Álvaro Batista de Silva Junior/Divulgação |
![]() |
Vasos de cerâmica feitos em ateliê de São Manuel com a técnica oriental do raku possibilita confecionar belas peças decorativas |
Os ateliês de cerâmica têm ajudado a impulsionar o turismo na região. Em São Manuel, Botucatu e Brotas há verdadeiros artistas no domínio de uma arte que vem dos antepassados. Com os novos aparatos tecnológicos é possível produzir em larga escala. Mas o segredo ainda é confeccionar peças únicas.
Em São Manuel, por exemplo, um tecnólogo de sistemas elétricos, após a sua aposentadoria trabalhando em empresa multinacional, decidiu trocar a capital paulista pela cidade natal. Paulo Turchiari abriu o Ateliê de Cerâmica localizado em antiga área rural herdada da família. Ali produz em diversos formatos e tamanhos variados peças artísticas comerciais e utilitárias.
O que era um hobby virou um empreendimento. Turchiari também faz peças com a técnica do raku, que consiste em levar as peças ao forno em altíssima temperatura e resfriá-las rapidamente - o choque térmico causa o efeito craquelado, com belos e imprevisíveis desenhos. A feitura é quase um "ritual" com o forno a gás atingindo temperaturas que variam de 900 a 1.000 graus.
Em Brotas, Zahiro Anand também domina a técnica do raku que aprendeu em Indaiatuba e aperfeiçoou após residir por 10 anos em Cunha, um dos polos ceramista artístico mais conhecidos do Estado de São Paulo, onde estão renomados artesãos. Ele mantém o Anand Galeria e Arte em Cerâmica Raku, onde também é possível visitar o ateliê e conhecer as peças.
Já Adriana Aria, do Barra da Serra de Botucatu, tem uma diversificada produção de material de cerâmica e painéis decorativos. No amplo espaço que mantém na Vila dos Médicos também abriga quadros e outros tipos de artesanato. Mas a especialidade dela é utilizar a argila da própria região em modelagem de artefatos e até na confecção de belas mandalas.
A artesã tem em uma área rural onde mantém um forno a lenha para produção de peças, mas o negócio cresceu, abriu a loja na cidade (que é uma espécie de sala de exposição) e utiliza também forno elétrico para confeccionar vários tipos de peças. O Barro da Serra também faz parte da programação de atividade turística do Polo Cuesta.
HOBBY VIROU ATELIÊ DE CERÂMICA
Aurélio Alonso |
![]() |
Paulo Turchiari é proprietário do Ateliê de Cerâmica localizado no município de São Manuel |
A arte da cerâmica foi um hobby que Paulo Turchiari descobriu após se aposentar. E aos poucos vem se firmando na região de Botucatu, principalmente depois que a Prefeitura de São Manuel decidiu apostar no incremento do turismo no município com a divulgação do ateliê. Recentemente até placa indicativa foi instalada na frente da pequena área pertencente ao dono do Ateliê de Cerâmica, como é o nome oficial, remanescente de uma antiga fazenda da família. O local já se destaca na produção de peças artísticas, comerciais ou utilitários de cerâmica. Outro destaque é a produção de peça em forno raku (técnica oriental de cozer as peças a 1.200 graus numa segunda queima).
Turchiari é um ex-aluno das primeiras turmas de tecnologia de sistemas elétricos da Fundação Educacional de Bauru (FEB), instituição depois encampada pela Unesp. Ele é natural de São Manuel, estudou em Bauru e depois foi conhecer o mundo trabalhando em uma multinacional sueca e suíça especializada em máquinas de alta tecnologia, algumas delas no ramo de robótica para plataformas de petróleo.
Com a morte da esposa de câncer, Turchiari decidiu se aposentar e voltar à terra natal, e o hobby virou uma atividade que mistura arte com renda.
Antes de apostar no ramo, ele conta que já fazia mosaicos de cerâmicas. Isso abriu as portas para fazer cursos, aprender técnica de modelagem em argila e produzi-las em forno a gás. Uma de suas professoras foi Lu Leão, da capital.
A cerâmica é uma arte milenar. No Brasil, os povos pré-históricos do Piauí eram exímios ceramistas e os indígenas são grandes artistas. Essa atividade, por exemplo, impulsiona a economia e gera renda na cidade de Cunha, próximo a São Paulo, onde foi introduzida por volta de 1975 com a construção do primeiro forno Noborigama (de altas temperaturas) e com influencia indígena ibérica.
Turchiari conta que a queima da peça é um processo demorado. Após 12 horas em um forno a gás, a massa de argila adquirida de um fornecedor paulistano vira o que se chama de "biscoito". É a peça pronta sem acabamento. Depois ela é esmaltada. É um processo que também exige conhecimento para misturar cores. A queima da peça demora de 14 a 18 horas. São de 12 a 15 componentes para dar uma cor diferenciada, deixando a peça diferente. "Nas peças utilitárias não uso componente tóxico", explica. Esses utilitários também rende encomenda por parte do setor de alimentação, principalmente restaurante e pizzarias.
No ateliê são produzidas desde peças decorativas a cumbuca, pequenos pratos, bule e até canecas. Atualmente, Turchiari faz um pequeno presépio. A modelagem da argila é feita em um torno movido a eletricidade, mas no ateliê ele tem um manual. Os preços são os mais variados, dependendo do tamanho: vai de R$ 15 a R$ 100.
Quando perguntado sobre a atividade, o artesão resume com um ideal. "Dinheiro não é tudo, optei pela qualidade de vida. Faço o que gosto", finaliza.
Serviço
Ateliê de Cerâmica (14) 3842-3257 ou (14) 99882-0331. Rua Coronel Emiliano, 591, São Manuel, (pturchiari@uol.com.br)
TÉCNICA ORIENTAL POSSIBILITA PEÇAS ÚNICAS
Álvaro Batista de Silva Junior |
![]() |
A cerâmica fica incandescente na alta temperatura |
Paulo Turchiari diversificou a produção ao incluir também o uso da técnica do raku, originária do Japão, onde surgiu no século XVI, desenvolvida pelo ceramista japonês Tanaka Chojiro. A peça de cerâmica, após ser produzida pelo processo de queima, passa pelo segundo cozimento em um formo que chega a 1.200 graus.
O material fica incandescente. É necessário a utilização de máscara, além de outros equipamentos para proteção do calor. Usa-se uma tenaz (espécie de pinça) para manusear as peças. Após a cerâmica passar por esse processo de alta temperatura, a cerâmica é levada num ambiente com pouco oxigênio e retirada para um balde com serragem. O choque térmico possibilita que a peça fique com ranhuras, quando é mergulhada em água.
No Japão é associada à cerimônia do chá. Daí que, tradicionalmente, tenha sido utilizada sobretudo em taças e outros objetos ligados a esta tradição. A feitura é um "ritual". No ateliê, Turchiari conta que convida grupos para jantares, onde assistem todo o processo de queima das peças. No ocidente, a técnica chegou em 1920 por influência do ceramista Bernard Leach.
Para buscar inspiração, ele conta que adquire livros que têm fotos de objetos orientais elaborados com uso da técnica, mas as peças nunca vão ficar iguais. No próximo dia 10 de dezembro será realizada a 3ª edição da Sama & Arte - Feira Cultural de São Manuel, quando será realizada uma sessão de raku nas dependências do Ateliê de Cerâmica. Na região, em Brotas, tem também uma ateliê que domina a mesma técnica.
DE MANDALAS A PEÇAS DE CERÂMICAS
Aurélio Alonso |
![]() |
Adriana Aria é proprietária do ateliê de cerâmica Barro da Serra de Botucatu |
A artesã Adriana Aria está há 15 anos no ramo da cerâmica, mas o seu estabelecimento é espécie de ateliê onde também expõe até telas de artistas locais. O Barro da Serra fica numa travessa sem saída na Vila dos Médicos, bem próximo da entrada de Botucatu, com um mezanino com janela arredondada que tem uma bela vista da cidade.
Adriana faz a modelagem sem uso de torno. As peças são mais demoradas nesse processo, algumas são rústicas com o uso de argila da própria região, com mais óxido de ferro, por isso a cor mais amarelada. Nos ateliês de São Manuel e Brotas a argila vem da capital.
A produção do Barro da Serra é variada: santos, bonecas, mandalas, garrafas, fontes e poucos utensílios. Com experiência de 12 anos em hotelaria, Adriana contou que a cerâmica entrou na sua vida para desestressar. "Me apaixonei tanto [pela atividade] que não deixei mais de fazer", revela, enquanto atende dois clientes. O Barro da Serra é uma loja, embora há cinco anos as suas atividades se concentravam em um sítio, onde tem um forno a lenha. Neste local ainda continua em atividade, mas direcionado para cursos rápidos para quem quer aprender a técnica. As aulas são nos finais de semana e também pode ser ensinadas para crianças e adolescentes.
A maior parte da produção é confeccionada em um forno elétrico instalado no sotão da loja. Adriana, no entanto, tem uma produção diversificada. Já fez um busto da imagem do fundador de uma empresa de Pompeia e também é especializada em produzir mosaicos para serem fixados em jardins ou mesmo em muro. É uma decoração diferente. "É uma forma de colocar a arte dentro de casa. Faço painel fixo ou de azulejo. Quem assenta é o pedreiro", conta. Há também produção de cerâmica de número de casas artesanal ou em relevo.
Serviço
Barro da Serra: aberto de segunda a sexta das 14h às 19h e sábado das 9h às 13h. Rua Tulipa, 140, Vila dos Médicos. Telefones (14) 3813-7137 ou 99775-2001.
BROTAS TEM GALERIA QUE PODE SER VISITADA COM PEÇAS FEITAS DE RAKU
Zahiro Anand veio de Cunha, o maior polo ceramista do Estado, para Brotas, onde abriu o Anand Galeria e Ateliê de Arte em Cerâmica. No local também há uma sala de exposição muito visitada, onde estão belas peças feitas pela técnica do raku.
Divulgação |
![]() |
Ateliê também tem sala de exposição onde pode ser visitado |
O ateliê também figura como local de visitação turística. Quando é possível, Zahiro abre as portas para demonstrações a grupos de visitantes para acompanhar como a produção da cerâmica pelo processo da técnica oriental, quando é cobrado ingresso e são servidos pipoca, amendoim e chás gelado e quente. O local foi aberto em 2012.
Zahiro conta que o raku é uma técnica de cerâmica de queima rápida. Em Brotas, o forno é a gás. A argila é uma massa especial adquirida de fornecedores em São Paulo. "A argila tem que ser muito boa, por causa do choque térmico. Ela racha muito", explica. Todas as peças são decorativas, dos quais painéis e artefatos modelados à mão (as mais escultórias) com tamanho em média de 30 a 40 cm. O formato lembra a garrafas, mas são diferenciadas. Há painéis feitos de ferro, onde a cerâmica é fixada no painel.
No processo de produção das peças, Zahiro explica que elas são queimadas duas vezes. Inicialmente a 800 graus e leva de 3 a 4 horas para atingir a temperatura alta. Depois na segunda queima, em 50 minutos chega entre 980 a 1.000 graus. "A peça só é vista incandescente, quando o forno é aberto para a retirada da cerâmica. É retirada e colocada dentro de um buraco com serragem de madeira onde fica 8 minutos e depois vai jogando água fria com uma mangueira. O que acontece quando o forno abre? Essas peças recebem um choque térmico e produz um craquelado (rachadura) no esmalte. Ao colocá-lo no buraco com serragem, forma uma fumaça forte com muito carbono, que penetra nesse craquelamento", conta Zahiro, que domina a técnica há 25 anos, quando começou a aprender em Indaiatuba e residiu em Cunha.
Serviço
Anand Galeria e Ateliê de Arte em Cerâmica: rua Francisco da Costa, 260, Brotas (14) 3653-3079. O site (www.anandatelier.com).