| Fotos: Malavolta Jr. |
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| Com cartazes, professores fizeram manifestação nessa quarta-feira (8) na Escola Estadual Ernesto Monte |
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| Renata Garcia chegou a chorar ao relatar a situação da escola |
Professores da Escola Estadual Ernesto Monte, antiga referência de ensino na história de Bauru, pedem "socorro". Eles fizeram protesto e paralisação, ontem à tarde, por causa da insegurança e da falta de agentes escolares, também chamados de inspetores. A situação viria prejudicando o andamento de atividades no local, além de favorecer atos de depredação e violência. Até simulacro de arma de fogo apareceu na instituição e a merenda precisou ser adaptada por conta de guerra de comida. Em ampla reportagem publicada em 21 de abril, o JC já alertava para a crescente onda de violência em unidades de ensino.
A mobilização, nessa quarta-feira (8), teve como objetivo chamar a atenção da população e das autoridades para o problema e reuniu cerca de 40 profissionais. Por causa da paralisação, as aulas foram suspensas no turno da tarde. Hoje, a escola deve funcionar normalmente.
Em nota, o Estado diz que dois agentes escolares já foram contratados e aguardam nomeação, o que deve ocorrer até o fim do mês (leia mais abaixo).
PREJUDICADOS
Alguns professores chegaram a chorar ao contar o clima de insegurança e violência que viria se alastrando a cada dia no ambiente da Ernesto Monte, principalmente depois que o único inspetor da escola se demitiu, há algumas semanas.
"Temos muitos estudantes excelentes aqui e que acabam prejudicados quando temos que interromper uma aula, por exemplo, para tentar acabar com bagunça ou por uma briga nos corredores ou no pátio. Tem muito aluno pedindo transferência e não queremos que isso aconteça. Queremos resgatar o que a escola tem de melhor, mas sem nem um inspetor para os indisciplinados fica difícil", conta Renata Garcia, professora do Ernesto há 19 anos.
O período da tarde abriga 347 alunos do 6.º ao 8.º ano do Ensino Fundamental e, de acordo com os professores, seria o mais problemático.
SEM MERENDA
Até a merenda (arroz e feijão, carne e maça) acabou trocada por barras de cerais e bolachas, nesta semana, por causa de uma guerra de comida feita entre alguns alunos.
"Teve professor levando 'maçãzada' nas costas e no estômago. Depois disso, pararam de oferecer a merenda. Só que tem estudante que faz sua única refeição do dia aqui. Duas alunas vieram reclamar de fome. É difícil", cita Camila Verdichio, professora na unidade desde o ano passado.
SIMULACRO DE PISTOLA
Nesta última semana, uma aluna foi flagrada com um simulacro de arma de fogo dentro da escola.
Boletins de ocorrência envolvendo depredação do prédio como, por exemplo, danos em portas e janelas, também têm sido comuns na rotina da Ernesto Monte. Ao menos oito ocorrências teriam sido registradas recentemente.
"A falta de agente escolar estimula a violência. Os alunos precisam de regras, orientações e cuidados. Dentro da sala de aula, podemos controlar as situações, mas fora dela é complicado. E temos um grupo, de uns 6 ou 8 alunos, difícil de controlar aqui e que acaba influenciando os outros", acrescenta Camila.
Coordenador da Apeoesp Bauru (regional do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Marcos Chagas esteve com os professores no protesto. "Essa escola é grande e deveria ter nove agentes, três em cada turno no mínimo, mas não tem nenhum", aponta.
O problema da falta de funcionários teria se agravado ainda mais depois de a unidade receber uma leva de alunos do Christino Cabral, que se tornou período integral. Atualmente, a Ernesto Monte tem 877 alunos.
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Dois agentes contratados
Dirigente da Diretoria Regional de Ensino (DRE), Gina Sanchez disse que dois agentes de organização escolar foram contratados e que aguardam apenas a nomeação em Diário Oficial do Estado, que deve ser feita até o final de maio. "Mas a Ernesto Monte tem outros quatro agentes de organização escolar, que cuidam da secretaria, e que podem também cuidar dos corredores e do pátio. É algo previsto, não é desvio de função", pontua Gina, acrescentando que a diretora da escola foi orientada a realizar uma reorganização dos horários dos funcionários para contemplar os três turnos.
Ainda de acordo com a dirigente, oito alunos considerados indisciplinados e que causariam mais problemas já tiveram seus casos repassados ao Ministério Público. "A promotoria de atos infracionais está ciente. Pedimos para que chamassem as famílias para a responsabilização. Não podemos simplesmente expulsá-los da escola. Cada caso deve ser trabalhado individualmente e ter um acompanhamento", observa.
A DRE solicitou ainda que a prefeitura restabeleça a merenda com refeição na escola. "Não dá para penalizar todos por causa de atos pontuais de alguns", finaliza a dirigente.
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Violência em foco
A violência dentro das escolas e a desestrutura das unidades foi alvo de matéria do JC em abril. Na ocasião, professores relataram insegurança decorrente da indisciplina de estudantes e da precariedade das escolas. Citada na reportagem, uma pesquisa da Apeoesp realizada no Estado indicou que 51% dos professores já foram alvo de algum tipo de violência escolar.
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