Alberto Consolaro

Herpes simples em crianças!

06/06/2020 | Tempo de leitura: 4 min
Alberto Consolaro

Todos, até os 5 anos de idade, inevitavelmente entram em contato pessoal com o vírus do herpes simples, conhecido como “Herpesvirus hominis”. Ele não consegue entrar na pele íntegra, pois a queratina forma uma forte película proteica instransponível para este tipo de vírus. Em 1 a 5% dos humanos ocorrem sinais e sintomas onde entra o herpesvirus e gera um quadro clínico de “Herpes Simples Primário”.

QUADRO CLÍNICO

Ao entrar por uma mucosa, o herpesvirus induz uma inflamação regional que pode promover um desconforto considerável na região, sendo acompanhada de febre, cefaleia, astenia (perda ou diminuição da força física), prostração (debilidade física, fraqueza, abatimento ou moleza) e mialgia.

Nos olhos ocorre conjuntivite com inflamação nas pálpebras inchadas que obstruem os olhos vermelhos e lacrimejantes, com visão turva, ardência, dor e desconforto tipo areia nos olhos. Na região genital o vermelhão toma conta e o desconforto incomoda muito o/a paciente. Quando entram pela boca, as manifestações mais frequentes são por dentro e, as vezes, ocorrem vesículas ou bolhas na pele peribucal e vermelhão do lábio.

O quadro clínico de herpes simples primário na boca se chama “Gengivo-estomatite Herpética Primária” e a criança um dia antes das manifestações fica prostrada, chorosa, febril e parece que vai ficar com resfriado ou gripe. Depois de 24 horas a gengiva fica intocável, vermelha, dolorosa, lisa e brilhante. A criança nem come e, muito menos, deixa alguém tocar nesta gengiva extremamente sensível, mas com jeitinho se deve higienizar. Em casos mais graves cujo diagnóstico é feito precocemente e com segurança, deve-se analisar a viabilidade biológica e clínica de administrar-se as drogas antivirais.

Isto vai durar 48 a 72 horas, e neste período se deve usar antisséptico não alcoólico e sem água oxigenada. Anestésico tópico pode ser aplicado. Se não comer nada, deve-se providenciar suplemento multivitamínico por 7 a 10 dias para a criança, mas o ideal é tentar os alimentos naturais pastosos como frutas e legumes amassados. Os remédios antipiréticos também são analgésicos e aliviam a dor e desconforto.

Depois 3 dias, a gengiva vai ficando rosa novamente e muito menos dolorida ao toque. Mas, começam a aparecer pequenas vesículas, que logo se rompem, localizadas na língua, especialmente na parte superior ou dorso, nos lábios, bochechas, e palato mole. Dificilmente se vê essas vesículas inteiras cheias de líquido, logo se rompem e resultam em feridas tipo aftas, geralmente dolorosas que duram 3 a 4 dias. Estas lesões aftoides podem ser apenas duas ou três, ou então muitas, o que varia em cada paciente. Na fase aftoide da gengivo-estomatite herpética primária, antissépticos e analgésicos aliviam a dor, mas o desconforto já diminuiu muito.

LATÊNCIA

Em 7 a 10 dias depois do primeiro sintoma, a boca volta ao normal, sem cicatrizes. A gengivo-estomatite herpética deve ser mais frequente do que 1 a 5%, pois é comum não ser diagnosticada. A inflamação no local vence os herpesvirus, mas milhões se refugiam nos nervos da região por onde viajam, como se estivessem em autoestradas, até chegarem ao gânglio do nervo trigêmeo, local de onde partem e chegam os nervos da face, incluindo os da boca. Por lá ficam escondidos, protegidos e ou reduplicando-se por longos anos em latência, até chegar a adolescência. Se for na região genital, os gânglios neurais da medula sacral é que serão os alojamentos do herpesvirus.

Na adolescência, estes vírus, depois de uma longa latência, farão uma viagem de retorno para a região por onde entraram, ou seja, os olhos, a região genital ou a boca! Farão uma viagem de regresso no nervo trigêmeo até saírem na pele ou mucosa onde provocarão inflamação com formação de vesículas em cachos ou ramalhetes no canto da boca, lábio superior, narinas ou dentro da boca! Nesta fase em adultos se chamará “Herpes Simples Recorrente” e afeta 50% das pessoas!

POUCO DIAGNOSTICADA

A gengivo-estomatite herpética primária, talvez seja pouco diagnosticada, infelizmente. Ao examinar-se rapidamente a criança, os diagnósticos dados mais comuns são: virose inespecífica, erupção dos dentes, estomatite inespecífica, alergia alimentar e medicamentosa, além de outros “diagnósticos”. O tratamento dado, quase sempre, é para aliviar sintomas, mas nem sempre funcionam!

O diagnóstico equivocado induz um tratamento e prevenção ineficazes. A gengivo-estomatite herpética primária é contagiosa para outras crianças e também para os adultos. Pelas mãos, tosses, espirros e beijos da criança, os adultos podem se contaminarem e levar vírus para outras partes do seu próprio corpo! O diagnóstico correto deve vir acompanhado destas orientações para família e amigos!

Alberto Consolaro é Professor Titular da USP e Colunista do Caderno Ciências do JC.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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