Entrevista da semana

O mestre do traço

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 4 min

O desenhista Samuel Correia da Silva, o Samuel Inktrace (em inglês quer dizer traço de tinta), já pensou em se tornar design automotivo, fez telas e hoje se realiza mesmo na sua vocação: a tatuagem. E dez anos depois da opção definitiva pela tatuagem - antes ele dividiu a profissão com as telas - , ele colhe os frutos do sucesso com uma clientela que vem para Bauru até do Exterior para estampar no corpo os seus traços. Traços onde uma das principais características é a preciosidade, os detalhes bem delineados em cada desenho, aliado a um extremo bom gosto, onde não há espaço para a vulgaridade.

Conheça um pouco desse trabalho que, como ele mesmo diz, é a vida dele. "Não dá pra falar de mim sem falar do que faço".

Jornal da Cidade -  Quando se manifestou essa tendência pelo desenho?

Samuel -  Já na infância/adolescência. Quando eu estudava, lá no Guedes de Azevedo, no Bela Vista. Eu confesso que não era o melhor aluno da sala e era da turma do fundo (risos). E sempre colhia elogios, seja de professores ou de amigos. Nisso, no desenho, eu era muito bom, sem modéstia. Daí fui fazendo cursos, me especializando.

JC - E hoje tem um estúdio que é uma referência não só em Bauru, mas  até no Exterior

Samuel - Sim, estamos na zona nobre, localizada na avenida Getulio Vargas. Escolhemos esta localização por ser de fácil acesso, inclusive para clientes que não são de Bauru, já que atendemos pessoas até mesmo de outros países. Conseguimos ganhar a confiança de muitos, em cada canto do mundo, sou muito grato por isso.

JC - Foi aqui mesmo em Bauru?

Samuel - Sim, comecei há cerca de 10 anos atrás. No começo, eu conciliava com outra profissão. Trabalhava na Mondelez, no turno da noite. Chegava com o dia amanhecendo. Dormia até a hora do almoço e à tarde atendia meus clientes. Lembro que quando inaugurei meu primeiro estúdio, na área comercial do condomínio Vila Inglesa, tive bastante dificuldade em atrair clientes, pois eu ainda não era conhecido. Após um tempo fui ganhando notoriedade, principalmente quando comecei com a técnica de aquarela, onde foi o meu "boom".

JC - E deixou o trabalho certo pela tatuagem incerta?

Samuel - Mas para mim o certo era isso. A arte é minha paixão, comecei com a pintura até chegar na tatuagem. Apesar do caminho árduo, não me arrependo de nada. Tudo o que tenho, conquistei com a tatuagem e tenho muito orgulho disso. 

JC - O que está na moda? O que seus clientes preferem?

Samuel - Há todo tipo de clientes, desde aqueles que só querem uma tatuagem minimalista até aqueles que querem tatuagens grandes. Neste momento, os leões estão sendo mais procurados, em diversos tamanhos, devido ao seu significado, que pode ser relacionado ao signo de Leão e também simboliza a força.

JC - E já aconteceu de recusar um cliente?

Samuel - Ah, sim. Em geral, quando a pessoa tem muita dúvida do que fazer. A gente percebe que essa pessoa quer a tatuagem, mas não está preparada. Então, sou bem franco, converso e digo: vai para casa, pensa bem e depois me procura. Quero que a pessoa esteja bem,  muito bem ciente do que está fazendo até para sair o melhor trabalho. E mesmo que a gente faça algo bonito, se ela está em dúvida, não é do coração dela, não rola. Prefiro perder o cliente.

JC - E quando o cliente vem com uma obra feita por outro tatuador e que ficou horrível...Você refaz?

Samuel -Na maioria das vezes, não (risos). É que não dá para fazer milagres (risos). Quase nunca dá certo tentar remendar um trabalho, acaba ficando pior. Antigamente, era complicado remover uma tatuagem, mas hoje em dia não. Então, primeiro recomendo a remoção. 

JC - É comum dar algum tipo de rejeição ou inflamação na tatuagem?

Samuel - Não. Esse é outro mito que as pessoas têm sobre a tattoo. Nos dias de hoje, o material que se usa em cada cliente é 100% descartável. Usou, joga-se fora. Então, em um estúdio responsável, tudo feito com cuidado, as chances de um problema são mínimas.

JC -   E qual é o segredo do seu sucesso?

Samuel - Estudar muito. Pesquiso bastante e vivo aprimorando a minha técnica, meu traço. Mas acho que é, acima de tudo, ter respeito pelo cliente. Colocar a pessoa que vem depositar seu corpo em nossas mãos em primeiro lugar. A honra não é dele em ser tatuado por mim, mas minha em poder tatuá-lo. A honra é nossa. Digo nossa porque não trabalho sozinho, minha esposa, a Vanessa, além de fazer body piercing, está sempre lá dando o suporte. Somos uma dupla de empresários, além de um casal. 

JC - Quais são seus planos para o futuro?

Samuel - O Inktrace, além de ser um estúdio de tatuagem e bodypiercing, hoje também é uma loja de moda masculina e feminina, especializada em marcas conceituais e de alto padrão. O nosso plano para o futuro e expandir isto e até mesmo criar uma joalheria especializada em bodypiercing. E, na área da tattoo, meus planos são me especializar para dar aulas para quem está iniciando nesse ramo das artes.

 

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