Três moçambicanos e uma brasileira que residia no mesmo país são os primeiros a participar do Programa de Doutorado Interinstitucional da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP) em parceria com a Universidade Lúrio (Unilúrio), onde os doutorandos lecionam. Segundo os estudantes, ainda não há professores de Odontologia - curso conhecido por lá como Medicina Dentária - com tal titulação em Moçambique, que também conta com poucos dentistas. Eles deverão ter aulas presenciais e a distância.
O grupo chegou ao Brasil em 1 de dezembro deste ano para formalizar a matrícula. Uma semana depois, os doutorandos tiveram o seu primeiro contato de orientação. No último dia 8, retornaram para Moçambique, com exceção da brasileira, que ficará na sua terra natal até o término do curso.
Natural de São Paulo, Ida Capela, de 56 anos, viajou para o país africano em 2007 para trabalhar em uma missão humanitária. "Eu atuei como voluntária em um hospital e fui convidada para lecionar na Unilúrio. Como a faculdade estava começando, o pessoal aceitou apenas a minha graduação em Odontologia", relata. Ida, inclusive, foi professora de Saúde Coletiva dos outros três doutorandos. Ela pretende focar a sua pesquisa nesta área.
Já Lurdes Bonifacio Saide, de 31, se formou em Odontologia pela Unilúrio em 2012, quando começou a lecionar na mesma faculdade. No ano seguinte, iniciou o mestrado. De acordo com a doutoranda, o curso é novo em Moçambique. "Tal formação só existia em uma faculdade privada. A Unilúrio se tornou a primeira estatal a abrir a graduação, em 2007. Neste ano, existiam apenas 50 dentistas formados em todo o país", revela. Mestre em Ciências da Educação Médica, ela pretende dedicar a sua pesquisa às áreas onde já atua: Odontopediatria e Periodontia.
Marido da estudante, o também doutorando Alarquia Saide, de 36, conta que se formou pela Unilúrio em 2012, quando entrou para o mestrado em Ciências da Saúde. "Eu espero que este seja o primeiro passo de muitos, porque nós lecionamos em uma universidade nova e precisamos formar mais docentes na área", frisa.
Alarquia focará a sua pesquisa na área que já leciona: Reabilitação, Materiais Odontológicos e Imagiologia. Aderito dos Anjos, de 35, se formou pela Unilúrio e, hoje, ensina Ortodontia na faculdade. "Eu senti necessidade de aumentar o meu grau acadêmico para contribuir com a qualidade da formação no nosso país".
ENSINO HÍBRIDO
Alguns módulos do programa serão a distância e outros, presenciais. Enquanto o grupo estiver no Brasil, a FOB/USP se responsabilizará pela sua permanência. Quando os professores daqui viajarem até Moçambique, a Unilúrio se encarregará das despesas. A Capes, por sua vez, ajudará a financiar as pesquisas.
Parte dos doutorandos será orientada pelo coordenador do Programa de Doutorado Interinstitucional da FOB/USP, Marco Antonio Hungaro Duarte. Os demais passarão pela vice-coordenadora da iniciativa, Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres. "Trata-se de uma atividade inédita de solidariedade do nosso programa para titular os docentes de Moçambique", observa o professor.
Diretor da FOB/USP, Carlos Ferreira dos Santos exalta o apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da universidade, na pessoa do professor doutor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. "A iniciativa está revestida de um reconhecimento internacional da qualidade da nossa pós-graduação", destaca. Sílvia Helena se diz feliz com a contribuição. "Eles serão os primeiros doutores em Moçambique", conclui.