Tribuna do Leitor

De tudo fazemos piada... Hoje, somos a piada do mundo...

Luciana Dias Duarte Falcão
| Tempo de leitura: 3 min

Sempre nos orgulhamos de nosso humor. Em um país sem educação verdadeira, saúde precária e a desigualdades sociais abismais, preferíamos carregar no peito a medalha do "rir de tudo", ao invés das marcas de uma história de renovação e autotransformação. Dizíamos em nossas piadas que o português era burro, o que não é incomum: há séculos, colonizados usavam a desconstrução do colonizador... Hoje, Portugal tem um presidente que promove o isolamento e um governo que inclusive pede desculpas, quando erra, durante a pandemia. A pergunta fica: quem é o burro, mesmo?

Somos "espertos", somos "malandros", somos "mandingueiros"... patuás visíveis preenchem nossos dias: basta usar a máscara no pescoço, nas mãos, embaixo do nariz... ou tirá-la um pouco e fingir que esquecemos de recolocá-la. Temos também patuás invisíveis: 30 rezas de benzedeiras, frases chavões de proteção e "Deus cuidará de nós"...

Deus já cuidou: fomos um dos últimos países atingidos pela pandemia, vimos no desespero dos que não seguiram as orientações de isolamento, lamentos pelo sofrimento e morte dos que amavam...e não ligamos. Deus nos deu tempo, visão e orientação dos anjos terrenos (cientistas e profissionais da saúde).Deus nos ensinou que "fé sem obras é morta"; e que a defesa de nosso irmão é mandamento; e não opção de quem segue a Cristo. Mas nós preferimos o "positivo e a esperança", a oração como dever cumprido e não como base de orientação de como agir... Trocamos a compaixão do Cristo, que agia pelos doentes, pela fé dos fariseus; e entre cruzes, livros santos e santinhos, gritamos: Somos raça eleita de Deus...E então, nós rimos de tudo...

Em um grupo de whats, após a notícia de que já contabilizávamos mais de 2.000 mortes, vi alguém dizer: " Vai Brasil, rumo aos 3.000"... e isso me entristeceu de tal modo, que eu, que sempre fui de reagir de "bate-pronto", silenciei... porque estou cansada. Cansada de ver meu país virar o escárnio do mundo e ao invés de mudança, agir com a infantilidade fraticida e dizer: " E daí? Não me importa o que os outros pensam de mim...todos morrem um dia, é a vontade de Deus." Na verdade, não é que não entendemos...nos recusamos a entender.

Aprender, analisar seus erros e mudar, tem nome duplo: responsabilidade e maturidade. Hoje, nossa dificuldade com aprendizado e a recusa em crescer como povo, encontrou uma voz que foi eleita e compôs um governo, moldado na propagação da mentira, da morte e na defesa de seu grupo de poder.... E qualquer cristão, com o mínimo conhecimento da palavra, sabe a quem serve quem vive assim: ao maligno...

Mas líderes políticos, religiosos, grupos econômicos e muitos a nosso lado, se recusam a dizer: errei e tenho responsabilidade sobre esse erro... vamos corrigir isso. Preferem ficar inertes... indiferentes até a morte que sufoca, em seus castelos de barro, que se desmancham pela força, não da água, mas do sangue daqueles que ignoramos... Aqueles mesmos, que nos templos religiosos ou nos templos do futebol, chamamos de "irmãos". E daí dizemos: "Deus o sabe"... não, nem Deus nos compreende...

Somos a piada amaldiçoada do mundo... Em breve seremos os párias, indesejados em qualquer nação, pois nossa risada é incompreensível ao mundo civilizado... Ela é o escárnio para as valas que cavamos e que agora se aproximam de nossas casas e famílias... Ainda é possível rir? Rir de quem, cara pálida?

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