| Nelson Gonçalves |
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| O cenário cafeeiro regional foi aquarela do Príncipe Dom Antônio de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel e irmão de S.A.I.R Dom Luiz de Orleans e Bragança, que foi chefe da Casa Imperial do Brasil |
Profissionais liberais, empresários, amigos, familiares, integrantes de grupos sociais filantrópicos, de clubes de serviços. O que essas pessoas, coletivos, têm em comum é a abertura por encontros em locais sofisticados, com aromas e sabores especiais. Mas não se trata aqui da agenda "trivial" em restaurantes de cozinha reconhecida. Abre-se uma janela de oportunidade no Interior de São Paulo para reuniões que levem em conta a seleção do público, do endereço, do inusitado no cardápio, no paladar. E isso, ainda, agregado a uma opção destacada em artes plásticas, pintura, música, literatura.
A junção entre espaços que despertam para a arquitetura, ou a paisagem, a história, a decoração que o seja, e o necessário bom gosto para a degustação forma convergência em cidades da região. A ideia tem, em seu nascedouro, a criação de agenda específica para esse tipo de "formatação social". Não é só encontro, mas também não é a degustação o elemento principal. O interior paulista se abre para a descoberta do "encontro e requinte", uma "simbiose social" que aguce mais de um sentido natural.
A percepção de que networking, relações políticas e de aproximação, de eventuais negócios, ou apenas o prazer por saborear nas relações sociais, e além delas, "encontros requintados" está ganhando corpo. É o que será experimentado, aliás, no primeiro Friends Coffee, em São Manoel (SP), no próximo dia 28 deste julho, das 17 h às 21h30 no Fazendão, cuja antiga sede está ao lado da histórica Estação Ferroviária Rodrigues Alves.
É o que está sendo experimentado pelo casal Ciro Moss Davino, advogado, e Simone Casquel Davino, empresária. Habituados à rotina de encontros sociais, de negócios e o convívio próprio do meio, eles pensam, há um bom tempo, em algo que possa associar suas ações com novas dinâmicas.
A proposta ganhou novos ares com a reforma da sede do Fazendão. A propriedade fica a 9 quilômetros asfaltados da área urbana de São Manuel. Lá, na antiga vila de colonos que se formou na zona de fazendas do auge do café, está a estação Rodrigues Alves, e a construção de estilo neoclássico.
A agenda do dia 28 de julho tende, na vontade dos idealizadores do encontro, a não ser isolada. Ciro Moss conta que "recuperar a memória do casarão do Fazendão, reunir amigos, pensar no local como ponto de encontro ou de eventos sociais ou de agenda especial, de amigos ou negócios, que envolvam outras expressões, como alguma exposição, recital de piano, lançamento literário, ou até a degustação de um café especial é algo que lhe atrai".
A proposta de encontros com requinte, com diversificação em torno do conteúdo da agenda e do paladar a ser apreciado, tem no Casarão da Fazenda Saltinho, a princípio, um ponto de referência. Mas o endereço não é o único exemplo. Ainda na área de influência da Cuesta de Botucatu, a Fazenda São Pedro do Pardinho se destaca.
O café, a música, a literatura, exposições, passam a ser elo de encontros em sedes de fazenda, edificações que marcaram época... Assim como no já desenvolvido mercado de bebidas e alimentos artesanais, como cerveja, vinho, cachaça, queijos, geleias e outras iguarias, públicos "especiais" estão ávidos por novas e inusitadas possibilidades para "encontros e requintes".
Do casarão ao morro da Cuesta
| Nelson Gonçalves |
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| Ciro Moss Davino na entrada da sede da antiga fazenda Saltinho |
O advogado Ciro Moss Davino começou a restaurar o casarão da Fazenda Saltinho, em São Manuel, a princípio com o objetivo de transformar o endereço em espaço para locação para casamentos e festas. Ao longo das conversas com a esposa Simone Casquel Davino, e entre amigos, porém, a imponência dos paredões com arquitetura neoclássica foram gerando outras possibilidades. Até que Ciro convocou a cerimonialista Alessandra Lima para pensar um projeto de reuniões com "algo mais" para o endereço.
"O primeiro passo depois de readquirir o imóvel que foi de meu tataravô e onde eu passei a infância com meu avô foi pensar em restaurar. Conseguimos a regularização do imóvel tombado pelo patrimônio cultural. A partir dai, a memória afetiva da família, a preservação de talvez a última sede de fazenda no estilo neoclássico na região e a busca por uma ideia de ponto de encontro desse espaço foi surgindo. Até que convidamos a Alessandra para pensar um projeto por etapas para o casarão. A agenda de 28 de julho vai reunir amigos, gente do nosso relacionamento pessoal, de vínculos também social. Vamos reuni-los e apresentar o local reformado e ouvi-los sobre agenda de encontros", comenta Ciro.
| Nelson Gonçalves |
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| O casal Ciro Moss Davino e Simone Casquel está restaurando a sede do casarão neoclássico que marcou o auge do café na região de São Manuel |
A cerimonialista, então, passou a pensar no ponto de encontro associado a outros atrativos. "Nessa agenda para apresentação do local com a restauração concluída até esta etapa vamos receber 130 convidados com café colonial, um encontro de amigos, de amizades. Mas o café especial, o pão especial, o queijo são parte do desafio de estimular o encontro também para algo além do trivial. Não é que não existam essas possibilidades de paladar em casas específicas. É que nossa proposta é de convergir o encontro para um local especial, como esse casarão, com o atrativo relacionado ao requinte do paladar. Além disso, pensamos em um piano, sugerir música com autores especiais em outras agendas", menciona.
Para os organizadores, a sociedade de São Manuel, Botucatu, Lençóis Paulista, dispõe de grupos que tem "carência por encontros específicos, agendas especiais. Por que não realizar exposição de quadros aqui, reunir esses públicos que já se conhecem, em negócios e vínculos sociais, em lançamento de livro, apreciar uma sugestão de vinho novo sugerido no circuito, buscar música com características fora do circuito comercial. O diferencial é reunir tudo isso: casarão, agenda, gostos requintados, encontros especiais", sugere Alessandra Lima.
A família de Ciro Moss Davino vendeu a fazenda de 300 alqueires, onde fica o casarão, em 1976. "O trem passava com café vindo do ramal de Bauru por aqui. Até 1996 a utilização era plena. Aqui era um bairro organizado de São Manuel, com comércio, farmácia, famílias de colonos. Agora isso tudo se foi. Mas tenho a oportunidade de preservar e dar destino à sede, já em reforma. Estamos na primeira etapa de restauração. Vejo que este espaço pode sim ser catalisador de agendas entre grupos que buscam, separadamente, outros locais. O espaço pode ser eclético, reunindo memória, agenda especial, beleza arquitetônica e convergência de agenda", finaliza Moss.
CASARÃO DOS SIMÕES
| Nelson Gonçalves |
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| O casarão da Fazenda Saltinho foi construído no final do século 19 |
O casarão da Fazenda Saltinho, construído no final do século 19, saiu dos desenhos de Francisco de Paula Ramos de Azevedo, um dos famosos do País na arquitetura. É dele a assinatura de obras na capital Paulista como o Teatro Municipal, a Agência Central dos
Correios, a Casa das Rosas, na avenida Paulista, Santa Casa de Misericórdia e a
Secretaria Estadual de Educação.
A propriedade de 300 hectares era de propriedade do coronel Amando Simões. As paredes da sede da então fazenda Saltinho foram pintadas por José Canela. Ele tem painel no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Na sala do casarão há escada em madeira, na forma de caracol, com acesso ao sótão. O piso também foi preservado, com madeira e ladrilhos. As paredes com sustentação nas áreas principais de cinco tijolos maciços garantem a estrutura do casarão.
Apesar de levantado no final do século 19, o casarão trouxe, desde a época, instalações hidráulicas, energia elétrica, sanitário e telefone. A família Simões chegou por volta de 1860 na região, vinda de Minas Gerais. De estilo neoclássico, o casarão tem espaços que abrigaram 10 quartos em um único piso. A fazenda Saltinho foi referência na produção de café, conforme o livro “As Nossas Riquezas”, de João Netto Cladeira, de 1928. Nele está registrado que a propriedade de monocultura cafeeira produziu 800 arrobas diárias de café
com o uso de energia hidráulica.
De tão especial, o escoamento da produção era garantido pela estação Rodrigues Alves, estrategicamente localizado próximo da sede. Já a estação Rodrigues Alves, inaugurada em 1897, foi ramal da Ferrovia Sorocabana vinda do ramal de Bauru. As terras onde foi instalada a estação eram do depois presidente da República, Rodrigues Alves,
que dá nome ao local. À volta, uma vila foi formada. Lá haviam duas vendas, uma igreja, uma escola e farmácia.
A antiga vila ferroviária da Estação Rodrigues Alves fica distante um quilômetro da rodovia São Manuel-Barra Bonita, a oeste. O caminho cruza a linha férrea, em nível.
Por ali já foi escoada grande parte da safra agrícola do município de São Manuel. A Estação de Rodrigues Alves, da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, fica no ramal Botucatu-Bauru, que passa por São Manuel e que ainda serve como importante corredor
de transporte, sobretudo de combustíveis, estes levados para o Mato Grosso do Sul e países vizinhos.
A Estação ganhou novos edifícios em 1926 e foi denominada Rodrigues Alves em homenagem a Francisco de Paula Rodrigues Alves, fazendeiro em São Manuel e conselheiro do Império antes de assumir a presidência do País.
Café especial servido no morro
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| Colheita tem processo mecanizado e manual |
A proposta de promover encontros requintados tem como aliados os cenários naturais da região da Cuesta, o casarão neoclássico de São Manuel e endereços onde o negócio está consolidado, como o Cuesta Café da Fazenda São Pedro do Pardinho.
A cerimonialista Alessandra Lima iniciou a aproximação de empresários e público destes e outros endereços na região de Botucatu. "Vejo esses espaços como essenciais para o desenvolvimento da experimentação voltada a encontros especiais. Os proprietários do casarão já se despertaram para a vontade de avançar nesse sentido. Na Cuesta de Pardinho o café já tem fazenda com preparo especial para servir café especial", informa.
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| Antigo terreirão de secagem manual é mantido na fazenda São Pedro do Pardinho |
A propriedade que integra o Cuesta Café tem 400 hectares e é da família Pinotti há mais de 60 anos. Eles vieram da Itália para cultivar café e criar gado. O grupo está na terceira geração, com o jovem empreendedor Yuri Pinotti à frente do negócio.
O oásis rural está na saída do Km 193 da rodovia Castelo Branco, pela rodovia João Emílio Roker. Na primeira curva à esquerda está a cafeteria com ampla vista para a região da Cuesta. "Assumi o desafio de continuar a produzir café especial, em altitude de 900. Os cuidados vão desde o plantio à colheita e secagem do café. A classificação garante o café especial, acima de 80 pontos. O arábico é o que se dá melhor nessa região, pela fisiologia da planta", conta Yuri Pinotti.
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| Proposta é privilegiar encontros que aproveitem cenários naturais, como o Cuesta Café de Pardinho |
Da área de 400 hectares 150 são de preservação e 100 hectares contam com pés de café. Parte da produção é semi-mecanizada. Pelo menos 15% é do tipo especial. Entre as espécias plantadas estão o Catuaí amarelo e o Acaiá (uma mistura de Bourbon com Típica). Outras experimentações já foram implementadas.
ESPECIAIS
Na fazenda São Pedro do Pardinho, a plantação do café está localizada em altitude acima de 900 metros acima do nível do mar, condição essencial a receber nutrientes necessários para um café especial.
A colheita é feita tanto artesanalmente quanto semi-mecanizada. O processo de secagem é feito em terreiros, de forma natural. O local trabalha com três blends principais, o Bourbon, Jasmin e Cereja, além dos micro lotes acaíá.
A história da Fazenda São Pedro do Pardinho esta ligada ao inicio da colonização da cidade. Pardinho teve início no século XVIII, quando as terras próximas a Serra de Botucatu foram divididas em sesmarias.
As dificuldades de acesso retardaram a ocupação da região, muito embora o Governo Provincial tenha incentivado seu desenvolvimento concedendo terras aos povoadores em 1776. Em 1830, a abertura da estrada ligando Sorocaba às cabeceiras do Rio Pardo incentivou a chegada de colonos, com o estabelecimento de pequenas fazendas.
Anos mais tarde, a construção da Capela do Divino Espírito Santo, em uma área doada por João Antônio Gonçalves, juntamente com outras doações feitas por José Rocha e Bento Franco, deram início a formação do patrimônio de Espírito Santo do Rio Pardo.
Com a expansão da cafeicultura no Oeste paulista, no final do século XIX, imigrantes se instalaram na região. Nessa época surge a fazenda São Pedro do pardinho. Sua historia remonta aos tempos da escravatura no Brasil, marcada pela construção de sua tulha de café datada de 1890.
A propriedade foi adquirida, no inicio dos anos 70, por Henrique Walter Pinotti, respeitado cirurgião gástrico brasileiro, e professor catedrático de cirurgia na Universidade de São Paulo (USP). Após seu falecimento, em 2010, seu filho, o administrador Paulo Pinotti assumiu a propriedade. Seu filho, também administrador Yuri Pinotti, apostou na comercialização direta com o consumidor surgindo, assim, o Café Cuesta.
Mapa do Turismo constrói ações para 13 regiões
| Divulgação |
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| Representantes de 12 municípios se reuniram na última quinta |
Enquanto grupos empresariais e iniciativas singulares surgem para formar agendas especiais de encontro na região, 13 regiões turísticas atuam para consolidar os Mapas Turísticos, em um total de 122 municípios.
A secretária Municipal de Desenvolvimento, Turismo, Emprego e Renda (Sedecon), Aline Fogolin, conta que são dois programas de regionalização que se integram. Um é do Ministério do Turismo e outra para mapear e juntar as regiões em parceria com as secretarias estaduais e municipais do setor. "No início de 2017 iniciamos esse processo com a regionalização federal reformulada para o MT Coração Paulista que antes possuía 30 municípios e passou a contar com 11, mais Boraceia que manifestou interesse nesse eixo e está se integrando agora. Eu trouxe esse trabalho do Sebrae, de onde eu vim. Então conversamos com o Senac para formar o projeto em várias etapas. Estão sendo formados os inventários por cada cidade e as reuniões mensais avançam", conta Fogolin.
A diretora da Divisão de Turismo e Eventos da Sedecon, Marina Martins, lembra que é um trabalho "de formiguinha, que exigiu ação passo a passo, cidade por cidade, convencendo e reestimulando cada uma no processo para o engajamento que terá efeitos lá na frente. Bauru teve a proatividade de entrar em contato com as cidades que formavam a região para pensarmos juntos o que seria feito para o fomento do Turismo. Formamos a governança local e fui eleita a interlocutora da região perante o Ministério", cita.
Marina explica que o trabalho vai além dos inventários. "Estávamos trabalhando para inventariar e planejar a região com suas individualidades e características principais para criar especificamente este roteiro turístico. Quando iniciamos pesquisas sobre este plano, e como as outras regiões estavam se organizando, nos deparamos com o trabalho do Senac que auxilia as governanças à produzirem este mesmo material que havíamos já iniciado. O Senac veio para compor o MT Coração Paulista e indicamos então a reestruturação dos dados dos municípios, trabalhando em conjunto com os representantes", detalha.
Para ela, as cidades enfrentam problemas comuns e que prejudicam o desenvolvimento do potencial turístico. "Má conservação de vias de acesso, falta de capacitação dos envolvidos no atendimento ao público (receptivo), escassez de meios de hospedagem, inexistência de estrutura para turistas com dificuldade de locomoção, carência de roteiros, são exemplos de questões comuns que já estão identificadas. Com a criação deste inventário e o plano regional, podemos minimizar e resolver grande parte desses problemas", aposta Martins.
Com o apoio do Senac, o grupo está trabalhando agora com o planejamento e ação cooperativa. "É uma forma inovadora de desenvolver produtos turísticos mas atrativos e de construir roteiros regionais que tragam uma nova perspectiva de desenvolvimento para os municípios. Ao final, em março do próximo ano, queremos estar com o plano pronto, ações de capacitação de serviços e profissionalização e banco de dados", menciona.







