Alberto Consolaro

Beijo e saliva também passam Covid

10/07/2021 | Tempo de leitura: 3 min

O primeiro beijo pode ser fatal... em todos os sentidos! Beijo de língua pode fazer apaixonar, mas os selinhos também são infectantes! No beijo se adquire até 1 bilhão de microrganismos de 300 espécies. Para ser palpável, imagine isto em euros! São bactérias, vírus, parasitas e fungos que misturados com saliva, formam uma gosma lubrificante, gostosa e viscosa que nos fazem esquecer “os perigos desta vida pra quem tem paixão”, como cantava o inesquecível Vinicius de Moraes.

Muitas doenças são obtidas pelo beijo como HPV, herpes, mononucleose, sífilis, herpangina e outras. Uma saliva ou “gosma” alheia pode ficar em nossa boca por até 3 dias! Para se prevenir das surpresas patológicas do beijo, podemos aplicar os dois critérios chamados de “protocolo tô fora!”.

PROTOCOLO “TF”

O critério número 1 é a Intimidade. Beijar na boca é o máximo da intimidade se compararmos com sexo praticado apenas com os órgãos sexuais! Beijar na boca é dizer ao outro: vou correr todos os riscos e te beijar na parte mais contaminada do corpo, por onde passa de tudo que possamos imaginar nesta vida! Antes de beijar pergunte a você: - eu tenho toda esta intimidade para beijar na boca deste vulcão biológico de elevado grau de contaminação? Vale a pena trocar saliva com esta pessoa?

O critério número 2 é a Seletividade. Antes de beijar pergunte a si: como deve ser a boca desta pessoa, vale a pena arriscar? Como deve estar a superfície da língua? Estará com ou sem saburra? E os dentes estarão com placa? Se fica até 3 dias a saliva de uma outra pessoa na boca, será que tem uma terceira saliva ali? Especialistas estabeleceram que “promiscuidade” nos relacionamentos se estabelece quando se tem mais de dois parceiros sexuais por ano. O que significa dizer que o risco biológico de se contaminar é altíssimo acima disto!

Se depois deste protocolo, ainda decidir que vai beijar, você está quase apaixonado! Se o beijo for bom demais, estarás dominado pelo desejo de amar! E é bom demais.

BEIJO E COVID

O coronavírus infecta e replica ativamente dentro das células glândulas salivares e é liberado em grandes quantidades na saliva, o que permite até fazer testes para diagnóstico. Isto foi demonstrado neste mês em trabalho de cientistas da Medicina e da Odontologia da USP em São Paulo e publicado no conceituado “The Journal of Pathology” (v254, issue3, 239-43, July 2021). As glândulas salivares atuam como fábricas de coronavírus para a boca.

Se comer, escovar os dentes e a língua, diminuísse naquele momento a quantidade de vírus, em seguida imediatamente saem uma outra quantidade enorme para a boca. O mesmo ocorre com os enxaguantes. As glândulas salivares podem ser maiores como a parótida, submandibular e sublingual, mas temos as milhares de pequenas glândulas localizadas logo abaixo da mucosa. Se puxar o lábio seco por alguns minutos na frente do espelho, vai minando gotas de saliva em alguns pontos. O coronavírus também é produzido no interior nos tecidos gengivais.

REFLEXÃO FINAL

O coronavírus pode entrar e passar pela boca e não necessariamente, pelo nariz. A boca pode ser a principal fonte de entrada. Logo, durante o beijo, pode se passar o vírus pela saliva a uma outra pessoa se ainda não foi contaminada! Estudos relatam que esta produção bucal ocorre em pacientes com sintomas leves e em assintomáticos por até 30 dias depois!

Na hora do beijo, o protocolo sugerido previne outras doenças citadas, mas também a Covid-19. Fiquemos espertos, pois a pandemia ainda não acabou, infelizmente!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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