Alberto Consolaro

Herpes simples em adultos!

13/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Até 5 anos de idade todos contataram com o herpesvirus. Metade dos adolescentes ou adultos tem herpes simples recorrente, mas os outros 50%, não! É intrigante e a ciência ainda não conseguiu explicar por que isto acontece.

Depois de entrar pelas mucosas da boca, olhos ou região genital e provocar o herpes simples primário em uma pequena parte das crianças, a inflamação e a resposta imunológica vencem os herpesvirus, mas alguns milhões deles se refugiam nos nervos da região.

Como em uma autoestrada, os vírus viajam pelos nervos até chegarem ao gânglio do trigêmeo, próximo ao cérebro. Por lá ficam escondidos, protegidos e reduplicando-se por longos anos em latência, até chegar a adolescência. Se for na região genital, os gânglios neurais da medula sacral serão os alojamentos do herpesvírus.

VESÍCULAS

Depois da longa latência, estes vírus farão uma viagem de retorno para a região por onde entraram, ou seja, os olhos, a região genital ou a boca! Farão uma viagem de regresso nos próprios ramos do nervo trigêmeo, até saírem na pele ou mucosa onde provocarão, de novo, inflamação com formação de vesículas em cachos ou ramalhetes no canto da boca, lábio superior, narinas ou dentro da boca!

Nos adultos a doença se chamará “Herpes Simples Recorrente” e tende a ser uma inflamação mais leve e localizada do que a primária. Agora o organismo já tem mecanismos preparados para combatê-los chamados de imunidade, que funciona, mas no herpes, não o impede totalmente de manifestar-se.

A VOLTA

O que faz os herpesvirus retornarem para o mesmo local por onde entraram no corpo quebrando sua latência? Eles ficam à espreita, esperando o momento certo para aproveitarem e sair para os tecidos. Este momento é ditado por fatores debilitantes ou desencadeantes associados ao estresse psicossomático, insônia, radiações solares, menstruação, gravidez, febre, sauna, traumatismos, cirurgias e outras doenças tipo gripes e resfriados. A frequência varia de acordo com o estilo de vida que cada um leva e o tempo para reparar é de 7 a 10 dias. O sol diminui a efetividade das celulas imunológicas enquanto elas passam pela pele!

CONTAGIANDO

Interessante: metade dos adultos não tem herpes recorrente, mas pode adquiri-lo de outras pessoas. As vesículas têm bilhões de herpesvírus e alguns dias antes, até as vesículas secarem, o paciente pode passar o vírus para as demais pessoas via contato como beijo simples, sexo e ao cumprimentar com as mãos contaminadas pela saliva e secreções. Raramente se faz o contágio com objetos, embora possa acontecer raramente.

Em outras palavras, um adulto que não tem herpes simples pode passar a ter de forma adquirida pelo contato com pessoas com a doença na boca, olhos e na genitália. O herpes simples por esta razão está entre as Doenças Sexualmente Transmissíveis ou DST.

As pessoas que tem herpes simples na boca, se coçar e contaminar suas mãos, levando-as para o olho ou região genital, pode agora ter lesões nesta outra região por autocontaminação! Os pacientes herpéticos têm quer cuidados consigo mesmo e com as demais pessoas, especialmente quando têm lesões ativas. O período de incubação varia de 1 a 26 dias.

TRATAMENTO

O tratamento são drogas antivirais (valaciclovir e fanciclovir) ingeridas todas as vezes que o paciente desconfiar que vai ter herpes. No dia anterior, o paciente sente uma queimação ou prurido no local, este é o momento de ingerir a droga que atuará dentro das células onde os vírus se reduplicam, impedindo que isto aconteça.

Uma única vez em que se usa, não dá impedir a reduplicação de todos os vírus, mas se em cada episódio da doença se ingerir o antiviral, depois de algumas vezes, vai se rareando e desparecendo até não mais ocorrer. Mas... se esquecer de tomar nesta fase pré-inicial uma única vez, se pode tomar de novo, mas é como recomeçar todo o processo!

O uso tópico local de qualquer produto nas lesões herpéticas melhora 70% os sintomas e duração do episódio, pois este é o resultado de qualquer placebo aplicado. Para ser considerado anti-herpético, um tratamento tem que melhorar mais do que isso para não ser placebo!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista do Caderno Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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