A frase é atribuída a Charles de Gaulle, ex-presidente da França, em 1963, durante um episódio envolvendo Brasil e França, que ficou conhecido como a "guerra da lagosta". A frase gerou as mais diversas reações, concordando ou discordando, mas com algum reconhecimento geral pela maioria da população brasileira sobre certos absurdos que ocorriam em nosso ambiente político, casos de corrupção, problemas com formação educacional, revelando factualmente a falta de seriedade brasileira.
Corta para 2021. Primeiro dia do ano novo, Praia Grande, litoral paulista. Em plena pandemia, com quase 200 mil mortos, só perdendo para os Estados Unidos, e elevado contingente de contaminados, futuros prováveis falecidos. Uma multidão lota a praia, a imensa maioria sem qualquer proteção, numa confraternização beirando o surrealismo.
Quem aparece para juntar-se à festança, sem máscara ou qualquer adereço protetivo, prestigiando os insanos? Ora, ninguém menos que nosso presidente, Jair Messias Bolsonaro, confirmando que é assim mesmo que se deve ignorar a pandemia: com escárnio, negacionismo, pouco importando que as mortes aumentem exponencialmente, pois se "todos iremos morrer um dia", por que não agora?
Nossa falta de maturidade em assumir um problema e engendrar esforços para resolvê-lo, enterrando a cabeça na areia como o avestruz, e deixando para os outros a solução que só cabe a nós mesmos, povo, ficou absurdamente demonstrada na Praia Grande e outras pelo Brasil afora. O lamentável é a falta de liderança séria, confiável, naquele que deveria ser o maior exemplo, sendo exatamente seu contrário: Bolsonaro. Indigno do cargo, mesmo assim consegue que uma respeitável parcela do eleitorado ainda reforce sua popularidade, deixando-nos perante uma infame perspectiva: sua reeleição em 2022. Outra confirmação de nossa falta de seriedade.
É nos momentos de crise que se revela a maturidade de um povo para enfrentar os problemas da própria vivência. A festança da Praia Grande, ainda que possa ser tida em si como um fato isolado, expõe o lado irresponsável e leviano de nosso caráter. Ainda que isoladamente, demonstra que uma parte do Brasil, confirma que se De Gaulle disse ou não disse a frase célebre, temos feito por merecer o conceito que nos deslustra.