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'Clube de Julieta'

Tânia Campelo
| Tempo de leitura: 2 min

"Cara Julieta, como todas as mulheres que te escrevem, tive um grande amor e infelizmente o perdi. Não estou aqui para desejar outro, mas para mostrar minha gratidão pela oportunidade de ter sentido este amor. [...] Quem sabe uma das suas secretárias me retorna esta carta."

A mensagem acima foi escrita a mão, em português, em uma carta deixada neste ano na casa de Julieta, em Verona, na Itália. O espaço turístico recria o que seria a morada da personagem de "Romeu e Julieta", peça de William Shakespeare (1564-1616).

Como pedido pela remetente, a mensagem chegou a uma das "secretárias" de Julieta. No Brasil, mais especificamente no interior paulista, para Andreia Caetano, de Jacareí. A professora de 45 anos é a única voluntária residente no Brasil (a outra vive na Itália) que colabora com o Club di Giulietta para as cartas escritas em português. Criado em 1972, o grupo de voluntários responde as mensagens de amor enviadas para Verona.

Anualmente, cerca de 8 mil cartas saem dos cinco continentes para o clube, a maioria dos Estados Unidos. Do Brasil são enviadas por ano 400 correspondências. Além das duas brasileiras, há outros 20 falantes de português no grupo.

Voluntária desde julho de 2015, Andreia passou por entrevista e um período de experiência. "Nas primeiras cartas já senti muita emoção e a responsabilidade de ajudar, com uma palavra de afeto, uma pessoa que passa por um momento de sofrimento, de dor", disse ela, casada há 22 anos e mãe de dois filhos.

Ela recebe as mensagens que chegam por e-mail ou cópias digitais de cartas deixadas por turistas na casa de Julieta. "Para amar alguém, primeiro é preciso ter amor próprio. Quando percebemos qualquer relacionamento abusivo, temos obrigação de alertar a pessoa."

Nem todas as cartas, diz, são de sofrimento e dor. "Muitas relatam a alegria de encontrar um grande amor verdadeiro. Uma que me tocou muito, por exemplo, foi essa [transcrita acima], que, mesmo não tendo o amor correspondido, agradece pela experiência de amar. Esse sentimento de gratidão é muito bonito."

Andreia lembra também do relato de uma senhora que deixou um amor de adolescência para se mudar para outra cidade, onde acabou se casando e criando filhos.

"Depois que ela mudou, eles nunca mais se viram. Após muitos anos, ela ficou sozinha e voltou à cidade natal para visitar familiares. Lá, reencontrou o namorado, que não havia casado porque ainda a amava. Os dois se casaram e estão juntos até hoje."

Além de Andreia, o Club Di Giulietta conta com a colaboração de outras voluntárias que respondem as cartas que chegam em português, não apenas do Brasil.

"Temos uma voluntária brasileira que mora em Verona e, ao longo do ano, cerca de 20 passam por aqui e nos ajudam a responder as mensagens. As que chegam por e-mail, encaminhamos para a Andreia, no Brasil", disse Elena Marchi, uma das coordenadoras.

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