Ser

Machismo do mundo fashion

Pedro Diniz
| Tempo de leitura: 2 min

Tomara que caia, machão, baby doll. Enquanto há quem veja exagero ou falta de bom senso na luta do movimento feminista, o vocabulário da moda moderna oferece um prato cheio de expressões que, embora não expliquem os ataques recentes ao feminismo, mostram nuances da misoginia intrincada no dia a dia.

Todos esses termos, e outros recentes, como "boyfriend" - ou namorado, usado para descrever qualquer peça feminina ampla de corte masculino - guardam a ideia de subjugo da mulher, tanto aos desejos sexuais masculinos quanto aos acessos de violência praticados por alguns homens.

Desde o ano passado, linguistas e acadêmicos americanos começaram a olhar com lupa o porquê de a camiseta regata branca masculina ser popularmente chamada de "wife beater", ou espancador de mulher.

Um artigo do New York Times aponta teorias de que o termo pode ter surgido de um episódio de violência doméstica, quando um homem, preso em 1947, em Detroit, fora fotografado com a peça depois de matar a mulher a pancadas.

Também se levanta a ideia de que a expressão era uma forma de demonizar a classe trabalhadora de ítalo-americanos, associando filhos de imigrantes a espancadores.

Não à toa, a peça foi popularizada pouco depois em "Um Bonde Chamado Desejo", filme de Elia Kazan de 1951, em que Marlon Brando vive um marido abusivo vestindo a tal camiseta em cena. A palavra só se tornou gíria nos anos 1990. Acabou difundida no varejo e, hoje, a roupa é vendida com seu nome de mau gosto.

Coincidência ou não, foi na mesma época que se difundiu o sinônimo brasileiro para essa peça que deixa os músculos à mostra. No país, não se compra camiseta de manga japonesa, pontuda nas barras, ou uma simples regata cavada, mas sim uma regata machão.

Da mesma forma que se credita a criação do nome americano a um teor de violência contra a mulher, a versão brasileira se propaga num cenário de aumento de feminicídios.

Segundo o último Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o número de assassinatos cometidos em ambiente doméstico aumentou 17% nos últimos cinco anos.

Não há estudos sobre o uso da expressão "machão", mas teóricos apontam que o termo alude à ideia de masculinidade que se expressa em músculos definidos, popularizados como padrão de beleza, no Brasil, no final do século passado.

Hoje, segundo levantamento do setor, o país é o segundo no mundo em número de academias de ginástica, com 32 mil endereços até o ano passado, perdendo só para os Estados Unidos da regata "wife beater".

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