Contexto Paulista

Ciência no Interior Paulista entra na guerra contra a Covid-19

19/04/2020 | Tempo de leitura: 4 min

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) confirmou até agora a aprovação de 18 projetos de pesquisa relativos à covid-19, a doença do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Boa parte deles estão em desenvolvimento em universidades do Interior Paulista. Um edital foi lançado a toque de caixa no dia 21 de março para agilizar o financiamento de estudos que acelerem esses projetos e ajudem a combater a pandemia causada pelo novo coronavírus. É verdade que a ciência não produz resultados imediatos, necessariamente. A pesquisa na maioria das vezes é demorada (nesse caso os projetos poderão durar até 24 meses), pois exigem ensaios seguros, tempo de maturação e o crivo da comunidade científica. No entanto, é esperançoso neste momento que diversas instituições paulistas estejam engajadas em tecnologias que possam se somar gradualmente ao conhecimento global para entender o comportamento do vírus e as suas formas de prevenção e tratamento.

São Carlos

No Instituto de Química de São Carlos, da USP, grupo coordenado pelo pesquisador Carlos Alberto Montanari vai se dedicar ao aprimoramento e à testagem de moléculas com potencial de inibir a ação de enzimas essenciais para o ciclo biológico do novo coronavírus. Os pesquisadores vão aproveitar a biblioteca do Trypanossoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas. O grupo pretende ainda usar ferramentas de inteligência artificial com aprendizado de máquinas para selecionar candidatos a serem testados contra o SARS-CoV-2 entre fármacos que estão em fase de ensaio clínico.

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Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos e coordenador do Centro de Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), vai coordenar a busca de antivirais para o tratamento da covid-19. O objetivo é triar 4 mil compostos ainda sem ação conhecida por um método conhecido como High Content Screening (HCS), usando linhagem de células humanas e isolados virais de pacientes brasileiros. Além disso, os pesquisadores vão avaliar bibliotecas de compostos já aprovados pela FDA (Food and Drug Administration, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos) e outras organizações. Além de identificar novos candidatos a fármacos, o objetivo é orientar o reposicionamento de medicamentos já aprovados para uso em humanos.

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Desenvolver uma metodologia alternativa simples e de baixo custo para diagnóstico de covid-19 é a meta do projeto coordenado por Ronaldo Censi Faria no Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A proposta é construir uma plataforma que fará uso de materiais de fácil acesso e equipamentos simples e permitirá a análise de diferentes amostras simultaneamente.

Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, a Faculdade de Medicina da USP, por meio do pesquisador Dario Simões Zamboni, vai estudar mecanismos envolvidos no intenso processo inflamatório que acomete indivíduos com quadros graves de covid-19. O projeto pretende monitorar 60 pacientes internados por SARS-CoV-2 no Hospital das Clínicas local, que serão tratados por cloroquina em combinação ou não com a droga colchicina.

Campinas

Identificar os mecanismos moleculares envolvidos na infecção por SARS-CoV-2 em culturas de macrófagos (células que compõem a linha de frente do sistema imune), epitélio pulmonar (alvos preferenciais do novo coronavírus) e em dois tipos de células nervosas (neurônios e astrócitos) é o objetivo de um projeto coordenado por Daniel Martins-de-Souza no IB-Unicamp.

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Também no IB-Unicamp, o pesquisador Marcelo Mori vai investigar como o envelhecimento contribui para a infecção pelo SARS-CoV-2. A pesquisa vai combinar análise de dados de pacientes e modelos pré-clínicos com o objetivo de encontrar proteínas e vias de sinalização que possam ser moduladas por fármacos já conhecidos para reverter as alterações induzidas pelo envelhecimento.

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O impacto da microbiota intestinal e seus metabólitos na infecção por SARS-Cov-2 é o tema do projeto coordenado por Marco Aurélio Ramirez Vinolo, também do IB-Unicamp. Estudos anteriores do grupo mostraram que os microrganismos do intestino e algumas substâncias por eles secretadas podem proteger o organismo contra infecções respiratórias. O grupo pretende conduzir experimentos com camundongos e com linhagens de células humanas infectadas pelo novo coronavírus.

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Outro estudo conduzido no IB-Unicamp, sob a coordenação de Pedro Manoel Mendes de Moraes Vieira, visa pesquisar fatores de risco associados à maior gravidade da COVID-19 e mapear vias metabólicas que precisam ser ativadas na resposta imune contra o SARS-CoV-2. O objetivo é identificar novas formas de intervenção terapêutica.

São José do Rio Preto

Em um bairro de São José do Rio Preto, um estudo epidemiológico da covid-19 será conduzido com um grupo de voluntários coordenado por Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina (Famerp). Os participantes serão monitorados quanto ao aparecimento de sintomas relacionados à doença. Também serão acompanhados pacientes hospitalizados no Hospital de Base da Famerp que apresentem suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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