrado no banheiro de uma casa desabitada próxima à avenida Duque de Caxias, na rua professor José Ranieri, há quase 47 anos, no dia 15 de novembro de 1970. O assassino nunca foi descoberto, embora haja a mística de que teria sido crime perpetrado por um jovem de família rica que logo abandonou a cidade. Nada se provou até hoje.
Outras duas
O túmulo da garota tem, além do maior afluxo, dezenas de placas com as pessoas agradecendo a intercessão dela e a graça alcançada. Esta semana, no entanto, o maior número de placas e agradecimentos estava no túmulo da parteira Maria Nunes. Ela morreu em 1917. Mas de lá para cá, os pedidos de grávidas só aumentam. Igualmente são os pedidos para a benzedeira Mãe Preta ou Mãe Benta. O túmulo de Dona Benta é durante o ano inteiro repleto de flores, santos, vela e placas de agradecimento por bênçãos alcançadas.
Doou o terreno e se suicidou
Odorico Paraguaçu é uma personagem ficcional cômico criado pelo dramaturgo brasileiro Dias Gomes e vivido pelo ator Paulo Gracindo, na novela O Bem Amado, na Globo. Candidato a prefeito da cidade fictícia de Sucupira (no sertão) elegeu-se com a promessa de construir o cemitério da cidade. Apesar de corrupto e demagogo, era adorado pelos eleitores e foi eleito. Só que ninguém morria. Acabou se matando para ser o primeiro a inaugurar a obra.
Pois essa história parece ter sido inspirada na vida real bauruense. Isso porque em julho de 1908 o comerciante (dono de hotel e várias posses entre elas vários terrenos próximos à linha do trem) João Henrique Dix se suicidou e por ironia foi enterrado no túmulo de número 1 do cemitério da Saudade, construído exatamente no terreno que ele doou para que Bauru se igualasse às cidades grandes que já tinham sua necrópole. Conta a história que ele esperou ansioso até o dia em que estava tudo pronto.
Tão logo os portões de ferro que concluíam a obra foram chumbados, ele se matou. Hoje dá nome a uma rua da cidade e, atiça a curiosidade popular: seu túmulo é dos mais visitados.
Você sabia?
A palavra cemitério foi dada pelos primeiros cristãos ao terrenos destinados à sepultura de seus mortos; em latim coementerium, do grego koimenterion.
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