A história de Moacir Ferraz, 49 anos, é daquelas que proporcionam reflexão sobre a vida e o que de fato encaramos como dificuldade. Com a mobilidade reduzida no corpo todo por complicações no parto, ele aprendeu a driblar a deficiência com coragem e um dom que descobriu ainda na infância: a pintura. O pouco movimento que tem no pé esquerdo basta para que Moacir produza obras em óleo sobre tela. Hoje, ele complementa a renda da casa com o comércio de sua arte e tem escolhido o Calçadão da Batista, entre as quadras 6 e 8, como paradeiro.
"Sou tetraplégico, mas a cadeira de rodas me dá asas. Acho que as pessoas podem fazer qualquer coisa se elas quiserem", comenta Moacir, que para ficar reto apoia o corpo todo com ajuda do braço atrás do encosto da cadeira. "Antigamente, eu tinha vergonha, mas aprendi a me valorizar e a vender a minha arte, depois que meus pais morreram e eu tive que me manter", completa o homem, que ainda sofre de tremores, tem dificuldade na fala e, apesar de conseguir pintar seus quadros sozinho, depende de sua companheira Ilda Santos, 56 anos, para todo o resto.
Ou seja, para pegar as tintas, arrumar a tela, se locomover, comer, tomar banho, entre outros. Cada quadro leva seis horas por dia e uma semana em média para ser finalizado. Artista com traços delicados, ele costuma pintar a natureza, os animais e algo que expresse a liberdade.
HABILIDADE
O dom foi descoberto aos 5 anos, quando ele foi colocado para descansar apoiado em uma árvore no sítio em que morava com a família. "Um galho caiu no meu pé e eu desenhei um cavalo na terra com ele. Meu pai viu aquilo e ficou emocionado. No mesmo dia, ele foi até a cidade e me comprou lápis de cor e uma caderneta. Daí para frente eu nunca mais parei e descobri a pintura", conta.
Depois da morte de um irmão que o ajudava, em 2013, a situação teria piorado ainda mais, mas um ano depois ele conheceu Ilda, cabeleireira, que largou tudo para o ajudar 24 horas por dia. "Mesmo com todas as dificuldades, o Moacir nunca desanima. Pelo contrário, é ele que me anima e eu o quero muito bem", afirma Ilda.
O casal vive com o salário mínimo que ele ganha do governo federal, por causa da deficiência. E perambula por cidades vendendo a arte. Ilda também costura e faz artesanatos.
SONHOS
Moradores de Marília, eles sonham em mudar para Bauru. "Essa cidade me acolheu e me respeitou como eu sou. As pessoas me enxergam e colaboram. Em outras cidades éramos invisíveis e já fomos até expulsos", diz Moacir.
Outro sonho dele é uma cadeira de rodas elétrica, para que possa adaptar o controle ao pé e se locomover sozinho. "Não sei até quando vou aguentar pintar. Faço muita força, é difícil e sinto dores, mas não posso parar e largar minha esposa sem nada. Precisamos de uma casinha para morar, nem que seja meio terreno para erguer dois cômodos", projeta.
Ilda e Moacir viajam de carona com uma amiga para Bauru uma vez por mês e costumam passar cerca de 10 dias no hotel de um amigo. Atualmente, eles estão em Marília e voltam para Bauru apenas em fevereiro.
Quem se interessar pela história e quiser ajudá-lo a conseguir uma cadeira de rodas elétrica ou um lar em Bauru pode acioná-lo pelo (18) 99744-1680 (falar com Maria Cruz, enteada dele).