| Divulgação |
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| Cuteleira Marina Farão manuseia material para confecção de faca |
Com toda a modernidade o trabalho artesanal de confecção de peças únicas ainda encontra adeptos e especialistas. A cutelaria, por exemplo, é um setor que o profissional demora anos para se aperfeiçoar. Em Lençóis Paulista, Ibitinga e Botucatu há profissionais reconhecidos nessa área.
Embora seja uma atividade do universo masculino, a cuteleira Marina Farão é uma das pioneiras no país. Ela e Silvana Mouzinho, da capital, são das poucas mulheres que trabalham exclusivamente nessa área e são bem requisitadas.
A cutelaria faz parte da história da civilização desde que o homem descobriu as ferramentas como a pedra lascada para usá-la na caça. Junto com a descoberta do fogo, os ancestrais passaram a fabricar os utensílios.
O termo cutelaria é definido como arte e ofício dos artesãos que fabricam instrumentos de corte como faca, facões, adagas, punhais entre outros.
Na região, por exemplo, em Lençóis Paulista há cuteleiros como Fabio Malagi que tem o seu empreendimento no fundo de sua casa, Cristiano Campanholli que, além de produzir facas, é também um artesão na confecção das bainhas feitas de couro, Marina Farão que já é conhecida, entre outros profissionais. As facas são classificadas basicamente em utilitários e esportivas.
Em Ibitinga, Dionatam Franco é um profissional reconhecido em todo o Estado com prêmio conquistado na confecção de facas. Ele mantém um blog especializado e também oferece um curso que ensina aqueles que querem iniciar no ofício. Franco se iniciou na arte da cutelaria aos 14 anos pelo gosto de produzir suas próprias facas, depois aos 19 anos concluiu curso de ferramenteiro pela Paula Souza e já aos 23 anos se tornou cuteleiro ful-time. No seu curso, ele passa também visão teórica e prática aos futuros cuteleiros.
É um mercado em expansão no Brasil, mas concentrado em especialistas que buscar aperfeiçoar seu trabalho. Bruno Malagi contou ao JC que começou ainda menino, depois foi aperfeiçoando assistindo a programas especializados na TV por assinatura e fez curso com especialista. Tem que ter habilidade manual e dominar vários setores como de manter as peças em altas temperaturas usando forno a gás - há profissionais que preferem o forno a carvão.
Dependendo dos detalhes das peças, algumas demoram semanas e os preços podem variar conforme a peça ser única de R$ 200 a mais de R$ 1.000.
O cuteleiro Cristiano Campanholli, de Lençóis Paulista, conta que aprendeu "na raça". "É uma paixão", revela. Leia mais nas páginas 18 e 19
Você sabia?
| Aurélio Alonso |
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| Marina Farão mostra uma faca diferenciada que foi produzida por ela em Lençóis Paulista |
As primeiras facas conhecidas eram pedaços de pedra, lascada para produzir uma borda afiada, usada para cortar, raspar e bater o alimento. Eram produzidas manualmente a partir da pedra, depois passaram a utilizar o bronze, ou ferro, estas desenvolvidas pelos celtas.
Primeira mulher cuteleira é de Lençóis
A cutelaria é um ramo para especialista. Marina Farão já virou um nome conhecido na confecção de facas diferenciadas. Ela já participou de um projeto junto com a Corneta Cutelaria - uma das maiores e renomadas do país - no desenvolvimento da faca Wotanpara usada pelas tropas especiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) carioca. Atualmente a empresa dela tem instalações no Distrito Industrial II em Lençóis Paulista. A marca Soberana já é conhecida por colecionadores e de quem precisa de um material mais personalizado.
Marina Farão iniciou suas atividades acompanhando e ajudando seu cunhado, o cuteleiro José Alberto Paschoarelli em sua oficina. Sua primeira faca ganhou destaque na Revista Magnum edição 67 comemorativa dos 500 anos do Brasil, ao lado de renomados cuteleiros. Pascoarelli, por sinal, ensinou outros cuteleiros de Lençóis, como Bruno Malagi.
A cuteleira admite que é um setor que está em expansão, principalmente porque a internet ajuda a difundir e trocar informações especializadas. É uma atividade que geralmente passa de geração para geração, mas no caso de Marina isso não ocorreu. "No meu caso, não sei explicar como isso ocorreu. Eu vi o processo de confecção de uma faca, me apaixonei e passei a buscar informação. O meu cunhado me chamou para desenvolver a bainha da faca. E até hoje eu não gosto de fazer e terceirizamos. Na oficina do meu cunhado ao ver a forma de como era feita uma faca me encantei", revela.
Ao explicar como é feita uma faca personalizada, ela explica que é exatamente como um quadro, cujo autor sempre põe a sua assinatura. "A minha assinatura numa faca vale 80% do valor", explica sobre o ofício da cutelaria, porque cada peça produzida entre os profissionais dessa área tem valor considerável como acessório único. "É uma peça exclusiva e assinada por alguém", ressalta Marina.
O cuteleiro faz as peças exclusivas, mas também coloca o conhecimento de anos de facas em série de qualidade. "Esse é o nosso ganha pão, mas colocamos esse conhecimento do artesanal para um produto de larga escala".
O cuteleiro para sobreviver tem que fazer outros produtos, por isso tem produção variada. Acaba usando do conhecimento quando produz peças únicas em outros tipos de produtos, dos quais brinde promocional, também um segmento muito procurado pelas empresas.
Marina admite que a internet dá essa possibilidade de conhecer, mas tem que apanhar bastante para errar e aprender. "A dificuldade para um cuteleiro é não conseguir fazer uma grande quantidade de facas. Temos uma gama de clientes muito pequena para esse nível de produto, então tem que vender uma faca cara, diferenciada. A dificuldade é firmar o nome. O mercado está em crescendo e ainda assim bastante carente. Não temos produto de alta qualidade de brinde promocional. Ainda a visão de muitos é comprar em lote produtos da China que são baratos, mas de qualidade inferior", cita.
Na produção das peças usa-se a forja a gás - o aço e o material chega a temperatura de 1000 graus, e manipulado manualmente, porém o uso da forja a carvão é mais usado em eventos para demonstração. "A forja a carvão é o antigo é o milenar. Mudou muito a tecnologia e conseguimos muitas facilidades para ajudar no processo, mas é possível no processo bem rudimentar fazer uma faca do começo ao fim", finaliza. O contato dela é (14) 99673-2905.
Cutelaria tem sempre que aperfeiçoar
| Aurélio Alonso |
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| Fabio Malagi é autodidata e aprendeu a cutelaria observando o trabalho de outro profissional |
A arte da cutelaria obriga a estar sempre se aperfeiçoando e até é preciso criatividade para criar equipamentos para a produção dos utensílios. Fabio Malagi, por exemplo, contornou as dificuldades ao construir uma lixadeira de cinta. Como não encontrou alguém que fizesse a máquina, ele decidiu estudar por conta própria e fazer o equipamento que funciona muito bem. Se adquirisse o equipamento, custaria mais de R$ 12 mil.
Malagi é cuteleiro em Lençóis Paulista e aprendeu ofício ainda menino. "Sempre gostei desses artigos medievais e faca em geral. Na época não tinha programa na televisão e nem material disponível na internet sobre cutelaria. Hoje a gente acha tudo", comenta.
A primeira faca foi feita quando ainda tinha 12 anos, nem tinha ferramenta adequada. O mais curioso é que Fabio começou escondido do seu pai, usando uma antiga furadeira elétrica com uso de pedra de esmeril. "Não sabia nada, nem de tratamento térmico", observa.
Igual a Marina Farão quem também passou os primeiros conhecimentos foi José Alberto Paschoarelli. "A maioria de Lençóis começou a aprender cutelaria com ele. Ele não dá curso, eu ia sem ser convidado até a casa dele para aprender. A oficina ficava em um sitio e ajudava em tudo, até podar árvore. Foi lá que fiz a minha primeira faca", relembra. Ele chegou a ter sociedade com Marina Farão, depois cada um seguiu por conta própria.
A sua oficina funciona no quintal de sua casa, onde tem bigorna e forno a gás. O botijão fica mergulhado em um tambor com água, porque durante o processo o gás chega a congelar. embora ele serve para aquecimento e alimentar a forja, que é aquecida para chegar até 1000 graus, quando modela o aço.
Fabio conta que fez um curso de introdução à cutelaria artesanal com o cuteleiro Dionatam Franco, de Ibitinga, que mantém um blog com informações e ensina desde conhecimentos teóricos a aulas práticas. Ele também iniciou na arte da cutelaria aos 14 anos, tem formação de ferramenteiro pelo Centro Educacional Paula Souza e também produz ferramentas para forja como tenazes e hardies, faz máquinas para cutelaria como lixadeiras, marteletes e ministra cursos. "A parte mais fina e o acabamento aprendi nesse curso com o Franco. É um trabalho artesanal, porém a cutelaria é de muita precisão e os detalhes são importantes, porque tem muito cuteleiro produzindo faca. Quando comecei fazia o tratamento térmico na forja a carvão e hoje usamos o gás, porque usamos aço que precisamos de mais precisão no uso da temperatura. Uma diferença de 10 graus no tratamento térmico pode significar o não melhor aproveitamento que o aço tem a oferecer", explica. O contato de Fabio é (14) 99647-1601.
Bainha é feita de couro
Há um quadro do pintor espanhol Francisco Goya que define bem o que seja uma forja. A wikipédia, por exemplo, tem longo texto sobre o que é a cutelaria e utiliza o quadro clássico para ilustrar a modelação de espadas e metal.
O termo forja é fabricar algo em um modelo. Mais utilizado para o trabalho feito com o metal, como forjar uma espada.
A enciclopédia livre da Internet define forja do francês antigo forge, forma derivada de faverge, que remete ao lugar onde se trabalha o metal. Por sua vez, o termo faverge provém do latim fabrica, que tanto pode se referir a "oficina", quanto a "ofício" ou "arte".
O processo de forjamento por meio da forja ainda se parece com aquele consagrado na Idade Média, segundo o qual o metal deve ser aquecido, martelado sobre uma bigorna. Na cutelaria, apesar de novos equipamentos, ainda é possível usar a bigorna e aquecimento da forja com carvão.
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