Cultura

O manifesto hip hop de Santina

Samantha Ciuffa
| Tempo de leitura: 2 min

A falta de representatividade trans no hip hop e a transfobia que permeia a cena musical são temas do próximo lançamento da trapper Santina. A artista de 21 anos lança, nesta sexta-feira (29), data em que é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, single e clipe inéditos. "Kachorras Ariskas" estará disponível, a partir das 16h15 no Youtube, através do link https://bit.ly/3orXe5M - outras informações podem ser encontradas em seu perfil do Instagram (@naosoutuamana).

A letra crítica de Santina associada ao timbre pesado do beat composto por Luka Prod, artista bauruense, formam uma grande denúncia em que a insatisfação sobre a forma com que mulheres transexuais e travestis são tratadas no meio musical é exposta.

"Existe uma certa fúria inerte às mulheres trans por não serem compreendidas pelo mundo", diz Santina. "Eu gostaria que as pessoas legitimassem meu trabalho assim como qualquer outro trabalho de homens da cena", completa a trapper.

Assim, "Kachorras Ariskas" surge como resposta à transfobia, um verdadeiro manifesto travesti, como define a própria compositora. "É uma música que fala sobre a mulher trans tomar o espaço que é dela. Ainda hoje, não existe lugar para nós na música brasileira", declara a artista.

Realizado de forma totalmente independente, o clipe conta com parcerias de diversos artistas bauruenses. Fabricio Ferreira assina a direção, Matheus Bueno atua como filmmaker, Vinicius Miranda é responsável pelas fotografias, Abner Mozart fica na produção e Laisca produz os acessórios. "A gente vai servir um trabalho muito bonito e polido. Estou muito satisfeita com o resultado desse clipe", garante Santina.

O destaque vai para as atuações de Tormenta e Phedra, mulheres trans que tiveram grande participação na produção e execução da obra. Tormenta ainda é responsável pela beleza e styling do projeto. Além disso, as maquiagens e looks foram inspirados na arte Drag Queen, o que favoreceu a apresentação de uma estética distinta e conceituada, somada a outros elementos da fotografia.

CAMINHADA

Santina nasceu em Pirajuí e viveu em Bariri até os 17 anos, onde trabalhou com teatro e outros textos. "Foi quando me descobri mulher trans e fui convidada a deixar minha casa", conta a artista.

Mas foi só quando chegou a Bauru que entendeu seu caminho na música. "Meus textos descrevem vivências marginais, histórias de preta e periférica, e percebi que podiam ter um ritmo, um flow. Foi aqui que me descobri rapper e trapper", narra.

Seu primeiro single foi lançado em 2019. "A Travesti Quer um Beijo" já ultrapassou 15 mil visualizações no Youtube e também assume um tom mais crítico.

Para o futuro, Santina confessa querer fazer outro tipo de música. "Meus próximos lançamentos serão músicas para travestis se amarem e dançarem", diz. "Não quero só falar sobre travestis que morreram, que o namorado não beija ou que apanhou na rua. Quero trabalhar a autoestima de nós, mulheres trans, fazendo com que elas ouçam na música que uma de nós saiu, curtiu o baile belíssima e voltou viva", finaliza a cantora.

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