Conversando com o Bispo

As fragilidades do homem moderno

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22/11/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Todos nós somos frágeis, mas as coisas tornam-se ainda mais complicadas quando não queremos enxergar a nossa fragilidade ou resistimos a aceitá-la. A Bíblia afirma a pequenez humana, por exemplo, ao dizer: "Deus conhece a nossa condição, Ele se lembra do pó de que somos feitos. Os dias do homem são como a relva, como a flor do campo que floresce; pois o vento soprando sobre ela a faz desaparecer e ninguém mais identifica o seu lugar" (Salmo 103,15).

O homem moderno, cada vez mais sem religião, torna-se prisioneiro de três tentações. A primeira é o excesso de autoconfiança. A nossa cultura quer eliminar Deus e colocar o homem no lugar d'Ele. Daqui decorrem duas características da modernidade: a arrogância e o seu reverso que é a decepção. A arrogância e a prepotência são atitudes próprias de quem, no fundo, se acha um semideus. Rapidamente o idolozinho será derrubado do pedestal e, na sua frustração, cairá no desânimo mal humorado. Sem o ponto de apoio da fé, o homem atual fica desnorteado e desequilibrado diante da gangorra emocional que alterna os constantes altos e baixos dos imprevistos da vida.

Cuidado com o chavão enganador: Querer é poder. Esta frase só se aplica a Deus, pois somente Ele pode tudo, sem limitação alguma. O cristão reconhece e aceita, com desgosto, é claro, as inevitáveis limitações da vida, mas continua lutando com coragem e esperança, repetindo com firmeza no profundo da sua alma: "Tudo posso n'Aquele que me fortalece" (Fil 4,13).

A segunda fragilidade é imaginar que a vida vai acontecendo de maneira espontânea e natural, sem a necessidade de fazer esforço ou renúncias e sem ter que tomar decisões. A lógica é: deixa as coisas acontecerem e depois a gente vê como elas ficam. A armadilha desse espontaneísmo está em, ingenuamente, julgar que tudo aquilo que acontece espontaneamente é, ipso facto, bom e prazeroso. Aliás, na nossa cultura o prazeroso virou sinônimo de bom e o dificultoso virou sinônimo de ruim. O que me dá prazer é logo classificado como bom e o que me desagrada é rejeitado como ruim.

O cristão está constantemente reeducando os próprios desejos e sabe que fazer o bem, às vezes, é amargo e difícil, enquanto o mal pode ser doce e agradável. Jesus alertou que "quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser ganhar a própria vida, a perderá; mas quem perder a própria vida por causa de mim, a encontrará" (Mt 16,24).

A terceira fragilidade é a cegueira voluntária diante das inevitáveis e óbvias consequências das coisas. O homem atual quer viver sob a ditadura do presente, fazendo de conta que não existe nem passado e nem futuro e que, portanto, nada tem consequência. Literalmente, as pessoas desejam uma vida inconsequente e são infantis, se recusando a tornarem-se adultas, pois estas têm que usar a liberdade, tomar decisões e sabem que suas decisões terão consequências boas ou ruins.

A pseudoliberdade propõe ilusoriamente ao homem, infantilizando-o, que viva sem ter que tomar decisões e que ele fique tranquilo, pois tudo transcorrerá segundo os seus desejos. O cristão adulto sabe que tem na vida uma missão dada por Deus e, diariamente, luta para decidir pelo bem e rejeitar o mal, sempre contando com a graça e a força de Deus e submetendo a própria vontade e os próprios desejos à santa vontade e aos sábios desejos de Deus. A nossa força, paz e coragem vêm da confiança que temos no amor do Pai Celestial que conduz e salva todas as coisas.

Dom Rubens Sevilha, OCD.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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