
Nos últimos anos, ipês brancos nas ruas e avenidas de Bauru têm florescido duas vezes em um curto período de tempo, inclusive "invadindo" o calendário dos ipês rosas - como foi o caso de 2021. Normalmente, essas flores desabrocham uma única vez no ano. O motivo pode estar relacionado às mudanças climáticas, especialmente com as fortes ondas de calor do interior paulista.
Segundo o diretor do Jardim Botânico de Bauru, Luiz Carlos de Almeida Neto, geralmente a ordem natural de florescimento seria rosa (entre junho e julho), amarelo (agosto) e, por último, branco (entre agosto e setembro). No entanto, ele afirma ter notado a florada branca ainda no final de julho, concorrendo com os rosas, e, agora, novamente em setembro. "Não é uma constatação científica, é apenas uma observação, até porque a gente trabalha com isso. Essa primeira florada branca antecipada foi tímida. Tanto que a flor nem cai, ela seca na árvore mesmo e não dá fruto. Isso é péssimo para a natureza, porque causa um desequilíbrio na produção de frutos e sementes. E aí, em setembro, o ipê gasta energia novamente para dar a florada na época certa. Aí sim fica exuberante, com muitas flores", explica.
Uma das hipóteses levantada pelo diretor do Botânico é a soma de vários fatores como as temperaturas mais elevadas, a falta de chuva e a queda na umidade relativa do ar. "Tudo isso estimula a planta a dar flor, ela acha que está na hora dela. Para o paisagismo pode até ser bonito, mas para o ipê, não." Neste ano, entre junho e agosto, o Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet) registrou 72,1 milímetros de chuva. No ano passado, no mesmo período foram 155,2 milímetros.
CALENDÁRIO CONFUSO
O diretor do Botânico diz ter notado que nos últimos anos tem sido cada vez mais difícil ver os ipês florescendo na ordem esperada. "Muitas vezes a gente percebe que essas árvores estão dando flores quase na mesma época. Elas perderam um pouco a sequência lógica", afirma. "Para o paisagismo pode ser bom, mas na verdade a planta está sofrendo um estresse, ainda mais quando ela floresce duas vezes na mesma estação", explica Almeida Neto.