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Em nome dos apelidos

João Pedro Feza
| Tempo de leitura: 2 min

Batata. Apelido de infância. Poucos na família me chamam pelo nome. Bom, basta dizer que, para minha irmã, sou o... Batata. Quando muito pequeno, dizem as tias, o apelido colou porque era uma criança meio "embatatada" mesmo, gordinha ou roliça. Na adolescência ficava ouvindo dos outros aquele trecho da Blitz: "Batata, a essa hora?" Ou da mesma música "Egotrip": "Ah! desculpe princesa, mas tinha que ser agora / Oh, Batata..."

Chegando em Bauru não demorou muito para entender que tinha um Batata mais conhecido do que eu, vereador e tal. E, faz tempo, disse isso a ele: "Não vou ameaçar seu reinado nesse apelido. Pode ficar tranquilo". Uma outra tia me chamava de Dodoca. Alguns traquinas da faculdade viram em mim um Norman Bates.

Mas sou mesmo o Batata, ainda que só em Ourinhos, preservado que fiquei em Bauru de tal nominação. Nunca me incomodei. Mas apelidos podem ser cruéis no começo. Belo, o cantor, dizem que teve o apelido colado em si justamente como efeito reverso. Pura ironia. Depois ficou famoso e, com a fama, ficou mais bonito. Apelidos podem ser práticos. Renato Aragão escolheu Didi justamente para "pegar", ficar fácil do público se acostumar. Virou eterno. Tem uma pegadinha antiga de rádio antiga em que o locutor Mução liga, enrola o cara o outro lado, puxa conversa fiada e começa a dar indiretas até chamá-lo pelo apelido que detesta: Casca de Ferida. O cabra ficou fera.

Digo tudo isso para, na condição de apelidado sereno e admitido, enviar minhas melhores energias ao Muralha. Nunca vi, nos meus 46 anos de apelidamento feliz, alguém ser tão detonado por causa de um.

Muralha, goleiro do Flamengo, teve até seu nome de guerra extirpado das páginas do jornal "Extra", que passou a tratá-lo sempre e tão somente por Alex Roberto, nome de batismo. E mais: chamou de Muralha o goleiro César, substituto que catou pênalti e botou o time na final da Sul-Americana.

Então é o seguinte: Muralha falhou, e falhou de novo, mas não ficou em cima do muro e pediu desculpas. Que volte a fazer jus ao seu imponente epíteto. Já os inquisidores de plantão deveriam pegar mais no pé dos donos das alcunhas que brotam das planilhas da roubalheira. Por causa deles, não de goleiros ou outros trabalhadores, é que o Brasil tem o nome jogado no lixo. E apelido nada honroso de País da Corrupção.

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